domingo, 14 de fevereiro de 2021

Fortaleza Digital (Digital Fortress), de Dan Brown - RESENHA #153

Dan Brown é mais um daqueles escritores que, não obstante venderem como água, são taxados de repetitivos, artificiais e rasos. Há pouco tempo tive a oportunidade de ler Paulo Coelho, outro integrante dessa turma, e não julguei a leitura d’O Alquimista uma perda de tempo. A avaliação que dei à leitura de Dan Brown ombreou o best-seller brasileiro, ainda que tenha me agradado mais deste último.

Eu classificaria o norte-americano Dan Brown como “literatura de entretenimento” e Paulo Coelho como “literatura esotérica”. Entre uma e outra, simpatizo mais a primeira. Entretanto, no presente caso, O Alquimista se sobrepõe ao Fortaleza Digital no que se refere à sua forma final, mas as avaliações de ambos se equiparam quando notamos que Dan Brown é mais divertido e envolvente.

Eu, particularmente, não condeno nenhuma proposta de literatura, desde que esteja claro um investimento mínimo por parte do autor. Se, contudo, o livro, além de uma narrativa ruim, possui problemas de revisão, coerência e ritmo, poderemos sem culpa lançá-lo à fornalha ardente rs.

No caso de Dan Brown, são inegáveis os problemas de sua escrita, certamente mais acentuados em Fortaleza Digital (1998), por ser livro de estreia. Os personagens são planos e reconhecíveis em qualquer suspense de sessão da tarde. Há uma corrida para se combater um problema aparentemente insolúvel que ironicamente terá um desfecho trivial. Temos a reviravolta clássica do vilão que se torna vítima e vice-versa. Em suma, temos um passatempo garantido que, embora prenda nossa atenção por várias horas, estará irremediavelmente esquecido depois que lermos outras duas ou três obras do mesmo gênero.

Na trama de Fortaleza Digital, a genial criptógrafa Susan Fletcher é convocada para resolver um problema de consequências astronômicas: a NSA (Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos) depara-se com um arquivo externo que não pode ser desencriptado. Mesmo o TRANSLTR, supercomputador secreto de dois bilhões de dólares, não é capaz de quebrar o código secreto.

O arquivo inquebrável, chamado de Fortaleza Digital, é uma criação do japonês Ensei Tankado, que o idealizou como uma resposta afrontosa ao uso do TRANSLTR. Tankado discordava que o Governo tivesse acesso irrestrito às informações e mensagens pessoais de todos; por esse motivo, ele chantageia a NSA, exigindo que a existência do TRANSLTR seja divulgada em troca da chave do Fortaleza Digital.

A situação se complica quando Tankado é encontrado morto na Espanha, pois ele já havia deixado a NSA de sobreaviso que, em caso de sua morte, a chave secreta seria publicada na internet por seu cúmplice. Além disso, antes de morrer, o japonês supostamente teria confiado um anel à pessoa que o socorreu, joia esta cuja gravação todos acreditam também ser a chave do Fortaleza Digital.

Nessas circunstâncias, enquando Susan tentará descobrir o cúmplice de Tankado, David Becker, seu noivo, sairá em busca do tal anel. Nem preciso dizer que o livro se constrói de mil obstáculos para que nossos mocinhos fiquem ocupados por mais de trezentas páginas. Se por um lado Susan se envolve numa teia de mentiras, por outro David depara-se com o obstáculo do anel estar convenientemente sempre com outra pessoa.

A saga pela descoberta da chave do Fortaleza Digital é sem dúvida divertida, já que parte de uma das fórmulas mais antigas e batidas das histórias de entretenimento. Lembra quando todos ansiávamos para que Goku reunisse as esferas do dragão? Então… A meu ver, o problema maior do livro, mesmo enquanto passatempo, está na forma como o autor finaliza a corrida frenética de seus personagens. Ao final temos aquela impressão de “muito barulho por nada”.

Fortaleza Digital será um ótimo passatempo para quem curte suspense investigativo, sobretudo para aqueles que não tiverem lido outros títulos do autor. Se não é mais que puro entretenimento, ao menos sugere questionamentos relevantes sobre o direito à privacidade e no quanto podemos confiar nas autoridades que nos governam. Basta lembrarmos da máxima favorita de Tankado: “Quem irá guardar os guardiões?”.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho 

P.S.: Um puxão de orelhas à editora Arqueiro, que não se deu ao trabalho de atualizar a ortografia da nova edição. 

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