sexta-feira, 8 de julho de 2022

Agulha em Palheiro, de Camilo Castelo Branco - RESENHA #186

Pouco a pouco vou conhecendo mais da obra do grande Camilo Castelo Branco, o escritor mais prolífero do Romantismo em Portugal. Desta vez, li outra de suas novelas sentimentais, Agulha em Palheiro (1863) que, embora não tenha me agradado tanto quanto Os Brilhantes do Brasileiro, soube ser simpática a seu modo.

Pelo que tenho lido de Camilo, acredito que seu maior talento não era fabular tramas envolventes e impressionantes. Seus romances valem mais pela escrita notadamente marcada pelo estilo tão particular do autor. Há certa graça no narrador camiliano que infelizmente não envelheceu bem, e que só parecerá atrativa aos apreciadores de antiguidades, que nem eu.

Recomendo a quem pretende se aventurar pela prosa do autor de Amor de Perdição: não espere encontrar tramas e personagens cativantes. O protagonismo está sempre no próprio narrador, que vem a ser a figura mais empolgante das histórias, podendo refletir, emocionar e divertir o leitor, não necessariamente nessa ordem.

Agulha em Palheiro conta a história de Fernando Gomes, moço pobre, filho de um sapateiro e uma colchoeira. O pai de Fernando, Francisco Lourenço, mesmo sendo uma pessoa simples, possuía inclinações literárias e ambicionava um futuro brilhante para o filho. Por esse motivo, Fernando foi incentivado a estudar e concluiu Direito em Coimbra.

Mesmo sendo inteligente e tendo se formado com louvor, Fernando sofre o preconceito de classe, por ser filho de sapateiro. Além das zombarias dos outros acadêmicos, o jovem bacharel enfrenta dificuldades para estabilizar-se profissionalmente. Desiludido com os projetos sonhados por seu pai, Fernando pede permissão para viajar por um tempo, o que é logo concedido.

Passeando por diversos pontos da Europa, Fernando chega a Florença, onde é apresentado a Bártolo de Briteiros e suas duas filhas: Eugênia e Paulina. Trata-se de uma família portuguesa expatriada, cujo pai, após enviuvar, deseja passar o resto da vida na companhia das filhas, evitando ao máximo que estas contraiam matrimônio.

Fernando apaixona-se perdidamente por Paulina, a filha mais moça de Briteiros, sendo prontamente correspondido. Mas, além das dificuldades impostas pelo próprio pai da jovem, o filho do sapateiro receia falar de suas origens para a amada. Não bastassem todos esses obstáculos, a chegada de um rival agrava a situação dos namorados, uma vez que a proposta de casamento do Marquês de Tavira, a quem Bártolo reconhece como primo, agrada ao velho português, pois o parente promete viver com o sogro.

Nesse ponto da narrativa, um novo personagem se destaca. Hipólito de Almeida, que estudara com Fernando, sendo também de origem humilde, prontifica-se a auxiliar o amigo em seu dilema amoroso. Hipólito e Paulina acreditam que uma fuga seria a melhor saída para o problema, mas os pundonores do filho do sapateiro acabam obstando a execução de tal projeto.

É quando Camilo toca nessas questões de honra que a narrativa dialoga com seu título. Fernando, do alto de sua probidade, é como uma agulha no palheiro, um tipo raro que sobrepõe sua honradez acima dos próprios sentimentos. O ponto alto do romance é justamente quando nos deparamos com o dilema entre razão e emoção.

Agulha em Palheiro, considerando-se o panorama romântico da literatura de língua portuguesa, não é obra que se destaca. Dentro do que se propõe, é um livro aceitável, mas que nada ultrapassa ao limite do que já se espera de uma novela sentimental.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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