sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Anne de Ingleside (Anne of Ingleside), de Lucy Maud Montgomery - RESENHA #165

Não resta dúvida que os títulos que dão sequência a Anne de Green Gables não têm o mesmo espírito animador que dá vida ao primeiro livro. Anne de Avonlea talvez seja o que mais se aproxima daquele sucesso. Anne da Ilha, para mim, foi decepcionante. Anne de Windy Poplars e Anne e a Casa dos Sonhos são razoáveis. Mas o que dizer deste Anne de Ingleside? Mais do mesmo? Um livro desnecessário? Uma obra sem claros propósitos?

Anne de Ingleside (1939), embora seja o sexto livro da série, foi na verdade o último publicado em vida de Montgomery. A autora havia lançado inicialmente meia dúzia de livros sobre Anne e seus filhos (desconsiderando-se os dois volumes das Crônicas de Avonlea) entre 1908 e 1921. O sucesso da série, no entanto, fez com que a autora retornasse àquele universo adorável de Anne quinze anos depois. Daí surgiram mais dois livros: Anne de Windy Poplars e Anne de Ingleside.

Já me deparei com reclamações de vários leitores sobre Anne de Windy Poplars, justamente por ele não seguir a mesma linha dos três romances anteriores, já que, pela cronologia do enredo, Windy Polars é o quarto livro. O fato é que a maioria desses leitores ignora as circunstâncias de publicação da série. Contudo, a meu ver, Anne de Ingleside é muito mais problemático.

Trata-se de mais um romance episódico, que mais se assemelha a um livro de contos infantis. Não há, como nos livros anteriores, episódios de destaque que se desenvolvam ao longo dos capítulos. As histórias e os novos personagens soam repetitivos. Quem já leu os cinco livros anteriores deve lembrar de uma ou outra “velha chata que enche o saco”, como também dos dotes casamenteiros de Anne perante “jovens cujos pais obstam por sua felicidade conjugal”.

A “velha chata” da vez é Mary Maria, uma tia de Gilbert que decide passar algumas semanas com o sobrinho, mas que parece estar disposta a ficar a vida toda. A presença dela no livro é tão insuportável para os personagens quanto para o leitor. Mas o mais lamentável é que sua inserção no enredo não acrescenta em nada que seja relavante para o livro.

Como já disse, Anne de Ingleside se assemelha a um compilado de histórias para crianças. Aqui, como já era de se supor, essas histórias são protagonizadas pelos seis filhos de Anne. Porque sim, Anne teve seis filhos: Jem, Walter, as gêmeas Nan e Di, Shirley e Rilla. De todos, Shirley é o único que não ganha uma história própria, sendo citado poucas vezes, até menos do que Rilla, a caçula, que protagoniza apenas um dos contos do conjunto.

Os filhos de Anne protagonizam situações bastante embaraçosas e improváveis para qualquer criança comum, mas essas aventuras nem de longe se assemelham com as trapalhadas divertidas da pequena Anne Shirley. As histórias não são de todo ruins, mas quando se chega a essa altura da série, a expectativa acaba sendo outra. Ao menos foi o que me ocorreu.

Nos capítulos finais, quando talvez a própria autora já estivesse enfastiada de suas criançadas, o livro se concentra no casal principal, com direito a uma Anne bem ciumenta perante o reaparecimento de Christine Stuart. Lembram-se dela? Tudo bem, eu também não lembrava. Mas acreditem: era aí que o livro devia ter começado e, sendo possível, se mantido no mesmo nível até o fim. A última das histórias de Anne de Ingleside é maravilhosa; não só por ser muito boa, mas por felizmente ser a última.

Avaliação: ★★

Daniel Coutinho

 

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