Como estou resolvido a ler toda a série “Anne”, de
Lucy Maud Montgomery, passei ao segundo livro, Anne de Avonlea (1909),
onde encontramos nossa carismática protagonista alguns anos mais velha.
Anne, agora com dezessete anos, é a professora da
escola de Avonlea. Como visto no primeiro livro, a garota abriu mão de seguir
carreira acadêmica para evitar a venda de Green Gables e auxiliar Marilla em
sua enfermidade. Os desafios de sua iniciação profissional e a aparição de
novos personagens marcam este segundo volume da série.
Percebi que, tal como no livro anterior, Anne de
Avonlea segue um modelo episódico, compondo uma coleção de fatos e
situações sucessivas; mas, diferente de Anne de Green Gables, aqui nem
sempre a garotinha ruiva será a figura central. Essa dispersão da trama sugere
certa falta de unidade no enredo, mas a autora, com seu estilo ágil e delicado,
preserva a atenção do leitor.
Desses episódios, convém citar a chegada de Mr.
Harrison a Avonlea, a adoção dos gêmeos Davy e Dora e a descoberta da moradora
de uma casa de pedra.
Mr. Harrison, o novo vizinho dos Cuthbert, é tido
por todos como um solteirão mal-humorado. Inimigo da limpeza, o homem vive
sozinho na companhia de Ginger, um papagaio falastrão. Anne de Avonlea
abre com um desentendimento divertido entre ele e Anne, mas que logo dará lugar
a uma incipiente amizade.
Davy e Dora eram filhos de um primo de Marilla.
Após a morte da mãe, os gêmeos, de apenas seis anos, são acolhidos em Green
Gables. Enquanto Dora é uma menina dócil e tranquila, Davy é travesso e
indisciplinado. O garoto, contudo, acaba cedendo às meiguices da jovem
professora e assume uma disputa declarada com Paul Irving, o aluno favorito de
Anne.
Miss Lavendar, a excêntrica moradora da casa de
pedra, é descoberta por Anne quando esta e Diana erram o caminho que as levaria
à outra residência. Trata-se de uma solteirona de grande imaginação que
costumava, com sua criada Charlota IV, preparar o chá da tarde para visitantes
que ela fantasiava receber. Pouco depois, Anne acaba descobrindo que Miss
Lavendar fora o primeiro amor do pai de Paul Irving.
Há tanta matéria em Anne de Avonlea quanto
em seu antecessor. Além desses episódios citados, acompanhamos o
desenvolvimento da relação entre Anne e Gilbert Blythe, a luta de Anne para
educar Davy e o problemático Anthony Pye, os sucessos da Sociedade de Melhorias
de Avonlea e, finalmente, as venturas e desventuras de personagens já
conhecidos como os Allan e Mrs. Lynde.
Mesmo sem ser tão grandioso quanto o primeiro livro
da série, este Anne de Avonlea nos mantém cativados e curiosos pela
trajetória de Anne Shirley, principalmente por mostrar que, mais adiante, uma
curva no caminho pode fazer com que tudo mude.
Avaliação: ★★★★
Daniel
Coutinho
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