sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Trailer do canal "Literatura & EU" que ESTREIA dia 1º de janeiro!


Esse pequeno vídeo dá uma amostra do que haverá no nosso tão ansiado canal Literatura & EU, que estreia dia 1º de janeiro.

Para ficar por dentro de tudo, INSCREVA-SE imediatamente! Para isso, acesse o link abaixo:

Vejo vocês lá! Um abraço do...

Daniel Coutinho

domingo, 25 de dezembro de 2016

Literatura & EU no Youtube!!!


Primeiramente, feliz Natal a todos! Que este final de ano seja cheio de luz e paz para os leitores deste blog, e que 2017 seja um ano recheado de muita felicidade!

E é nesse espírito do Natal que eu vos trago uma grande notícia sobre o destino deste blog, que brevemente deixará de existir. Brincadeira rsrsrs! A notícia é que o "Literatura & EU", além de continuar com suas postagens semanais, contará com um prolongamento muito especial que é o canal "Literatura & EU". Sim, é isso mesmo! A ideia é que, assim como o blog, o canal tenha pelo menos um vídeo novo a cada semana.

O objetivo do canal "Literatura & EU" é, além de continuar incentivando a leitura, trazer o mesmo (ou quase o mesmo) conteúdo do blog, numa linguagem diferente, ainda mais marcada pela oralidade. Desejo através dele atingir um público maior e divulgar ainda mais a literatura brasileira clássica que sempre foi meu foco principal ao criar esta página. Fã dos canais literários e dos chamados booktubers, percebo contudo neles uma carência de conteúdo relacionado aos clássicos nacionais. Como o blog "Literatura & EU" já é uma ferramenta de divulgação desse tipo de conteúdo, julguei por bem transportar parte da matéria dele para um canal no Youtube.

Mas como já disse, o canal "Literatura & EU" será apenas um prolongamento deste blog que continuará existindo com suas postagens regulares. A única mudança que pretendo fazer nele é migrar inteiramente o quadro "Mais Livros!" para o canal, pois percebo que sua ideia se aplicaria muito melhor neste novo formato. Portanto, o último "Mais Livros!" exclusivo do blog será o de dezembro/2016 (especial de black friday).

Espero que tenham gostado da ideia. Estou bastante entusiasmado com ela e desejo que o crescimento do "Literatura & Eu" se baseie não em números, mas em resultados positivos que, para mim, significam: mais pessoas lendo, lendo mais, e com qualidade, é claro!

O canal "Literatura & EU" ESTREIA dia 1º de janeiro, no link a seguir:

A princípio, serão postados vídeos quase todos os dias, muitos deles com conteúdos retirados deste blog. A ideia é dar uma injeção de conteúdo no canal, para animar seu lançamento. Quando acabarem os vídeos que já estão sendo gravados, o ritmo do canal acompanhará (mais ou menos) o ritmo do blog, com pelo menos uma postagem semanal!

FELIZ NATAL e um abençoado 2017 para MIM e para todos VOCÊS!!!


Daniel Coutinho

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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

O Romance de Teresa Bernard, de Maria José Dupré - RESENHA #37

Conheci Maria José Dupré, como a maioria dos leitores, através de Éramos Seis, que li, bem como Dona Lola, sua sequência. Éramos Seis é um livro lindo, singelo e emocionante. A simplicidade do estilo da autora me cativou de tal forma que, pouco tempo depois, fui adquirindo tudo que ela publicara, de maneira que reuni sua obra completa em pouco tempo.

Estava muito indeciso pelo próximo livro que leria da Sra. Leandro Dupré, nome pelo qual era conhecida a autora de Éramos Seis no princípio de sua carreira literária, quando chamou a atenção do público e da crítica, como também de autores renomados da época como Monteiro Lobato. Não sabia se devia começar pelos livros infantis ou pelos demais. Decidi que começaria pelas obras voltadas para o público adulto, em ordem cronológica. Assim, peguei O Romance de Teresa Bernard (1941), muito animado por conhecer a obra de estreia da Dupré. Infelizmente, foi uma má escolha.

Narrado em 1ª pessoa pela própria Teresa Bernard, o livro é uma espécie de caderno de memórias que, ao que parece, vai sendo escrito em pedaços, ao longo da vida da protagonista. Chegou a me incomodar o uso do advérbio “hoje”, especialmente porque a autora não teve a preocupação de organizar as memórias de Teresa por data. Assim, num parágrafo temos “hoje”; no próximo também, mas já é o dia seguinte. Todo dia é “hoje” rsrsrs.

Entendo que O Romance de Teresa Bernard pode ser dividido em duas partes: a primeira, que vai do capítulo I ao XVII; a outra, constituída unicamente pelo capítulo XVIII, que compreende a metade do livro. É isso mesmo que você leu: o último capítulo é a metade do livro! E aqui devo dizer que a primeira metade é tudo o que vale a pena ser lido nessa obra. O resto, pelo menos para mim, foi pura chateação.

Teresa, logo no início do romance, nos conta sobre sua infância sofrida: a perda dos pais, a má vontade de seus parentes, os tempos no colégio interno, sua doença pulmonar, etc. Tudo é contado muito rapidamente, o que também me incomodou. Quando mencionei que a leitura da primeira parte valeria a pena, não quis dizer que a mesma é pura perfeição, mas certamente muito mais tolerável que a segunda. A fluidez dos primeiros capítulos lembrou-me um pouco o estilo doce de Éramos Seis, mas sem o mesmo primor.

Outro ponto a ser questionado é a construção dos personagens. Não consegui simpatizar nenhum. A própria Teresa me chateou várias vezes com seu comportamento estouvado. Até gostava mais dela antes de chegar à vida adulta, quando vivia à mercê de seus tios. Algo que me chamou atenção foram suas experiências literárias, relatadas desde O Guarani e Ana Karenina, lidos na adolescência, até Vicente Blasco Ibáñez, seu autor favorito na maturidade. Em diversas passagens de seu relato, Teresa demonstra ser diferente de sua família, que era de costumes tradicionais. O feminismo é um assunto arranhado pela autora num e noutro momento, mas de forma bastante corriqueira.

No mais, o livro consegue ser razoável até o fim do capítulo XVII, como já disse. O capítulo XVIII transforma o romance num livro de viagens. Teresa, mulher independente que é, decide fazer um itinerário pela Europa com sua dama de companhia. Ao fim deste percurso, ela deveria encontrar-se com Artur, seu amante, em Nova Iorque. Artur é um médico casado, cuja esposa está condenada à morte. A viagem de Teresa é um pretexto para não ter que esperar pela morte da esposa do amante no Brasil. Assim, ela deseja que a mulher de Artur morra logo, para casar-se com ele, e deseja que tudo ocorra antes do encontro deles nos Estados Unidos. Entenderam por que nem com Teresa simpatizei?

A verdade é que, embora não tenha me afeiçoado a nenhum dos personagens, gostava de observar a impressão que eles causavam em Teresa: a severa Tianinha, o apaixonado primo Lúcio, a elegante tia Olívia, a doce avó de Teresa, a fiel e servil Viturina, dentre outros. Por outro lado, a segunda parte consegue ser tão ruim, que todos os personagens aparecidos nela, à exceção daqueles já conhecidos da primeira parte, são desprezíveis figurantes. Eles não têm relevância alguma para a história e me pareceram verdadeiros estranhos. Não conseguia enxergá-los como personagens. Eram criaturas vazias que só serviam para acompanhar Teresa no seu programa interminável de visitas a museus, bares, teatros e outros ambientes públicos. Elizabeth, Simone, Dick, Yvonne, Edouard, Sônia, Maurice, Henry... Todos eles foram verdadeiros estranhos para mim, distantes, como se não fossem personagens de fato.

Os personagens perdem espaço porque o capítulo XVIII é quase todo de intermináveis descrições das cidades visitadas por Teresa. É uma sequência infindável de visitas e encontros noturnos. Teresa troca o dia pela noite e passa a ter uma rotina extremamente extravagante, o que agrava sua moléstia do coração herdada da mãe, e que entendo como uma espécie de punição por seus sentimentos em relação à esposa de Artur. Se por um lado, ela deseja a morte dessa mulher; por outro, tem escrúpulos em que Artur desquite-se dela e isso antecipe a morte da doente. Percebam o egoísmo de Teresa, cuja preocupação não vai além de seus próprios remorsos!

Enfim, não consegui gostar desse livro, e eu bem que tentei rs. Valeu a pena pela primeira parte, que soube ser até agradável, mas não recomendaria a ninguém mesmo, diante de tanta coisa melhor! Foi uma das maiores decepções do ano; tinha em mente que adoraria esse livro; guardei-o para o final do ano justamente por isso, pois gosto de leituras leves e agradáveis nos fins de ano. Não pensem que gosto menos de Mª José Dupré por conta disso. Entendo que um livro de estreia é sempre mais problemático. Mas confesso que fiquei um pouquinho receoso quanto à leitura dos próximos rs. Mas com certeza persistirei minha meta de ler todos, em ordem cronológica. O próximo será Luz e Sombra. Alguém aí já leu? Ficará para o próximo ano. Espero que na leitura dele possa reencontrar aquela escritora fina, delicada e sensível de Éramos Seis.

Avaliação: ★★

Daniel Coutinho

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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Rosinha e Sebastião, de Manoel Pereira Sobrinho - RESENHA #36

Meu primeiro contato com o cordel se deu através da influência do meu pai. Mesmo sendo uma pessoa de baixa escolaridade, meu pai, desde criança, ouvia com atenção os mais velhos lerem/recitarem os livrinhos de feira. Depois que aprendeu a ler, passou a ter um contato mais direto com vários folhetos que circulavam no pé-de-serra onde morava. De tanto ler essas histórias, acabava decorando os versos, e os sabia de cor até alguns anos atrás. Assim, na minha infância, tive a oportunidade de ouvir dele os causos que contavam os tais livrinhos de seu tempo, que ele nunca soube chamarem-se cordéis.

O primeiro e mais querido de todos era um que chamava Rosinha, Sebastião e Heleno. Também ouvia com entusiasmo A Vitória de Floriano e a Negra Feiticeira; O Pavão Misterioso; e O Negrão do Paraná e o Seringueiro do Norte. Quem acompanhou o Mais Livros! de setembro viu que consegui obter todos esses folhetos através das edições Luzeiro. Finalmente, poderei lê-los, eu mesmo, sem perdas de versos esquecidos rsrsrs. Mas a verdade é que os estou economizando. Portanto, de tempos em tempos, é que farei a leitura dessas histórias que tanto me encantaram na infância.

A versão lida por meu pai contém muitas variantes dessa que li, a começar pelo título. Mas em se tratando de uma matéria como o cordel, genuinamente popular, não é de se admirar que os folhetos tivessem mais de uma versão. As variantes, contudo, em nada mudam a história original, que é a mesma em todas as versões que consultei. Manoel Pereira Sobrinho (1918-1995), paraibano, transportou para o cordel várias obras da literatura universal, mas também era reconhecido por suas histórias originais, como é o caso de Rosinha e Sebastião.

A história se passa na Paraíba, onde residem os jovens protagonistas deste folheto, ambos filhos de moradores da fazenda São José. Sebastião, enamorado da bela Rosinha, vive fazendo de tudo para conquistar a moça, mas sua ingenuidade não lhe permite ver que, na verdade, Rosinha só quer tirar proveito dele. Longe de amar Sebastião, Rosinha deseja um casamento vantajoso com um homem que lhe proporcione uma vida diferente, fora do sertão.

Num festejo religioso, Rosinha conhece Heleno, vendedor de miudezas, e fica logo encantada com a classe do moço, a quem logo convida para uma visita em sua casa. A partir desse novo contato de Rosinha, ela passa a desprezar ainda mais Sebastião, que logo fica sabendo o real motivo do súbito desinteresse da moça em relação a ele. Rosinha deixa claro que não vê futuro em homem que vive de serviço pesado; por isso, prefere Heleno, que além de delicado, é muito mais promissor.

Desiludido com seu amor malogrado, Sebastião apronta as malas, deixa os pais e segue com destino a Fortaleza, onde logo é empregado e faz fortuna. Aqui, a sorte de Rosinha e Sebastião começa a mudar consideravelmente. Enquanto Sebastião dá a volta por cima, Rosinha descobre que seu querido Heleno é um homem casado. O destino lhes reserva um novo encontro, mas como as circunstâncias são outras, tanto para um como para o outro, nada garante que os dois possam ficar juntos dessa vez.

Ficou curioso? Pois não deixe de ler esse cordel maravilhoso! Quem não puder adquirir o livreto original da editora Luzeiro, poderá ler online clicando AQUI!

Rosinha e Sebastião é história romântica das mais populares do nordeste. A poesia de Manoel Pereira Sobrinho é bastante agradável e instigante. No entanto, o autor me pareceu embaraçado na construção de algumas rimas, de maneira que ele prescinde da lógica em alguns versos para não perder o esquema rítmico. Em outros casos, ele altera a pronúncia de algumas palavras, como “bênção”, transformando-a em oxítona para rimá-la com “Sebastião”. Foram só esses pequenos detalhes que me incomodaram durante a leitura; felizmente, nada que comprometesse a experiência ou estragasse a fagueira lembrança de infância.

Avaliação: ★★★★

Daniel Coutinho

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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Memorial de Maria Moura, de Rachel de Queiroz - RESENHA #35

Fiquei tão entusiasmado com a leitura de Dôra, Doralina ano passado, que decidi-me a ler Memorial de Maria Moura este ano. Estava guardando para um momento propício, até que ele chegou. Comecei a ler Rachel de Queiroz com O Quinze, sua obra mais famosa. Aprecio bastante o estilo desta minha conterrânea que, através de sua escrita simples e direta, conseguiu atingir um público mais abrangente do que se imagina.

Rachel não é de muitos floreios. Sua linguagem é bastante marcada pela oralidade. Seu regionalismo é acessível e demonstra, até certo ponto, uma preocupação com a compreensão do leitor. Dessa forma, se um personagem “provoca”, como se diz no nordeste, logo se explica que ele vomitou. É uma característica que prezo muito num autor: a preocupação com o entendimento de sua obra, mas de forma dosada, conforme já referi na resenha de Casa de Pensão. Este Memorial de Maria Moura, contudo, para mim, foi mais do mesmo. Não que isto seja ruim, mas a verdade é que não vi muita novidade na obra final da Rachelzinha. De antemão, já vou logo confessando que não gostei do argumento: a menina órfã que, após vingar a morte da mãe, torna-se uma bandida do sertão. Definitivamente não gosto de histórias de bandidos rsrsrs. Mas não foi só isso o que me desagradou na Moura.

Rachel realiza um jogo de narradores na construção de seu romance. A impressão que tive é que ela pretendia dar voz a vários personagens ao longo de toda a obra. A tarefa, contudo, saiu mais difícil do que o planejado. Assim, ela começa com cinco narradores: Beato Romano, Moura, Tonho, Irineu e Marialva. Em seguida, concentra-se apenas em três: Moura, Beato Romano e Marialva; esta última raramente aparece. Para o final, temos apenas a Moura e o Beato Romano, mas a primeira, que é sempre a mais recorrente, termina por narrar sozinha os capítulos finais. A ideia de criar vários narradores num mesmo romance pode ser encrenca. Basta lembrarmos do péssimo Relato de um Certo Oriente. Com Rachel, também não funcionou. Como os títulos dos capítulos são nomeados de acordo com os personagens responsáveis pela narração, ficava evidente o embaraço da autora em sustentá-los. E o que dizer de dois ou três capítulos seguidos narrados pela Moura? É por isso que, paulatinamente, ela vai descartando o artifício à medida que aproxima os narradores ao convívio da Moura. Tonho e Irineu, inimigos da protagonista, acabam sendo descartados da tarefa de narrar. Duarte e Cirino poderiam muito bem substituir os narradores descartados; mas para que Rachel buscaria mais sarna para se coçar, não é mesmo? Teria sido muito mais acertado que o livro fosse todo narrado pela Moura.

Este Memorial não trouxe grandes novidades em sua forma geral. A escrita de Rachel é aquilo de sempre. Seria capaz de reconhecer sem que me dissessem. Talvez a única variante a fugir do convencional seja a rudeza do romance. Parece livro de homem rsrsrs! Fez lembrar aquele caso do lançamento d’O Quinze, quando um crítico desacreditou que fosse livro de mulher. O Memorial é dez vezes mais másculo. Contudo, vez por outra, temos aquele toque feminino, especialmente nos capítulos narrados por Marialva. Rachel também repete muitos elementos de Dôra, Doralina, como: tragédias em família; a paixão avassaladora da Moura por Cirino, tal como a de Dôra pelo Comandante; o grupo de saltimbancos de Valentim, como aquele do Seu Brandini; dentre outros. O caso do Beato Romano foi outro fator que não me chamou atenção. Isso de padres que caem no pecado da carne me parece tema muito batido. Memorial de Maria Moura foi o primeiro livro de Rachel de Queiroz que me pareceu cansativo. A falta de interesse só era combatida pelo prazer de ler a Rachelzinha, que mesmo contando situações maçantes, não perde a graça. Finalmente, a linguagem utilizada não lembra o século XIX. Eu, que sou fã confesso dos romancistas dessa época, já estou bastante afeiçoado à linguagem oitocentista. Não fossem as referências à escravidão e ao regime imperial, situaria a Moura, sem dúvida, em meados do século passado.

A história se situa no sertão nordestino, no tempo do jovem imperador Pedro II. O livro já começa bem movimentado. Senti falta daquela Rachel que prepara o terreno com cuidado antes de entrar em ação. A mãe de Maria Moura supostamente suicidou-se, mas a menina acredita que, na verdade, seu “padrasto” esteja envolvido na morte dela. Liberato não era casado com a mãe da Moura, mas demonstrava um grande interesse em tomar posse dos bens da “suicida”. Ele começa por seduzir a órfã, que não lhe resiste, mas quando percebe seus reais interesses, seduz um homem da fazenda e o convence a matar Liberato. Jardilino, o assassino de Liberato, começa a exigir da Moura o “pagamento” pelo seu serviço, mas a esperta prepara-lhe uma armadilha, e ele acaba morrendo também.

Terminada essa página de tragédias em família, o romance volta-se para uma questão de terras. Os primos da Moura, Tonho e Irineu, querem tomar posse da parte da propriedade que lhes confere. Embora consciente do direito dos primos, a Moura faz resistência, o que leva os primos procurarem a justiça. Obrigada a realizar a partilha, a Moura, para vingar-se, ateia fogo na fazenda e foge em busca da Serra dos Padres. Nessa região, ela deseja encontrar uma propriedade que pertencera a seus antepassados, mas que fora empossada pelos índios. Nessa trajetória, ela segue com João Rufo, seu fiel servidor, e mais três cabras: Zé Soldado, Maninho e Alípio. A intenção da Moura é mesmo formar um exército de homens liderados por ela. Para impor respeito a eles, ela traja-se com as roupas do falecido pai e corta os cabelos. Daí em diante, eles seguem saqueando todos que lhe aparecem no caminho. Moura não permite que matem as vítimas. Seu interesse é apenas tomar posse dos bens dos viajantes: animais, armas, munição, dinheiro, etc. Dessa forma, ela consegue reforços para cumprir com seu plano, que é recuperar as terras de seus avós e construir uma grande Casa Forte, para abrigar a ela e a seu futuro grande exército.

Muitas pedras rolarão a partir do surgimento dessa Moura bandida. Eis uma personagem com quem não simpatizei. A princípio, até compreendi seu momento de fraqueza, seu desejo de vingança, mas nunca concordei com seus métodos radicais. Não conseguia torcer por seus planos, não admirava mesmo suas qualidades, sendo elas aplicadas para fins ilícitos. Enfim, antipatizei totalmente com essa cangaceira metida a macho rsrsrs. Mas o interessante mesmo, e que considero a genialidade do livro, é o fato da Moura não passar de uma farsa. Ela é mulher como as outras, com o coração endurecido, certo, mas com todas as fragilidades da mulher. Há um capítulo em que Rachel deixa isso bem claro, quando a Moura deseja voltar a ser a mulher de antes e viver para o seu amor, Cirino; mas quando percebe que o que o atraía para ela era justamente aquela sutileza do ser, aquela dona Moura tão temida pelos homens, vê-se obrigada a continuar revestida de sua casca grossa.

Memorial de Maria Moura, longe de ser um livro ruim, é apenas mais uma amostra da genial Rachel de Queiroz. Se a mim não causou tanto efeito, é porque, além de não ter simpatizado o enredo, não encontrei na obra grandes novidades, como já disse. É a mesma Rachel de sempre, talvez um pouco mais embrutecida, mas sem deixar de conter o talento que a consagrou como uma das maiores escritoras brasileiras de todos os tempos.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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