Não resta dúvida que os títulos que dão sequência a
Anne de Green Gables não têm o mesmo espírito animador que dá vida ao primeiro
livro. Anne de Avonlea talvez seja o que mais se aproxima daquele
sucesso. Anne da Ilha, para mim, foi decepcionante. Anne de Windy Poplars e Anne e a Casa dos Sonhos são razoáveis. Mas o que dizer
deste Anne de Ingleside? Mais do mesmo? Um livro desnecessário? Uma obra
sem claros propósitos?
Anne de Ingleside (1939), embora seja o sexto livro da série, foi na verdade o último
publicado em vida de Montgomery. A autora havia lançado inicialmente meia dúzia
de livros sobre Anne e seus filhos (desconsiderando-se os dois volumes das Crônicas
de Avonlea) entre 1908 e 1921. O sucesso da série, no entanto, fez com que
a autora retornasse àquele universo adorável de Anne quinze anos depois. Daí
surgiram mais dois livros: Anne de Windy Poplars e Anne de Ingleside.
Já me deparei com reclamações de vários leitores
sobre Anne de Windy Poplars, justamente por ele não seguir a mesma linha
dos três romances anteriores, já que, pela cronologia do enredo, Windy
Polars é o quarto livro. O fato é que a maioria desses leitores ignora as
circunstâncias de publicação da série. Contudo, a meu ver, Anne de Ingleside
é muito mais problemático.
Trata-se de mais um romance episódico, que mais se
assemelha a um livro de contos infantis. Não há, como nos livros anteriores,
episódios de destaque que se desenvolvam ao longo dos capítulos. As histórias e
os novos personagens soam repetitivos. Quem já leu os cinco livros anteriores
deve lembrar de uma ou outra “velha chata que enche o saco”, como também dos dotes
casamenteiros de Anne perante “jovens cujos pais obstam por sua felicidade
conjugal”.
A “velha chata” da vez é Mary Maria, uma tia de
Gilbert que decide passar algumas semanas com o sobrinho, mas que parece estar
disposta a ficar a vida toda. A presença dela no livro é tão insuportável para
os personagens quanto para o leitor. Mas o mais lamentável é que sua inserção no
enredo não acrescenta em nada que seja relavante para o livro.
Como já disse, Anne de Ingleside se
assemelha a um compilado de histórias para crianças. Aqui, como já era de se
supor, essas histórias são protagonizadas pelos seis filhos de Anne. Porque
sim, Anne teve seis filhos: Jem, Walter, as gêmeas Nan e Di, Shirley e Rilla. De
todos, Shirley é o único que não ganha uma história própria, sendo citado
poucas vezes, até menos do que Rilla, a caçula, que protagoniza apenas um dos
contos do conjunto.
Os filhos de Anne protagonizam situações bastante embaraçosas
e improváveis para qualquer criança comum, mas essas aventuras nem de longe se
assemelham com as trapalhadas divertidas da pequena Anne Shirley. As histórias
não são de todo ruins, mas quando se chega a essa altura da série, a
expectativa acaba sendo outra. Ao menos foi o que me ocorreu.
Nos capítulos finais, quando talvez a própria
autora já estivesse enfastiada de suas criançadas, o livro se concentra no
casal principal, com direito a uma Anne bem ciumenta perante o reaparecimento de
Christine Stuart. Lembram-se dela? Tudo bem, eu também não lembrava. Mas
acreditem: era aí que o livro devia ter começado e, sendo possível, se mantido
no mesmo nível até o fim. A última das histórias de Anne de Ingleside é maravilhosa;
não só por ser muito boa, mas por felizmente ser a última.
Avaliação: ★★
Daniel
Coutinho
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