Devia estar ainda no ensino médio quando li Rosa, Vegetal de Sangue pela primeira
vez. Lembro de ter ficado tão impressionado, que desejei ler outras coisas do
autor imediatamente, mas, por uma ou muitas casualidades, até hoje nunca li novos
títulos do Cony. Há dois anos, quando ele morreu, fiquei pensando: “Puxa! Tenho
negligenciado aquele que talvez fosse meu prosador contemporâneo favorito”.
Daí, antes de passar à leitura de outras obras suas, decidi que teria de reler
e reavaliar as impressões que me foram causadas por aquela primeira
experiência.
A princípio de conversa, não entendo por que
classificam Rosa, Vegetal de Sangue (1979)
como obra infantojuvenil. Trata-se de uma novela baseada numa tragédia verídica.
O tema, a linguagem, a proposta mesmo da narrativa seguem um modelo mais
condizente com o público adulto. Esta impressão, que já tivera na primeira
leitura, reforçou-se ainda mais na releitura.
Rosa Maria é uma jovem de vinte anos que mora
com sua família num subúrbio carioca. Eles vivem de uma pensão miserável a que
o pai de Rosa teve direito após uma doença cardíaca. A fim de melhorar a
situação financeira da casa, Rosa abandona os estudos e vai trabalhar de
recepcionista num jornal. É lá que conhece Lobianco, jornalista de meia-idade
responsável pela coluna internacional.
Lobianco oferece seu apoio à garota,
providenciando uma moradia mais cômoda à família dela, além de responsabilizar-se
pelos estudos de Almir, irmão caçula de Rosa. Os pais desta acabam fazendo
vista grossa ao fato de Lobianco ser casado, satisfeitos com os benefícios
proporcionados pelo amante da filha. Mas Lobianco, desejoso de possuir Rosa
mais ao seu dispor, obriga a jovem a pedir demissão e a leva para um
apartamento onde ela passa a viver sozinha.
Com a maior parte do tempo sem nada para fazer,
Rosa começa a escrever um diário, onde desabafa principalmente seu sentimento
de solidão, ao ponto de sentir-se um vegetal naquele isolamento. Mas, pouco a
pouco, outras pessoas vão entrando em sua vida, e ela vai sentindo cada vez
mais necessidade de viver; até que uma fatalidade acontece, e seu diário é logo
descoberto como prova fundamental para a solução de um crime.
Rosa, Vegetal
de Sangue é daquelas experiências breves, mas impactantes. Os
primeiros capítulos já cativam o leitor de tal forma, que é praticamente
impossível deixar o livro de lado. Além do que, a trama é movida por uma
linguagem que nos leva a refletir diversas questões, sobretudo as relações
artificiais.
Algumas passagens do livro são angustiantes,
daquelas que podem provocar incômodo em leitores mais sensíveis. Contudo, há
tanta verdade e franqueza em cada página, especialmente nos registros da
protagonista, que se torna inevitável uma autoanálise sobre quem nós somos,
quem amamos e quem realmente queremos do nosso lado.
Avaliação: ★★★★★
Daniel Coutinho
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