sábado, 7 de janeiro de 2023

TOP 8 - MELHORES LEITURAS DE 2022!!!

Em 2022 encarei um desafio interessantíssimo e felizmente o concluí com sucesso. Propus-me a ler exclusivamente livros da lendária “Coleção Saraiva”, da qual já falei com detalhes no meu antigo canal do Youtube. Impus ainda o critério de ler apenas livros que eu não possuísse em outras edições mais novas, privilegiando títulos que saíram com exclusividade na coleção e que já não são mais editados. Durante o desafio, tive basicamente duas dificuldades. Todos vocês sabem da minha paixão pela ficção brasileira oitocentista; embora a Saraivinha tenha um bom número de obras desse nicho, eu já havia lido todas rs. Tive pois que me contentar em revezar os autores estrangeiros com portugueses do século XIX e brasileiros do século XX. O outro obstáculo foi a diagramação dos livros, quase sempre ruim. O fato do meu tempo de leitura ser predominantemente noturno dificultava ainda mais o processo. Isso, aliado à minha nova rotina doméstica, contribuiu para que eu lesse menos que no ano passado. Contudo, ainda que não tenha lido um único livro “5 estrelas”, fiz leituras maravilhosas ao longo do ano, das quais separei oito para compartilhar com vocês. Vamos conferir?

 

# 8º lugar NAVIO ANCORADO, de Ondina Ferreira (4 estrelas)

Que surpresa que foi descobrir a prosa poética dessa autora brasileira tão injustamente esquecida! Navio Ancorado foi o livro mais delicado do ano. Há tanta poesia e reflexão nas suas páginas, que é preciso um estado de ânimo apropriado para um melhor aproveitamento da obra. Ercília é uma personagem que desperta um misto de sentimentos confusos no leitor, mas, principalmente após o desfecho do livro, é impossível não se sensibilizar com ela.

 

# 7º lugar ZADIG, de Voltaire (4 estrelas)

Minha primeira incursão pelo conto filosófico do francês Voltaire foi bastante satisfatória. Zadig é uma delicinha que diverte e instrui ao mesmo tempo. Até agora tenho a impressão de que li um livro maior em número de páginas, porque há tanta matéria nesta novelinha, que a torna mais impressionante que certos calhamaços. É um livro capaz de agradar muitos públicos, sem dúvida!

 


# 6º lugar O MOINHO SILENCIOSO, de Hermann Sudermann (4 estrelas)

Se Navio Ancorado foi o livro mais delicado do ano, O Moinho Silencioso deve ter sido o mais artístico. Da primeira à última página desta novela nota-se o cuidado estilístico do alemão Hermann Sudermann, outro grande escritor subestimado. Procurei o mais que pude por outros títulos dele em português, mas infelizmente nada encontrei. A história de Martin, João e Gertrudes é um verdadeiro espetáculo, que impressiona e comove de forma surpreendente.

 

# 5º lugar O VIGÁRIO DE WAKEFIELD, de Oliver Goldsmith (4 estrelas)

Esta foi a primeira leitura do ano, e lá já tive a certeza que figuraria aqui. O Vigário de Wakefield é um grande clássico que já foi mais apreciado. Acredito que em algum momento ele voltará às livrarias brasileiras, pois este livro do irlandês Oliver Goldsmith preserva a força das obras-primas que resistem ao tempo. Embora tenha sido uma leitura bastante prazerosa, tenho plena certeza de que deixei passar muita coisa, elementos até que aumentassem em valor o livro para mim. É certamente um romance para ser relido no futuro.

 

# 4º lugar O CRIME DE LORD ARTHUR SAVILE e outras histórias, de Oscar Wilde (4 estrelas)

Eis outro gigante da ficção irlandesa. De Oscar Wilde eu já tinha lido o maravilhoso Dorian Gray, mas conhecer as narrativas desta coletânea fez aumentar ainda mais minha admiração pelo autor. A novela que dá título ao livro e O Fantasma de Canterville são verdadeiras joias literárias que exigem releitura, de tão deliciosas que são! Não fosse um dos contos que integra o volume, eu teria dado “5 estrelas” facilmente.

 

# 3º lugar RAMONA, de Helen Hunt Jackson (4 estrelas)

Este foi o novelão do ano, sem dúvida! E vale lembrar que já serviu de argumento para uma telenovela mexicana com Kate del Castillo e Eduardo Palomo. Que experiência incrível que foi ler Ramona! A primeira parte do romance, que tem um curso mais tranquilo, chegou a me lembrar a prosa alencarina. A segunda parte, muito mais frenética, embora não tenha me agradado da mesma forma, tocou-me em vários momentos, sobretudo no final, que é simplesmente emocionante.

 

# 2º lugar MAJUPIRA, de João Batista de Melo e Souza (4 estrelas)

Descobrir o irmão mais velho de Malba Tahan foi um dos melhores momentos de 2022. Majupira é a coisa mais fofa que tenho lido desde Anne de Green Gables. Pedro Luiz, ouso dizer, é um dos heroizinhos mais cativantes da ficção de língua portuguesa. Embora compreenda perfeitamente os motivos para este romance estar esquecido no tempo, não posso deixar de lamentar que histórias assim não tenham mais apelo popular. Mas, apesar disso, que sorte a minha ter tido a oportunidade de ler Majupira: o melhor romance do ano!

 

# 1º lugar A CAÇA DE UM BARONATO e outras histórias, de Augusto Fausto de Sousa (4 estrelas)

Fiquei em dúvida se incluía ou não esta coletânea dentre os melhores de 2022, até porque, além de não pertencer à “Coleção Saraiva”, foi um livro que li para um trabalho prestado à Editora Oitocentista. Mas Augusto Fausto de Sousa, que eu de fato não conhecia nem de nome, foi a maior descoberta do ano. Eu fiquei simplesmente chocado que houvesse um autor brasileiro do século XIX, de tão elevada qualidade, que eu desconhecesse. As novelas e contos deste volume (que brevemente será lançado pela referida editora) são maravilhosamente formidáveis. Eu realmente não compreendo que o trabalho literário de Augusto Fausto de Sousa tenha sido totalmente sombreado por sua incontestável contribuição para o Exército Brasileiro, sendo que o ficcionista não vale menos que o militar. Assim que o livro for lançado, devo reler para publicar uma senhora resenha! Mas de antemão posso citar as narrativas que mais me agradaram: “Onde se encontra a felicidade”, “Dois dias de felicidade no campo”, “Um casamento de tirar o chapéu” e “Um provinciano ladino”.

Daniel Coutinho

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quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

O Romance dum Homem Rico, de Camilo Castelo Branco - RESENHA #194

Encerramos 2022 com mais um Camilo Castelo Branco. No último ano, graças ao meu desafio pessoal relacionado à Coleção Saraiva, li quatro romances do autor, e este último, embora não tenha superado Os Brilhantes do Brasileiro, teve seus bons momentos.

O Romance dum Homem Rico (1861) é o tipo de livro que explica com precisão o porquê da ficção camiliana não ter envelhecido bem. Certo é que o romance romântico é mesmo cheio de idealizações e exageros, mas, no presente caso, tudo isso se eleva a patamares difíceis de conceber, principalmente a nós, leitores do século XXI.

O protagonista Álvaro e sua mãe Maria da Glória são seres tão angelicais que, a meu ver, seriam desacreditados até pelos contemporâneos de Camilo. Álvaro, sobretudo, consegue ser ainda mais endeusado aos olhos do leitor, de modo que tanta entrega e resignação chegavam a me incomodar, e até me fazer preferir a primeira parte do livro, que se concentra na história de Maria da Glória.

Que a escrita de Camilo não é das mais fáceis de digerir, todos já sabemos; mas a longa introdução d’O Romance dum Homem Rico pode constituir um problema à parte. Era um recurso comum ao novelista d’A Brasileira de Prazins introduzir seus romances com a “narrativa real” sobre o descobrimento da história a ser contada. Neste caso específico, porém, o autor empolgou-se além da conta, principalmente nas falas prolixas do então Padre Álvaro.

Vencida a introdução, o livro ganha ritmo e as páginas começam a fluir mais livremente. A princípio, o conflito principal é o desejo do pequeno Álvaro em descobrir a verdade sobre sua mãe, a qual não chegara a conhecer e sobre quem nada se comenta dentro de casa.

Pouco a pouco, fazendo investigações por conta própria, Álvaro descobre que sua mãe está viva e encerrada num convento. Seu desejo imediato é encontrá-la às escondidas do pai e, dessa forma, descobrir as razões que levaram Manoel Teixeira a enclausurar a esposa.

Avançando para a segunda parte do romance, o que temos é a paixão não-correspondida de Álvaro por sua prima Leonor. Embora tal união seja desejada por ambas as famílias, a ardente Leonor, de natureza romântica, apaixona-se perdidamente por Miguel de Soto-Maior, um jovem poeta, cuja vida desregrada e cheia de excessos faz suspeitar ao leitor embaraços futuros à prima de Álvaro.

Como já dito anteriormente, a história da enclausurada pareceu-me mais interessante. O mistério sobre o passado de Maria da Glória foi criado e devidamente desvendado na primeira metade do livro. A postura assumida por ela, após determinados acontecimentos, foi o ponto alto do romance, que soube ser coerente e convincente a esta altura da narrativa.

Em relação à segunda metade da obra, cansava-me o comportamento passivo de Álvaro que, diante do sofrimento, parecia apegar-se à dor ao invés de afugentá-la. Alguém como ele, um homem rico como diz o título da obra, possuía um leque de possibilidades e caminhos a ser seguidos antes de optar pela carreira religiosa, fato este sabido pelo leitor desde a introdução.

Algumas situações exageradas dos capítulos finais também não caíram na minha graça, mas esses episódios de dramalhão mexicano estão sempre presentes nas obras de Camilo. Contudo, o que mais me incomodou verdadeiramente nesse contexto foi a santidade exagerada do protagonista que, mesmo sendo um homem bom, trazia estampada no rosto a infelicidade.

É curioso que um homem tão mundano como Camilo tivesse essas inspirações cheias de candura e devoção religiosa. Mas artistas são assim: seres peculiares e cheios de contradições. Cabe a nós, apreciadores da arte, saber absorver os detalhes cujo aproveitamento nos enriquecem, nos confortam e nos contentam.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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