Dando sequência à leitura da série “Anne”,
finalmente chegamos ao quinto livro. Anne e a Casa dos Sonhos (1917) difere
dos volumes anteriores por não ser um romance episódico. Nele não temos muitos
personagens novos ou uma sequência de várias situações embaraçosas a serem
resolvidas por nossa ruivinha. Aqui, o enredo se concentra basicamente em três
núcleos.
O primeiro deles é encabeçado pela protagonista da
série que, após uma longa espera de três anos, finalmente se casa com Gilbert Blythe.
O feliz casal decide viver no porto de Four Winds, próximo ao vilarejo Glen St.
Mary, pois o tio-avô de Gilbert, David Blythe, que era o médico do lugar, estava
se aposentando. Anne e Gilbert alugam uma bela casinha pertencente à Igreja
Presbiteriana. Essa “casa dos sonhos”, como Anne a chama, carrega o encanto de
ter sua fundação envolta numa romântica história de amor.
O contador desta bela história vem a ser James Boyd,
o capitão Jim, que pertence ao segundo núcleo do livro. Após uma trajetória agitada
por grandes aventuras em alto mar, o capitão Jim passa a ter uma vida sossegada
na companhia do Marujo, seu gato de estimação, ficando ainda responsável por
controlar o farol do porto de Four Winds.
O velho marinheiro preserva um manuscrito que chama
de “livro da vida”, onde guarda suas memórias, alimentando o desejo de um dia
encontrar um escritor hábil que possa transformá-lo num livro de verdade. Além
dos lances aventurescos de seu diário, o capitão Jim guarda para si a história
de seu único amor, contada para Anne num dos capítulos mais belos do romance.
O terceiro núcleo concentra-se na interessante
Leslie Moore. A beleza de Leslie chama a atenção de Anne desde o primeiro
momento. A maneira arredia como ela se porta, no entanto, só será esclarecida por
Cornelia Bryant, personagem secundária que permeia todos os núcleos. O marido
de Leslie, Dick Moore, perdera as faculdades mentais durante uma viagem a Cuba.
O homem forte e opressor do passado torna-se numa criança inquieta e desmemoriada,
vivendo sob os cuidados de uma esposa que nunca pudera amá-lo.
Anne e a Casa dos Sonhos comprova-nos a competência de sua autora para o
romance tradicional. Montgomery conduz os núcleos simultaneamente e com certa
facilidade que chega a surpreender. Por outro lado, talvez em atenção ao público
jovem que pretendia alcançar, algumas escolhas me pareceram um tanto forçadas,
sendo a mais problemática delas a reviravolta final que ocorre no núcleo de
Leslie.
Apesar de suas soluções rápidas e mirabolantes
(especialmente nos capítulos finais), Anne e a Casa dos Sonhos entrega
alguns dos episódios mais memoráveis de toda a série, como o casamento de Anne,
o funesto passado de Leslie e a melancólica história da Margaret perdida. É um
belo livro, sem dúvida.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
***
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