terça-feira, 20 de abril de 2021

Amor e Pátria, de Joaquim Manuel de Macedo - RESENHA #156

Dando sequência ao meu propósito de ler o teatro completo do doutor Macedinho (projeto este que andava meio abandonado rs), li desta vez o drama Amor e Pátria (1859), peça esta constituída num único ato.

A ação se passa poucos dias após a independência do Brasil e, embora classificada como drama, a peça tem ares de opereta cômica. De poucos personagens, Amor e Pátria traz um enredo simples e ligeiro.

É o aniversário de Afonsina e, para tal ocasião, seus pais, Leonídia e Plácido, reservam-lhe uma grande surpresa. Nossa aniversariante é uma jovem bastante instruída em conhecimentos diversos, o que a torna alvo das censuras de seu tio Prudêncio, que julga a educação de Afonsina um tanto inapropriada para uma mulher que, no seu entender, deveria entender menos de política que do ofício doméstico.

É interessante reconhecer nesta, como em outras obras de Macedo, seu esforço em defender o lugar da mulher na sociedade brasileira, mas um lugar distinto daquele que se entendia em meados do século XIX. Afonsina é uma mulher preocupada com o futuro político de sua pátria e, por sua vez, censura o tio por seu comodismo perante os conflitos em torno da independência da nação.

O sentimento patriótico de Afonsina, contudo, encontrará abrigo no coração de Luciano, jovem revolucionário e defensor do príncipe (que se tornaria D. Pedro I). No entanto, uma rede de mentiras leva a crer que Plácido é um inimigo do príncipe português, e que Luciano fora seu denunciante, o que compromete a surpresa do aniversário de Afonsina, como também o destino do jovem casal.

Não saberia apontar as pretensões de Macedo com esta breve cena dramática. A despeito de seu tema patriótico, Amor e Pátria está longe de alcançar a dramaticidade épica d’O Jesuíta de Alencar, por exemplo. Se a intenção, porém, era tão somente celebrar nossa independência através de um passatempo corriqueiro, certamente que o objetivo não se perdeu.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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segunda-feira, 19 de abril de 2021

Anne de Green Gables (Anne of Green Gables), de Lucy Maud Montgomery - RESENHA #155

Anne de Green Gables (1908), clássico canadense de Lucy Maud Montgomery, tem sido redescoberto por milhares de leitores no mundo todo graças à aclamada adaptação seriada da Netflix. Mesmo sem ter visto a série de TV, acabei me rendendo ao entusiasmo de todos que têm aplaudido as obras que compõem a série “Anne”, e finalmente li o primeiro livro.

Anne Shirley, a protagonista, já está devidamente inserida naquela caixinha especial onde guardo todas as crianças apaixonantes que tenho encontrado na literatura, como Zezé, Marcelino, Tistu, dentre outros. De todos, Anne é de longe a mais falante, não poupando palavras toda vez que tenta expressar sua empolgação perante as belezas do mundo.

Não há como antipatizar uma persoangem como Anne. Desde sua primeira aparição na história, ela nos conquista com seu palavreado minucioso, com seu entusiasmo perante as coisas mais simples da vida e com sua postura otimista que não esmorece diante das dificuldades.

A trama de Montgomery nos envolve às primeiras cenas, quando os irmãos Cuthbert, Marilla e Matthew (ambos solteiros) decidem adotar um menino para ajudar nos trabalhos em Green Gables, fazenda onde residem. Um mal entendido, porém, acaba colocando Anne no caminho desses irmãos que, motivados pelo carisma da menina, decidem por ficar com ela.

Anne Shirley, movida por sua inesgotável imaginação, idealiza tudo à sua volta, batizando os lugares por onde passa e criando fantasias em torno de sua nova vida na cidade de Avonlea. Matthew, que sempre fora tímido e ensimesmado, é quem mais se deixa dominar pela magia de Anne. Marilla, embora rabugenta e conservadora, também cria uma afeição sincera pela pequena órfã, esforçando-se para dar-lhe uma boa criação.

Pouco a pouco, Anne vai grangeando a amizade de todos em Avonlea, sobretudo de Diana Barry, sua melhor amiga e parceira de aventuras. Mas, se por um lado, a aguda imaginação da filha adotiva dos Cuthbert é motivo de diversão entre suas companheiras de escola, por outro, acaba gerando uma série de conflitos domésticos que perturbarão sobretudo a impaciente Marilla.

Mesmo sendo uma criança otimista e espirituosa, Anne é complexada por ser ruiva e sardenta, julgando-se menos bela por isso; quando Gilbert Blythe, o primeiro aluno da turma, faz piada com a cor de seu cabelo, ela imediatamente cria uma barreira que impossibilita qualquer tipo de relação entre os dois, o que desperta também uma contínua rivalidade entre eles sobre quem seja o mais inteligente da turma.

É nesse ritmo bem humorado e nessa atmosfera instigante que L. M. Montgomery conduz sua narrativa, sempre entremeada de belas reflexões e frases dignas de nota. Sua prosa é de uma leveza que se mantém uniforme praticamente em todo o livro, prescindindo de passagens muito dramáticas ou digressões analíticas.

Não há em Anne de Green Gables a clara pretensão de se tornar um clássico. O que imortalizou Anne em nosso imaginário é a vitalidade que exsuda dessa protagonista, cuja imaginação era tão grandiosa e que tinha tanto a dizer, que um único livro seria insuficiente para contê-la.

Avaliação: ★★★★★

Daniel Coutinho

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