domingo, 19 de março de 2023

Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice), de Jane Austen - RESENHA #196

É uma verdade universalmente conhecida que não amar um livro popular resulta em ser julgado ferozmente por muitas pessoas. Então..., eu não amei Orgulho e Preconceito, a obra-prima de Jane Austen, livro cujo grande mérito é, além de continuar sendo popular depois de duzentos anos, ser uma porta de entrada à literatura clássica para grande número de leitores.

Não vim aqui gastar meu precioso tempo falando mal de uma obra literária incontestavelmente importante. Até porque não penso que Orgulho e Preconceito (1813) seja um livro ruim. Para mim, de fato, foi uma grande surpresa que o romance não tenha me empolgado da forma esperada, levando em conta todos os prós que o cercavam: clássico inglês, romance romântico, amado por milhões de leitores no mundo todo, inspiração para diversas adaptações, etc.

Diante de todo esse contexto animador, era muito natural que expectativas fossem criadas. Quando li Razão e Sensibilidade anos atrás, não tendo amado igualmente, pensei: “Mas Orgulho e Preconceito será a glória!”. Mal sabia eu que o sol austeniano derreteria minhas asas de cera.

Não sei por que até hoje me impressiono com esse tipo de situação. Por mais que seja frustrante, é muito natural e compreensível que as pessoas revelem gostos variados e que, portanto, tenham a sensibilidade tocada em diferentes pontos. O que está parecendo é que Jane Austen não será a santa da minha devoção, embora ainda restem mais quatro romances por ler, além de outras obras menores. Sim, este leitor teimoso pretende ler todas elas, e preserva a esperança de trazer boas notícias nos próximos anos.

Precisarei fazer o resumo da obra? Em linhas gerais, o romance é sobre o orgulhoso Mr. Darcy e a maravilhosa Elizabeth Bennet, que não vou chamar de preconceituosa simplesmente por julgar as pessoas a partir de uma primeira impressão. Quem não fizer o mesmo, que atire a primeira pedra! Mr. Darcy, de classe superior, a princípio rejeita Elizabeth, tratando-a com desdém, mas, pouco a pouco, vê-se obrigado a reconhecer o quão superiores são as qualidades morais da bela jovem, apesar da baixa posição social e de pertencer a uma família censurável.

Agora, senhoras e senhores fãs de Jane Austen e apaixonados por Mr. Darcy, precisamos conversar. Uma conversa séria, lógica e racional, aos moldes da que tive com os apreciadores de Heathcliff anos atrás. Longe de mim comparar esses dois “mocinhos”! Mr. Darcy é a personificação do bem ao lado do odioso personagem de Emily Brontë. Porém, não posso compreender toda essa “lambeção” pelo proprietário de Pemberley. Eu o achei chatíssimo, desinteressante e uma companhia tediosa. Elizabeth seguramente merecia alguém melhor.

Elizabeth Bennet, preciso admitir, é uma personagem grandiosa e possivelmente a melhor criação de Jane Austen. É uma moça inteligente, sagaz e observadora, além de prudente e educada sem ser bobinha ou controlável. A postura dela em relação aos pais, mesmo conhecendo seus defeitos, é admirável. Seu olhar atento às irmãs não é menos digno de elogio. Sua postura firme e empoderada, diante de personagens detestáveis como Miss Bingley e Lady Catherine, rende os episódios mais catárticos do romance.

A meu ver, os maiores pecados de Orgulho e Preconceito são dois. O primeiro é a falta de dinâmica na construção dos episódios. O ritmo do livro, em diversos momentos, parecia arrastar-se por capítulos inteiros. Essa má impressão certamente foi agravada pelo fato de me parecerem enfadonhos alguns episódios que talvez tenham funcionado melhor para outros leitores, como o casamento de Mr. Collins e a fuga de Lydia. O outro senão, talvez ainda mais grave, é o tratamento dado à transição dos sentimentos de Elizabeth por Mr. Darcy; o que nos faz crer que Jane Austen era defensora daquela máxima de que o amor está mais perto do ódio do que a gente geralmente supõe.

Imagino ter conseguido apontar as impressões mais marcantes da minha leitura de Orgulho e Preconceito. Próximo ano devo ler Mansfield Park. Digam-me lá, caros entusiastas da autora inglesa: posso acreditar num futuro risonho e promissor?

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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