Anne de Windy Poplars (1936) veio curar-me da má impressão deixada pelo
terceiro livro da série “Anne”. Embora Anne da Ilha não tenha sido uma
leitura ruim, seu sucessor (considerando a cronologia do enredo e não a ordem
de publicação) agradou-me consideravelmente mais.
Este quarto livro segue o formato de romance
episódico dos anteriores (desconfio que toda a série seja assim). No entanto,
as histórias retratadas neste volume, em sua maioria, pareceram-me quase tão
interessantes quanto as dos dois primeiros títulos da série, que seguem sendo
os meus favoritos até então.
Enquanto Gilbert Blythe estuda Medicina em
Kingsport, Anne Shirley assume a função de diretora escolar em Summerside.
Nossa ruivinha, contudo, encontra dificuldades para alojar-se na nova cidade,
pois desbancara um membro da importante família Pringle que aspirava pelo mesmo
cargo conquistado por Anne.
Após algumas buscas, a órfã de Green Gables acaba
sendo acolhida em Windy Poplars, lar de duas viúvas, uma criada e um gato. Tia
Kate e Tia Chatty são amáveis com Anne, e, embora sejam as donas do lugar,
deixam-se dominar pela autoridade de Rebecca Dew, uma solteirona que, a
despeito de sua aparente dureza, recebe Anne acolhedoramente.
O desafio maior de Anne, no entanto, consiste em
lidar com a hostilidade dos Pringles, que tornam sua vida impossível em Summerside.
Mesmo os alunos da escola de ensino médio, influenciados pelos rancores de seus
maiores, assumem um comportamento indelicado perante a nova diretora. Como se
não bastassem todos esses desafetos, Katherine Brooke, a vice-diretora,
alimenta uma antipatia gratuita por sua superiora.
Mesmo com mil problemas de adaptação em Summerside,
a sensibilidade de Anne não permite que ela ignore uma das personagens mais
interessantes deste quarto volume. Elizabeth Grayson é uma garotinha de oito
anos que vive na companhia de sua bisavó após o falecimento da mãe e o abandono
do pai. A pobre criança, porém, sente-se rejeitada e não recebe carinho de
ninguém, sendo mantida isolada na maior parte do tempo.
Todos esses sucessos são relatados por Anne através
de cartas endereçadas a Gilbert, mas nem todos os capítulos do livro seguem
esse formato epistolar. Ao longo da obra, vamos acompanhando diversos episódios
protagonizados pelos habitantes de Summerside, pois Anne, tal como no livro
anterior, funciona mais como uma mediadora de conflitos.
Senti falta de uma maior participação de nossos queridos
personagens de Avonlea, embora fique claro que a proposta de Anne de Windy
Poplars seja outra, o que também explica a ausência das respostas de
Gilbert às cartas de sua noiva. Em contrapartida, boa parte dos causos deste
quarto livro são repletos de carisma e bom humor.
A leitura de Anne de Windy Poplars veio
confirmar para mim mesmo o quão significativo tem sido acompanhar a trajetória
de Anne Shirley, ainda que os livros da série não sejam inteiramente voltados
para ela. Tornou-se mais compreensível a pretensão da autora com essas
publicações. Lucy Maud Montgomery é antes de tudo uma contadora de histórias; Anne
Shirley, por sua vez, uma facilitadora de tantas criações.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
***
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