domingo, 20 de março de 2022

Miguel Strogoff (Michel Strogoff), de Júlio Verne - RESENHA #177

Comecei a ler Júlio Verne por aquela que talvez seja sua obra mais conhecida: A Volta ao Mundo em 80 Dias. Lembro de ter me divertido bastante com esse livro, que me agradou em diversos aspectos, deixando-me curioso para ler outros trabalhos do autor. Mas, agora que isso finalmente aconteceu, veio a decepção rs.

Confesso que minhas expectativas para a leitura de Miguel Strogoff (1876) estavam altas, mas o livro esteve muito longe de alcançá-las. Eu estava confiante de que a leitura entraria facilmente para as melhores do ano, mas infelizmente o livro não funcionou para mim, pois o achei arrastado e excessivamente descritivo.

Os dois primeiros capítulos já haviam me prevenido de que o livro não cairia na minha graça, mas eu sou daquele tipo de leitor insistente e curioso que acredita que o capítulo seguinte será fantástico e que o autor acabará entregando algo que fará todo o resto valer a pena.

De fato, quando o protagonista entra em cena, tudo fica mais interessante, mas me pareceu que o autor precipitou a atuação do herói do livro, descuidando de torná-lo simpático aos olhos do leitor. Quando se vê, a jornada de Miguel Strogoff já está acontecendo, mas, como o personagem não é devidamente apresentado, não me sentia instigado a torcer por ele.

A entrada de Nádia no romance torna tudo menos pior, mas achei que a personagem foi um tanto desperdiçada dentro da obra. Claro que ela rendeu ótimos momentos, mas certamente poderia ter sido melhor aproveitada. O mesmo vale para outros personagens, como Ivan Ogareff, o vilão; a cigana Sangarra; dentre outros.

O enredo traz como pano de fundo a invasão da Rússia pelos tártaros, liderados por Ivan Ogareff, um antigo coronel russo que havia sido exilado após se envolver em maquinações secretas. Como os tártaros interrompessem as comunicações telegráficas, o czar decide enviar um mensageiro ao grã-duque da Sibéria, para preveni-lo dos ataques dos invasores e da traição de Ivan Ogareff.

Miguel Strogoff é escolhido para ser o correio do czar. Sua missão é percorrer uma distância de mais de cinco mil quilômetros, saindo de Moscou com destino a Irkutsk. O grande desafio, além de passar por terras invadidas, é manter-se incógnito. Para tanto, ele assume uma identidade falsa e priva-se de ver sua mãe durante o trajeto, tudo para não ser reconhecido.

A partir daí, acompanhamos essa longa jornada que, claro, é repleta de episódios perigosos, mas também de várias passagens monótonas. Além de minuciosas descrições das cidades por onde passa o herói, há capítulos em que não saímos de uma condução ou de intermináveis caminhadas. Se o autor pretendia provocar no leitor o enfado de uma longa viagem, o objetivo foi alcançado com máximo êxito.

Miguel Strogoff não é um livro ruim e certamente tem seus bons momentos, mas infelizmente não conseguiu me envolver. Há diversas situações improváveis que subestimam a inteligência do leitor, sobretudo uma reviravolta milagrosa que se dá no desfecho da trama. Além de Nádia, uma dupla de jornalistas, um inglês e um francês, também melhoram diversos capítulos, rendendo as passagens mais engraçados do romance.

Em resumo, a premissa de Miguel Strogoff é excelente para um romance de aventuras. A condução que o autor faz dessa trama é que, a meu ver, ficou a desejar. É daqueles casos em que uma adaptação mais compacta acaba tendo resultados mais positivos.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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sábado, 5 de março de 2022

Os Brilhantes do Brasileiro, de Camilo Castelo Branco - RESENHA #176

Ler Camilo Castelo Branco não é tarefa das mais fáceis. Conhecido por seu estilo hermético e linguagem peculiar, o escritor português também é lembrado pela vasta produção literária que nos deixou. Camilo publicou mais de uma centena de livros, praticando os mais variados gêneros.

Os Brilhantes do Brasileiro (1869), a meu ver, é uma excelente porta de entrada para o universo camiliano. Menos complexo que outros livros do autor, a narrativa pareceu-me bastante acessível e de fácil compreensão. Segundo o crítico Carlos d’Alge, o livro seria uma compensação feliz para o trágico A Brasileira de Prazins, tal como Camilo fizera anteriormente com Amor de Perdição e Amor de Salvação.

O enredo tem início com a descoberta do roubo de vários brilhantes que o brasileiro Hermenegildo Fialho havia dado à sua esposa Ângela. A princípio, acredita-se que Vitorina, criada pessoal daquela senhora, tenha sido a responsável pela substituição das joias por outras falsas. Mas quando a própria esposa do brasileiro assume a responsabilidade do caso, Hermenegildo a acusa de traição.

O narrador nos leva então ao passado de Ângela para, dessa forma, provar a inocência de sua heroína. O poderoso general Noronha, não podendo ter certeza da paternidade da filha de sua concubina, entrega Ângela aos cuidados de sua irmã Beatriz. Sob os cuidados daquela tia, a garota torna-se mulher e apaixona-se por Francisco, um humilde estudante.

Camilo, um romântico incurável, dá-nos o idílio dos dois jovens, com direito a troca de cartas, intrigas familiares, fugas e muitas lágrimas. Impedida de realizar seu amor, Ângela é mandada pela enérgica tia para um convento, onde travará conhecimento com Rita, a irmã de Hermenegildo.

De sua parte, a insensível Beatriz age contra a família de Francisco, levando o cunhado do moço (que era quem pagava seus estudos) à ruína e, finalmente, à morte. Desamparados, Francisco e sua irmã Joana enfrentam uma difícil situação. Mas o acaso providencia um inesperado auxílio proveniente de Ângela, agora esposa de Hermenegildo Fialho. A condição, no entanto, para tal ajuda é que Joana esconda de seu irmão a verdadeira fonte daquele benefício, fruto da venda dos tais brilhantes referidos no começo do livro.

Não há nada de surpreendente ou extraordinário nesse novelão camiliano. O estilo passional do autor está em seu natural, desprezando o uso de muitos artifícios literários como aqueles empregados em A Queda dum Anjo ou Coração, Cabeça e Estômago, note-se, obras de outra natureza. O livro está longe de ser medíocre (jamais o seria vindo de Camilo), mas não ultrapassa muito o limite do entretenimento que, para quem como eu já leu uma infinidade de histórias românticas, não provoca maiores impressões.

Não pensem, contudo, que considero Os Brilhantes do Brasileiro um livro dispensável para este ou aquele público. Eu mesmo pude aproveitar bastante da experiência, ainda que não tenha sido das mais tocantes. Sei que Camilo publicou vários outros títulos nessa mesma linha melodramática. Devo ler mais alguns ainda este ano. Se serei surpreendido, é o que estamos por descobrir.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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