segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

TOP 10 - Melhores infantojuvenis já lidos!



Minha gente, que tarefa mais difícil! Quase me arrependo de fazer esse Top 10! Isto porque foram muitos os livros infantojuvenis que marcaram não somente minha adolescência, mas também a vida adulta. Vez por outra, tenho belas surpresas com esse tipo de literatura. Já não leio tantos deles como antes, mas não abro mão de pegar alguma coisa do tipo, ocasionalmente.

Se foi difícil escolher apenas dez títulos, não o foi menos ordená-los numa classificação de valor crescente. Dessa forma, não deem muito crédito à posição dada a cada livro, especialmente os intermediários. A verdade é que esses dez livros merecem leitura e confesso que tive que apelar para o grau de representatividade popular para realizar a classificação. Isto porque amei os dez, quase que de forma igual, e cada um tem um valor especial para mim. Tive que deixar muita coisa boa de fora, por isso faço questão de esclarecer que esta lista constitui significativa “amostra” de uma porção mais abrangente de livros infantojuvenis inesquecíveis para mim.

E lá vamos nós!


# 10º lugar Aconteceu no Titanic (Laura Elias)
Laura Elias é uma das poucas autoras brasileiras de romances de banca. Definitivamente não sou leitor desse tipo de livro, mas quem nunca teve curiosidade de ler algum? Conheci-a através do bobinho Irresistível Impostora. Lembro de ter comprado numa padaria, achando que era estrangeiro, e o livro se identificava como tal, trazendo inclusive o nome da tradutora. A verdade é que Laura já se utilizou de vários pseudônimos, o que é uma tradição em livros do gênero. Só depois, graças à internet, descobri sua verdadeira identidade. Observando seus títulos publicados, fiquei curioso por Aconteceu no Titanic, assinado com seu pseudônimo mais célebre: Loreley McKenzie. Sou apaixonado pela história do Titanic, que sempre me comoveu muito. O livro da Laura, contudo, não revive a tragédia; antes, utiliza-a como pano de fundo de uma história apaixonante. Mas embora este também seja um livro meloso, ele reúne outros ingredientes através de personagens secundários que roubam a cena, tornando a leitura divertida e prazerosa.
 
# 9º lugar A Vaca Voadora (Edy Lima)
O que este livro parece ter de bobo, tem de divertido. Lembro de ter dado boas gargalhadas ao longo da história, o que considero uma proeza em livros: fazer rir. As aventuras de Lalau com suas tias tão diferentes uma da outra são prato cheio para qualquer criança. É daqueles livros que deixam saudade e fazem a gente querer voltar a ser criança.

# 8º lugar Açúcar Amargo (Luiz Puntel)
Este é da memorável série “Vaga-Lume”. Conheci-o através do livro didático da 8ª série, que trazia o capítulo em que o pai da protagonista a queria proibir de estudar, influenciado por costumes machistas. Fiquei tão curioso pela história que, quando finalmente encontrei o livro, não pensei duas vezes. Não me recordo mais do nome dos personagens, mas a trama gira em torno de uma família tradicional de boias-frias, onde o senhor da casa é quem manda. A protagonista, que é filha dele, não medirá esforços para provar que sua condição de mulher nada impede de ser o que quiser. Julgo um livro bastante pertinente para este momento em que tanto se fala em feminismo.

# 7º lugar Um Sopro de Esperança (Rogério Andrade Barbosa)
Outro livro que, por ser antigo, não deixa de ser atual. Conta a história de uma adolescente que é sequestrada e levada a uma casa de prostituição. O pistoleiro maior da casa se apaixona por ela e a toma por amante, não permitindo que ela seja alvo dos clientes da casa. O irmão da garota, contudo, persiste em sua busca, o que o levará a uma jornada emocionante. Este livro parecia tão real, que julgava ver as cenas nitidamente. O leitor acompanha atento cada acontecimento, torcendo pelos personagens do início ao fim. Livro sensacional! Tão curtinho; você o lê de uma vez só, que parece até um filme, e dos bons!

# 6º lugar Sardenta (Mirna Pinsky)
Já era universitário quando li este livro, escrito com tanta maturidade, que nem parece livro juvenil. O enredo é sobre uma garota judia que se apaixona por um moço que não pertence à religião judaica. A oposição da família é um iminente obstáculo, mas o amor dos dois prevalece. Aparentemente, uma história comum, mas a maneira como sua autora a conduz, o manejo que faz do tempo, os artifícios empregados, as mensagens ocultas nas entrelinhas, as surpresas ao final do livro, fazem deste um dos melhores infantojuvenis que já li.

# 5º lugar A Magia da Árvore Luminosa (Rosana Bond)
Eis uma das leituras fantasiosas mais divertidas que já fiz. O colorido desta história era tão vivaz, que me sentia na Ilha da Luna mesmo. Os membros da Turma da Bernunça foram amigos de infância. Como eu desejava brincar na praia com eles! E quando arriscam penetrar na ilha misteriosa... E os espíritos da floresta... e... e... Tô parecendo criança agora! Ainda posso sentir a empolgação daqueles tempos. Cheguei a escrever minha própria versão desta história, tanto que eu gostava dela. Tenho certeza de que nunca me esquecerei deste livro, uma das mais belas páginas da minha infância. Obrigado, Rosana Bond, por ter escrito este livro!

# 4º lugar Juntos para Sempre [Together Forever] (Cameron Dokey)
Sabe aquele livro perfeitinho para adolescentes? Assim é este livro. Natalie e Dean formam aquele casal fofíssimo que contracena um romance daqueles que fazem a gente se apaixonar. Sim, esse é pra você que gosta de livros bem apaixonados e sem vulgaridades. Emprestei tanto este livro, que deram fim nele! Conta a história de Natalie, uma maníaca por horóscopo que depois de encontrar Dean, o cara perfeito, descobre que ele é do signo errado. Parece uma besteira, mas é tão deliciosamente narrado em 1ª pessoa, ora por Natalie, ora por Dean, que logo conquista o leitor. Talvez se o relesse hoje, nem aplaudisse tanto, mas fui muito feliz por tê-lo lido na época mais indicada. E aquela cena em que eles assam biscoitos juntos... Tá bom! Parei.

# 3º lugar Sozinha no Mundo (Marcos Rey)
Isento-me de falar de Marcos Rey, mediante sua respeitada imagem de autor infantojuvenil. Sozinha no Mundo foi tudo que li dele, mas duvido muito que tenha escrito outro livro melhor. Pimpa é aquela garota heroína que você quer ajudar o tempo todo enquanto lê este livro, livrando-a daquela desalmada assistente social. Uma história super bem contada, que diverte, que emociona, que empolga de tal maneira, que traz brilho aos olhos do leitor.

# 2º lugar A Hora da Verdade (Pedro Bandeira)
Pedro Bandeira é, sem sombra de dúvida, meu autor infantojuvenil favorito. Já revelei que A Hora da Verdade me tornou um leitor. Li tantas vezes que ainda me recordo com detalhes dos ciúmes de Iara, do despeito de Roberta, da ingenuidade de Miltão, da apaixonada e iludida Adele, do romantismo de Desmond, das partidas de vôlei, das influências machadianas e shakespearianas, de tudo enfim. Que livro! Nesta mesma posição, poderia pôr A Marca de uma Lágrima, A Droga da Obediência, Descanse em Paz, meu Amor, e imagino que muitos outros. Pedro Bandeira é o kara!

# 1º lugar O Pequeno Príncipe [Le Petit Prince] (Antoine de Saint-Exupéry)
A universalidade deste livro já lhe garante o 1º lugar. A obra de Exupéry é muito mais que um livro infantil. Li há pouquíssimo tempo pela primeira vez, lamentando não tê-lo feito antes. É uma obra-prima que te faz pensar em tanta coisa séria com uma delicadeza sutil e inteligente ao mesmo tempo que obscura, que nem uma criança amedrontada por algo terrível que presenciou. Incluí-o entre os dez melhores do ano passado e, hoje, penso que o incluiria entre os dez melhores da vida. Não exagero quando digo que o mundo precisa ler mais este livro.

Daniel Coutinho

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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Criaturas, de Rochett Tavares - RESENHA #5

Não sou um assíduo leitor da literatura de horror; sou até um tanto arredio à literatura fantástica, às obras que contemplam o irreal e histórias de enredo obscuro. Criaturas veio parar às minhas mãos graças ao encontro de autores cearenses, onde ganhei o exemplar do próprio Rochett Tavares, tal como foi com História entre Mundos, que já tem resenha no blog.

A primeira impressão causada pelo livro é bastante positiva; isto porque o projeto gráfico está impecável e carregado da atmosfera tenebrosa que rodeia a obra, que é uma coletânea de contos de horror. O autor abusa de detalhes interessantes desde a capa até o código de barras da edição. As primeiras páginas são pretas; cada conto abre com uma ilustração que compreende uma página inteira; a diagramação está maravilhosa; o papel e o tamanho da letra fazem gosto; enfim, o livro enquanto objeto está à altura dessas edições americanas e sua compleição torna a leitura bastante fluida.

Agora, passando à apreciação literária, confesso que a obra de Rochett não me agradou o suficiente para classificá-la como boa; mas deixo bem claro que esta opinião corresponde ao meu gosto pessoal enquanto leitor. Não estou dizendo, contudo, que o livro não me agradou por ser “de horror”, mas por motivos que esclarecerei ao longo desta resenha.

Em primeiro lugar, a obra, tal como o projeto gráfico, é bem americanizada, como se tivesse sido escrita por algum norte-americano. Além de todos os contos situarem-se em espaços internacionais, a própria linguagem utilizada pelo autor remete à cultura “gringa”. Não sei se o autor já morou no exterior ou se, simplesmente, é um grande apreciador dessa cultura estrangeira, mas o teor americanizado foi o primeiro fator a me incomodar neste livro.

A linguagem quase que constantemente rebuscada também sugeria certa vaidade da parte do autor, como se ele quisesse impressionar o leitor com seu privilegiado vocabulário. O problema, a meu ver, não está no uso de uma ou outra palavra menos conhecida, mas no ponto onde o autor a situa no texto; e é esta má-colocação que dá uma ideia de esbanjamento. A repetição de determinadas expressões com bastante frequência também me incomodou muito, tais como: falange, a priori, o prefixo “pseudo”, dentre outras. Por último, a obscuridade nos enredos e a tenuidade narrativa em contos como “Aquele que viveria”, “A criatura” e “O Pai das lendas” sugere a descrição de um pesadelo, dada a confusão das situações obscuramente narradas. Quanto ao bordão que perpassa o livro: “Para a desgraça da espécie humana, mais uma página se cumpriu!”, com seu tom meio profético, colaborou para dar aquele clima misterioso e assustador, além de suscitar uma unidade ao conjunto da obra.

“Retrato de família”, que abre a coletânea, traz como pano de fundo o trágico cenário da segunda guerra mundial. Mark é um norte-americano que abandona sua pacata vida de fazenda para servir sua pátria. Os horrores em combate são descritos com todo pus e vísceras a que têm direito. O sobrenatural, como nos demais contos, é personificado na figura de uma criatura horrorosa; neste conto, trata-se de zumbis de soldados falecidos em guerras passadas. Um deles em particular dá uma surpresa arrepiante ao leitor no final do conto. Gostei dele, tendo apenas certa dificuldade com os termos militares empregados com mestria pelo autor.

“Visita ao necrotério” é uma espécie de conto policial, mas narrado de forma tão maçante que suas trinta páginas poderiam ter sido melhor enxugadas. Não é uma história ruim, mas a maneira como é conduzida e seu desfecho um tanto inconcluso tiram-lhe em grande parte seu mérito. Quanto aos contos “Aquele que viveria” e “A criatura”, como já disse, sugerem verdadeiros pesadelos, dada a inconsistência narrativa e a obscuridade de seus enredos. Não curti esses contos e percebi que do 1º ao 4º, eles vão caindo em qualidade.

“O vendedor de tapetes” dá uma melhorada à coletânea. Achmed Abdul é um vendedor de tapetes que um dia é surpreendido por um estrangeiro que derruba sua mercadoria, deixando cair nela um volume de capa preta, que é recolhido por Abdul. Mal sabia ele que a posse daquele livro mudaria por completo a sua sorte. “O mendigo de Vincennes” é outro conto bom, que sugere uma queima de arquivo, como se alguém do governo quisesse encobrir a existência de um velho mendigo que antes de se tornar um miserável, servira sua pátria, além de ser testemunha perigosa de um assassinato. Estes dois últimos contos, a meu ver, deveriam ter sido melhor explorados, ao invés de contos imerecidamente longos como “Visita ao necrotério” e “Aquele que viveria”.

“Bom Garoto” é um caso à parte. O maior conto da coletânea é, sem dúvidas também, o melhor. Esse conto destoa inclusive de todo o resto do livro. Só não desconheci totalmente seu autor nele, pela forma e usos da linguagem. A grande diferença está no curso da narrativa que se desenrola com primor. A leitura desse conto compensou todos os problemas que encontrei nos outros. Seu modelo é que deveria ter servido de referência para a escrita dos demais. Conta a história de um pai que é um verdadeiro déspota, além de ser constantemente agressivo com a mulher e os filhos, salvando-se de sua violência unicamente a filha do meio, que é sua preferida. A intervenção de um pequeno e aparentemente inofensivo cachorrinho poderá mudar para sempre o destino daquela família. Adorei o conto, mas o final (que, é claro, não vou contar!) é um tanto incoerente ou, pelo menos, não é muito convincente; o que não tira o mérito do conto, que é, de fato, muito bom.

A coletânea se encerra com o meditativo “O pai das lendas”, que é um enfadonho desabafo de um vampiro, contando sobre sua existência e a de sua espécie. Com mais baixos que altos, este livro não é o que posso chamar de “bom livro”; mas também não digo que seja “ruim”. Como disse, sua constituição geral não foi de encontro ao meu gosto literário, mas não posso negar as qualidades de seu autor que não deixam de ser visíveis.

Avaliação: ★★

Daniel Coutinho

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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Mais Livros! - FEV/2016


Fevereiro foi o mês dos livros novos! E o nosso Mais Livros! está recheado de muita coisa boa, graças, em parte, a um benefício que obtive. A foto acima deve ter deixado isso bem claro, além do fato de que a literatura estrangeira clássica predominou quase que totalmente. Adquiri livros que há muito tempo desejava e que sempre ia adiando, até que este mês, finalmente, criei vergonha na cara e comprei Os Miseráveis e D. Quixote, livros que acho que todo leitor deveria ter na versão completa. Mas perpassemos todas as aquisições mais detidamente...

O fim da editora Cosac Naify me motivou a adquirir alguns títulos que sempre cobicei. Com medo de que não sobrasse nenhum exemplar pra mim, corri atrás (ainda que meio atrasado) e quase que fico sem o meu David Copperfield. Não sou fissurado em livros novos, sou até distanciado deles; já confessei que tenho interesse particular em livros que, infelizmente, encontram-se esgotados e, portanto, fora das livrarias; por isso, costumo comprar edições (algumas bem antigas) em sebos da internet, porque na minha cidade não tem (creio que nas vizinhas também não). Ainda assim, quando um livro mais moderno me interessa, não tenho preconceito em adquiri-lo. A Cosac, no entanto, é um caso à parte. Ouvia falar sempre muito bem dos seus projetos editoriais, especialmente através de alguns booktubers que acompanho. Isso unido a um catálogo com obras clássicas suscitou o meu interesse, mas nunca me dispus a adquirir nada imediatamente. O inesperado fim da editora foi o que motivou a mim (e a muita gente) a adquirir o quanto antes os livros do meu interesse.

Assim, através da Amazon Brasil (minha primeira compra por ela), adquiri os clássicos: Guerra e Paz (Tolstói); Os Miseráveis e Os Trabalhadores do Mar (Victor Hugo). O David Copperfield infelizmente está esgotado por lá, mas consegui (ufa!) através do site da livraria Unesp. Pude constatar finalmente o que os outros tanto diziam. De fato, o projeto gráfico de cada livro é bastante atraente, mas os que julguei mais bonitos foram Guerra e Paz e David Copperfield. O primeiro está num BOX lindíssimo com a obra dividida em dois grossos tomos de capa dura; repleto de detalhes difíceis até de descrever; só não gostei muito da qualidade do papel que diziam ser “papel bíblia”, quando na verdade é um offset 63g, mas nada que tire o mérito do objeto que é lindíssimo e, se não me engano, primeira tradução brasileira diretamente do russo. O David Copperfield está belíssimo; a arte do livro é impecável, tão rico de detalhes quanto Guerra e Paz; o papel é pólen e de alta qualidade; só senti falta de um retrato do Dickens, e o fato do livro ser muito grosso dá a impressão de que a qualquer momento o miolo vai descolar da capa, mas tomara que isso não aconteça! Já Os Miseráveis e Os Trabalhadores do Mar achei bem mais simplórios, sobretudo o primeiro. Penso que aquela edição mais antiga que a Cosac lançou d’Os Miseráveis em volume único deve ser até mais bonita; não gostei da capa com aqueles rabiscos dos manuscritos do autor e senti falta da riqueza de detalhes das edições que já mencionei. Os Trabalhadores do Mar está melhorzinho, seja pelo papel pólen ou pela impressão em azul; o que me incomodou foi a capa da brochura; dos desenhos de Victor Hugo, escolheram o mais feio, e aquela coisa sem título, sem nada, só com o nome da editora... foi meio tenso rsrsrs Sou mais a arte da caixinha que acompanha o livro.

Ainda na Amazon, comprei O Conde de Monte Cristo (Alexandre Dumas), edição lindíssima, ilustrada, com capa dura e papel bíblia, da editora Zahar; D. Quixote, do Miguel de Cervantes (edição bilíngue), em dois volumes, tamanho grande, ilustrado, da editora 34; e por último, Semíramis, da Ana Miranda, único nacional adquirido este mês. A edição é da Companhia das Letras. Semíramis foi indicação de um amigo, o poeta Léo Prudêncio que, sabendo da minha admiração por José de Alencar, recomendou-me este romance que traz a vida do autor cearense num plano fictício, artifício este muito comum em Ana Miranda.

Voltando à onda dos clássicos, obtive finalmente os romances da querida editora Pedrazul que surgiu com tudo no mercado editorial brasileiro, com a louvável proposta de lançar clássicos que estão esgotados (ou que nunca foram lançados) em nosso país, especialmente os ingleses. Adquiri: Villette (Charlotte Brontë); A Inquilina de Wildfell Hall (Anne Brontë); Os Mistérios de Udolpho (Ann Radcliffe); Norte e Sul (Elizabeth Gaskell); e Pamela (Samuel Richardson).

Para fechar o saldo de fevereiro, chegou (finalmente!!!) depois de três meses, diretamente de Portugal, o tão desejado por mim A Mulher de Branco, de Wilkie Collins. Tive que comprar a edição portuguesa da editora Relógio d’Água, porque não encontrei nenhuma edição brasileira. Em pensar que comprei este livro por indicação do personagem Bóris daquela antiga telenovela mexicana juvenil, Primeiro Amor a Mil por Hora, da Televisa... rsrsrsrs

Daniel Coutinho

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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

História entre Mundos, de Raquel Catunda Pereira - RESENHA #4

Pensei muito antes de fazer a resenha deste livro, hesitando em realizar a tarefa desagradável de falar mal dele. Mas depois pensei: Só vou falar dos livros de que gostei, merecedores de 4 ou até 5 estrelas? Qual mérito teriam os bons livros se não existissem os ruins? Então, decidi que sim, que tinha de falar deste livro, consciente de estar expressando unicamente minha opinião enquanto leitor.

Ganhei este livrinho das mãos de sua própria autora, a cearense Raquel Pereira, num encontro de escritores ganhadores de um prêmio literário do qual participamos. Isso foi em 2012. Engavetei os livros que ganhei nesse dia, e só agora decidi que era hora de conhecê-los. Minha preferência pelo gênero romance levou-me a iniciar por História entre Mundos, obra infantojuvenil, vencedora do Prêmio Rachel de Queiroz. Trata-se da estreia literária de Raquel, que tive oportunidade de conhecer e, de antemão posso garantir, me causou boa impressão. Gosto de livros infantojuvenis. Como já revelei no post anterior, eles foram os primeiros responsáveis por hoje eu ser um leitor. Tenho inclusive um carinho especial por muitos deles, o que será matéria para outra postagem.

Peguei o livro da Raquel com boa disposição de ânimo, a fim de realizar uma leitura descontraída e prazerosa, mas infelizmente não encontrei o que esperava. A primeira coisa que me incomodou foram os inúmeros erros ortográficos. Consultei a ficha catalográfica e, dentre os serviços da editora, constava “revisão”, seguido do nome do responsável que prefiro nem citar aqui. Os erros são tantos que, creio, não há uma única página do livro que esteja isenta deles; sem contar que não se pode afirmar se a grafia obedece o antigo ou o novo acordo ortográfico. Eis uma coisa que muito me incomoda em livros: erros. E não estou falando desses erros propositais que privilegiam a oralidade da linguagem, dentre outras situações perdoáveis; mas quando você usa “inchada” no sentido de instrumento utilizado por agricultores... só pra citar “um” de incontáveis erros bárbaros. Não lembro de ter lido livro com mais de duzentas páginas em que não encontrasse pelo menos um erro. É natural. Quanto maior for o livro, mais suscetível está a que seu revisor deixe passar alguma incorreção. No presente caso, porém, ele só podia estar muito cego, que nem a própria autora. Digo isto porque já publiquei livro e sei que antes da tiragem ser realizada, o autor recebe um boneco da editora, que nada mais é do que um exemplar para aprovação, onde se devem fazer as últimas emendas. Desculpem se me demoro tanto nesse assunto, mas precisava desabafar minha indignação diante de um desleixo tão inconcebível.

Passando à narrativa, o livro conta a história de um jovem, Guilherme, que está concluindo o ensino médio. Ele é apaixonado por uma menina da sala dele, mas não tem coragem de se declarar, principalmente após descobrir que ela anda de namoro com outro. Típico namorico adolescente. Mas não pensem que isso me incomodou! A parte chata é quando Natália, a melhor amiga do nosso protagonista, dá-lhe um lápis “mágico” de presente, objeto este encontrado de forma misteriosa numa biblioteca de livros antigos, capaz de tornar realidade tudo o que seja escrito por ele. Assim dizia o livro onde o dito lápis estava inserido.

Mesmo sem acreditar nas estórias de Natália, Guilherme decide começar a escrever um livro, onde pudesse criar um mundo perfeito, tão diferente do real, que é cheio de injustiças e calamidades. Outra intenção sua é recriar com seus personagens sua história de amor, na tentativa de dar um final feliz a ela. No entanto, ele não tem controle sobre o que escreve e seus personagens acabam ganhando vida própria. Na verdade, eles não passam de fantoches nas mãos da autora, e irão representar diversos episódios da História Geral. São detestáveis essas encenações e nessas passagens (que compreendem mais ou menos a metade do livro), a obra alcança o ridículo. O que ainda me manteve acordado foram as passagens em que o Guilherme não está escrevendo a tal história mágica que reflete parcialmente em sua realidade.

Ademais, este é um forte candidato à pior leitura do ano, e penso até que não me agradaria nem se o tivesse lido na adolescência. A tentativa de sua autora de unir Literatura, História, Ciência e até Filosofia saiu malograda. Os problemas de estética literária, eu os perdoo da estreante Raquel; mas os inúmeros erros dispostos em todo o texto... Deixa quieto! Não recomendaria a ninguém este livro, mas quem quiser ler, faça e tire suas próprias conclusões.

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Daniel Coutinho

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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Como me tornei um leitor



Todo leitor tem a sua história. Queria que a minha fosse daquelas em que a pessoa nasce em um ambiente propício à apreciação da Arte, em que todos os membros estão sempre lendo coisas novas e discutindo sobre elas. Infelizmente, comigo não foi assim. Venho de uma família quase que totalmente alheia à Literatura. Digo “quase” porque meu pai costumava recitar os cordéis de seu tempo, que eu adorava: Rosinha, Sebastião e Heleno; O Pavão Misterioso; A Negra Feiticeira, entre outros. Nunca recebi incentivo para ler, conhecer os clássicos, etc. Às vezes, penso e não compreendo como me tornei leitor. Daí, vejo-me na obrigação de explicitar o que quero dizer com o termo “leitor”.

Se você lê o jornal, acompanha o horóscopo, assina revistas, lê contos de fadas para as crianças e ainda de vez em quando medita num salmo bíblico... não, você não é um leitor. Leitor é aquele que tem uma relação amigável com os livros, e não quem lê apenas por obrigação. Leitor é quem consegue descobrir na leitura um prazer necessário à vida. Leitor está sempre lendo alguma obra, deixando-se levar pela curiosidade de ir além, conhecendo novos autores e estilos. Não é aquele que lê os livros ditados pela moda, mas o que seleciona, conforme sua própria identidade leitora, as obras que são do seu interesse. A leitura é como um esporte: qualquer pessoa pode praticar, mas só quem tiver paixão por ele, poderá encará-lo como uma atividade que está muito longe de ser um mero passatempo.

Mesmo as famílias mais aversas à leitura têm algum livro em casa. Na minha, veio parar não sei como uma versão da Chapeuzinho Vermelho, chamada Chapeuzinho Vermelho e o Lobo-Guará, de Ângelo Machado. Esse livrinho foi minha primeira experiência com a leitura propriamente dita, porque antes, já tinha o hábito de ler as histórias que vinham no início das unidades dos livros didáticos. O livrinho de que falei foi lido por mim diversas vezes, mas nada que me suscitasse o interesse por outros livros. Na verdade, tinha pavor a livros e não entendia como era possível ler um volume de 150 páginas! Até que um dia, na escola, pediram que a gente lesse O Filho das Estrelas, de Wilson Rocha. Era um livrinho de 50 páginas. Lembro que a professora todos os dias combinava um determinado capítulo como atividade de casa. Esse foi então o primeiro livro que encarei de fato! E não foi nada agradável. Talvez por ter lido obrigado ou porque a história não me despertasse interesse, ignorei este livrinho que conservo até hoje.

Foi somente aos doze anos, quando tive que ler A Hora da Verdade, do Pedro Bandeira, que me entusiasmei com um livro. Costumo dizer que este livro abriu caminho para que eu fosse um leitor. Era a primeira coisa que eu lia com prazer, e foi este livro que despertou em mim a curiosidade de ler outros livros. Desde então, tenho um carinho muito especial pelas obras do Pedro Bandeira. Lembro que li todos os títulos dele que eu encontrava, e cada leitura trazia uma nova aventura. Quando não achava mais nada dele, lia outros autores e tive belas surpresas. Li, inclusive, alguns títulos da famosa Série Vaga-Lume, que eu amava. Foi uma fase tão maravilhosa de leituras, que escrevendo este post, bateu agora uma saudade daqueles livros, quase todos emprestados e que não tenho em meu poder. Estou pensando seriamente em adquiri-los, de preferência nas mesmas edições que eu os li. Os mais marcantes desse período foram: A Magia da Árvore Luminosa (Rosana Bond), A Marca de uma Lágrima (Pedro Bandeira), Sozinha no Mundo (Marcos Rey), Spharion (Lúcia Machado de Almeida), A Cor da Ternura (Geni Guimarães), Um Girassol na Janela (Ganymédes José) e A Força da Vida (Giselda Laporta Nicolelis).

Por esse tempo, só lia esses livrinhos infantojuvenis; li muitos, e os adorava. Foi então que, na época em que minha irmã preparava-se para prestar vestibular, apareceram aqui em casa uns livros mais volumosos, de capa branca com um desenho colorido e com títulos bem diferentes daqueles que eu estava acostumado. Muito curioso, peguei O Ateneu (Raul Pompeia), achando que leria mais um daqueles meus livrinhos fáceis. Que decepção! Deparei-me com um vocabulário dificílimo e uma narrativa da qual não compreendia nada. Abandonei O Ateneu e experimentei Luzia-Homem (Domingos Olímpio). Este não me pareceu tão difícil, fui lendo pouco a pouco, criei gosto pela leitura, e quando menos esperava, terminava o livro aos prantos. Se Pedro Bandeira abriu caminho para me tornar um leitor, Domingos Olímpio abriu caminho para me tornar um leitor de clássicos brasileiros. E aconteceu o mesmo que com os livros juvenis: saí lendo tudo que encontrava e, posso dizer, foi o tempo em que li os melhores livros da minha vida. A cada novo clássico que lia, compreendia melhor os estilos de época, que me fascinavam e me fascinam até hoje. Foi nesse tempo que descobri José de Alencar, por quem tenho um respeito e admiração enormes. Alencar foi meu primeiro grande mestre; aprendi tanto com ele, que sempre vou lamentar não tê-lo conhecido pessoalmente; foi com ele que alcancei minha maturidade leitora, minha criticidade, meu próprio gosto literário. Sua obra causou em mim uma impressão tão profunda que poucos escritores conseguiram repetir. Dessa segunda fase literária, os mais marcantes foram: O Guarani (José de Alencar), A Moreninha (Joaquim Manuel de Macedo), O Seminarista (Bernardo Guimarães), Memórias de um Sargento de Milícias (Manuel Antônio de Almeida), O Cortiço (Aluísio Azevedo) e Quincas Borba (Machado de Assis). Considero todos esses seis livros verdadeiras obras-primas, e seus autores, verdadeiros gênios da literatura brasileira.

Foi assim que alguém que tinha tudo para ignorar os livros tornou-se um grande amante e apreciador deles. Agora, para encerrar, deixem-me falar um pouco do leitor que sou hoje. Não me considero um leitor completo. Não obstante ter adquirido uma maturidade razoável para ler vários tipos de livros, sou consciente de que ainda tenho muito que aprender com a Literatura, principalmente com os grandes gênios universais. Esse é o meu novo grande desafio: desvendar a literatura universal, especialmente as obras que influenciaram meus autores favoritos. Minha maior conquista enquanto leitor foi ultrapassar a minha zona de conforto. Isso não quer dizer que não vá ler mais obras dos meus autores preferidos, mas que estou disposto a descobrir outros estilos e gêneros de diferentes épocas, inclusive a atual.

Um bom leitor nunca está satisfeito com o que já leu; antes, vislumbra novas possibilidades de um crescimento intelectual que nunca será o bastante.

Daniel Coutinho

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