quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Zadig ou O Destino (Zadig ou La Destinée), de Voltaire - RESENHA #191

O nome Voltaire por si só já diz muito. A fama alcançada pelo filósofo francês repercute com grandeza até os dias de hoje. Cândido ou O Otimismo é o ponto máximo de sua ficção, mas, para meu primeiro contato com o autor, optei por Zadig ou O Destino (1747), onde nasce o conto filosófico voltairiano.

Após a leitura do Zadig, não posso pensar senão que Voltaire foi um gênio formidável. Que ideias bem traçadas e que beleza de escrita! A narrativa se mantém interessante quase que em sua totalidade, impondo-se como indiscutível modelo clássico que é.

Zadig é um jovem belo e inteligente que vive em Babilônia. Mesmo possuindo as mais elevadas qualidades físicas e morais, o destino lhe reserva grandes infortúnios. É essa vida cheia de altos e baixos que deparamos nesta novela episódica de Voltaire.

Os capítulos de Zadig apresentam, de modo geral, situações embaraçosas que levam o herói (como também o leitor) a refletir sobre as injustiças terrenas. Os maus sentimentos que prevalecem na raça humana distorcem as boas ações praticadas por Zadig que, ao invés de premiado, acaba padecendo dissabores em diversas ocasiões.

Em determinado momento, contudo, Zadig passa por uma experiência sobrenatural que pretende explicar-lhe os “caprichos do destino”. É seguramente a passagem mais catártica da história, independente da crença do leitor. Esse episódio consolador reanima o herói a seguir com seu propósito em busca da felicidade.

Zadig é um texto impressionante por vários motivos. O único fator que me incomodou na leitura foi a quantidade de substância compactada em pequeno número de páginas. O ritmo frenético dos capítulos curtos exige algumas pausas para que se possa digerir tanta matéria interessante. A novela, embora de leitura rápida, reverbera impressões que muitos romances longos não logram alcançar.

Avaliação: ★★★★

Daniel Coutinho

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quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Carlota Ângela, de Camilo Castelo Branco - RESENHA #190

Tenho muita admiração pela obra de Camilo Castelo Branco, mas numa bibliografia tão vasta como a do autor do Amor de Perdição é natural que nos deparemos com trabalhos menos inspirados, especialmente aqueles produzidos nos primeiros anos de sua trajetória ficcional.

Carlota Ângela (1858) é o romance menos interessante de Camilo dos que li até então. Lembrou-me bastante As Tardes de um Pintor, de Teixeira e Sousa, com aquela aura de século XVIII, sendo o romance brasileiro superior em minha humilde opinião.

Típico exemplo de literatura romântica em língua portuguesa, Carlota Ângela conta a história da protagonista que dá título ao livro, valendo-se do clássico modelo do casal separado pelas diferenças sociais. Carlota e Francisco desejam casar-se, mas a baixa posição do rapaz, que é tenente da Marinha, é motivo suficiente para que Norberto, o pai da moça, seja contra a união dos jovens.

Prevendo a negativa paterna, Carlota planeja recorrer à Justiça para unir-se ao amado, mas Norberto se adianta à filha, apoiando-se em Sampaio, seu cunhado, que obtém a remoção de Francisco para o Brasil, ação esta que lhe garante uns bons trocados saídos da bolsa do pouco astuto pai de Carlota.

Longe de seu amado, Carlota decide encerrar-se num convento, o mesmo de sua tia Rufina, que será sua aliada a partir daí. A ideia da moça é resguardar-se até o retorno de Francisco; mas Norberto, que deseja casar a filha com algum negociante rico, recorre mais uma vez à astúcia de seu cunhado, para juntos urdirem calúnias capazes de separar os apaixonados em definitivo.

O romance de Camilo segue nesse modelo já tão desgastado mesmo para sua época. Contudo, devemos considerar que foram esses primeiros trabalhos ficcionais do decênio de cinquenta que deram a Camilo a perícia necessária para compor grandes obras que viriam a partir da década seguinte.

Em Carlota Ângela o que mais fez falta foi aquele narrador buliçoso e intrometido que aqui ainda está engatinhando. De fato, as narrativas de Camilo valem mais pelos artifícios e recursos estilísticos que pelas tramas fabulosas que nunca foram o seu forte. No mais, Carlota Ângela não é um livro para se conhecer ou gostar da novelística camiliana; antes, é obra útil para quem deseja se aventurar no estudo e análise da ficção do grande escritor português.

Avaliação: ★★

Daniel Coutinho

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