Rozendo Moniz Barreto (1845-1897) foi um escritor
baiano. Era filho do poeta Moniz Barreto, considerado o maior repentista do Brasil
imperial. Eles eram aparentados com Tobias Barreto, o poeta de Dias e Noites.
Além de escritor, Rozendo exerceu diversas outras funções, principalmente a
medicina e o magistério.
Segundo o jornalismo da época, Rozendo era de gênio
belicoso (vale lembrar que ele serviu o exército durante a Guerra do Paraguai)
e irritava-se facilmente perante o menor ato de indisciplina por parte de seus
alunos, que o chamavam, na surdina, de “Horrendo Nariz”, ao invés de Rozendo
Moniz; isto devido ao tamanho descomunal daquela parte do corpo no mestre.
Rozendo, no que tange à literatura, tal como seus
familiares, era mais propenso à poesia, tendo obtido algum aplauso com seus
livros de poemas. Era um grande apreciador de Victor Hugo, e em sua obra
encontramos não poucas referências ao célebre autor d’Os Miseráveis. Mas
lia os mais diversos autores e gêneros, como se deduz da leitura de Favos e
Travos (1872), seu único romance.
A erudição e o conhecimento literário de Rozendo
Moniz são inquestionáveis, mas não se pode afirmar que ele tinha talento para
romancista. Além de partir de um enredo fraquíssimo, Favos e Travos
contempla dezenas de páginas de intermináveis digressões. O curioso é que,
apesar de ser o romance ruim, o livro não o é. Percebe-se talento e estilo na
escrita de Rozendo, mas a prosa de ficção não foi um terreno fértil para ele.
O fraquíssimo enredo de que falei é o seguinte. Alfredo
Gomes é um jovem bacharel de Direito que se julga isento das paixões românticas,
mas isso muda quando conhece a inocente e adorável Virgínia, que não parece ser
indiferente às atenções do moço.
Roque de Souza, o pai de Virgínia, é um velho
mesquinho e pilantra que deseja um casamento rico para a filha, através do qual
possa saldar suas dívidas. Julgando ser Alfredo integrante de uma família
abastada, Roque de Souza consente no consórcio dos dois jovens, mas quando descobre
ser o patrimônio daquela família insuficiente para contentar seus credores,
decide dispensar o moço.
Devido às digressões já mencionadas, a narrativa
segue num ritmo lento e pouco dinâmico. Há um personagem secundário que torna
tudo menos pior. Trata-se de Ricardo Garcia, um filósofo solteirão bastante
avesso ao casamento e às convenções sociais. De fato, sempre que Ricardo entra
em cena, a narrativa ganha um colorido em razão das pilhérias e comentários
ácidos do amigo de Alfredo.
Faltava imaginação a Rozendo Moniz para dar um
desenvolvimento mais satisfatório a personagens interessantes como Ricardo
Garcia, além dos peculiares senhor Pantaleão e sua esposa Dorotéia. O namoro de
Virgínia e Alfredo pareceu-me insuficiente para garantir o interesse contínuo
pela leitura.
Destaco, finalmente, o capítulo XII do romance,
onde se denuncia a violência contra os escravos, além de se evidenciar a
postura abolicionista do autor, como se percebe na seguinte passagem: “Felizmente
não tardará muito o dia em que se extinga completamente, para descanso do
século e por honra d’América, esse bárbaro e vil desconhecimento do mais
sagrado direito perante a natureza e Deus.” (pág. 101).
Quando afirmei que Favos e Travos é ruim
como romance, mas não enquanto livro, referia-me justamente às qualidades
intelectuais de seu autor, que não compôs um trabalho desprezível. Se o livro
falha pela sensaboria do enredo, ao menos ganha pela clareza e lucidez das
ideias, que não se perdem em peripécias inverossímeis.
Avaliação: ★★
P.S.: Dentre outras obras publicadas pelo autor de Favos
e Travos, destaca-se a biografia de seu pai, Moniz Barreto, o Repentista
(1887), que recebeu elogios de Sílvio Romero.
Daniel
Coutinho
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