Anne Shirley, a protagonista, já está devidamente
inserida naquela caixinha especial onde guardo todas as crianças apaixonantes
que tenho encontrado na literatura, como Zezé, Marcelino, Tistu, dentre outros.
De todos, Anne é de longe a mais falante, não poupando palavras toda vez que
tenta expressar sua empolgação perante as belezas do mundo.
Não há como antipatizar uma persoangem como Anne.
Desde sua primeira aparição na história, ela nos conquista com seu palavreado minucioso,
com seu entusiasmo perante as coisas mais simples da vida e com sua postura
otimista que não esmorece diante das dificuldades.
A trama de Montgomery nos envolve às primeiras
cenas, quando os irmãos Cuthbert, Marilla e Matthew (ambos solteiros) decidem
adotar um menino para ajudar nos trabalhos em Green Gables, fazenda onde
residem. Um mal entendido, porém, acaba colocando Anne no caminho desses irmãos
que, motivados pelo carisma da menina, decidem por ficar com ela.
Anne Shirley, movida por sua inesgotável
imaginação, idealiza tudo à sua volta, batizando os lugares por onde passa e
criando fantasias em torno de sua nova vida na cidade de Avonlea. Matthew, que
sempre fora tímido e ensimesmado, é quem mais se deixa dominar pela magia de
Anne. Marilla, embora rabugenta e conservadora, também cria uma afeição sincera
pela pequena órfã, esforçando-se para dar-lhe uma boa criação.
Pouco a pouco, Anne vai grangeando a amizade de
todos em Avonlea, sobretudo de Diana Barry, sua melhor amiga e parceira de
aventuras. Mas, se por um lado, a aguda imaginação da filha adotiva dos
Cuthbert é motivo de diversão entre suas companheiras de escola, por outro,
acaba gerando uma série de conflitos domésticos que perturbarão sobretudo a
impaciente Marilla.
Mesmo sendo uma criança otimista e espirituosa,
Anne é complexada por ser ruiva e sardenta, julgando-se menos bela por isso; quando
Gilbert Blythe, o primeiro aluno da turma, faz piada com a cor de seu cabelo, ela
imediatamente cria uma barreira que impossibilita qualquer tipo de relação
entre os dois, o que desperta também uma contínua rivalidade entre eles sobre quem
seja o mais inteligente da turma.
É nesse ritmo bem humorado e nessa atmosfera
instigante que L. M. Montgomery conduz sua narrativa, sempre entremeada de
belas reflexões e frases dignas de nota. Sua prosa é de uma leveza que se
mantém uniforme praticamente em todo o livro, prescindindo de passagens muito dramáticas
ou digressões analíticas.
Não há em Anne de Green Gables a clara pretensão
de se tornar um clássico. O que imortalizou Anne em nosso imaginário é a vitalidade
que exsuda dessa protagonista, cuja imaginação era tão grandiosa e que tinha
tanto a dizer, que um único livro seria insuficiente para contê-la.
Avaliação: ★★★★★
Daniel
Coutinho
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