Os romances
do século XVIII, de modo geral, não envelheceram muito bem. A produção do
século seguinte, sendo mais aprimorada e superior, tornou o leitor contemporâneo
bastante exigente. Deve-se contudo levar em conta os fatores que caracterizam a
ficção dessa época. Uma narrativa mais lenta, didático-moralista, com
personagens e situações artificiais, atendia suficientemente os leitores de
então.
Em O Vigário de Wakefield, temos uma
narrativa lúcida e objetiva desde a primeira frase. Charles Primrose, o vigário
do título, é um narrador competente que, com muita habilidade, conta-nos sua
história sem maiores dificuldades. Assim, ele nos apresenta sua casa, sua
lareira e, o mais importante, sua família.
Charles e
sua esposa Deborah viviam confortavelmente com seus filhos, mas a fuga do
comerciante que cuidava do dinheiro do vigário acaba abalando a situação
financeira da família, que precisa mudar de casa, como também de estilo de
vida.
Charles, em seu
estoicismo, procura conduzir os seus pelo caminho da resignação e da humildade,
enaltecendo o valor da família e da vida simples mas honrada. A princípio, a
vaidade da esposa e das filhas sofre um pouco com as novas condições, mas
outras circunstâncias poderão dificultar ainda mais a felicidade doméstica.
George, o
mais velho dos rapazes, aparta-se da família em busca de aplicar seus estudos
num trabalho digno. Olívia, a filha mais velha, acaba se apaixonando pelo
proprietário da nova moradia, o senhor Thornhill, cuja reputação é bastante
duvidosa. Sophia, por sua vez, é cortejada pelo misterioso senhor Burchell que,
desprovido de fortuna, não pode lhe oferecer um casamento vantajoso.
Uma série de
dificuldades se interpõe à felicidade da família de Charles, mas sua postura
diante dos problemas será a fortaleza que sustentará seu tão querido lar. Ao longo
dessa trajetória, o leitor encontra não poucas passagens dignas de marcação,
principalmente pela grandeza de seus sábios ensinamentos.
A primeira
metade do romance acabou me agradando mais pela leveza, fluência e simplicidade
das cenas, que são de um colorido único. Após um episódio mais grave com
Olívia, porém, o livro muda de tom, tornando-se mais carregado e repleto de
embaraços que põem à prova a serenidade do bom vigário e até mesmo a paciência
do leitor.
O romance de
Oliver Goldsmith, apesar de seus exageros, felizmente, não cai em incoerências.
As voltas e reviravoltas da trama são devidamente explicadas, ainda que um tanto
apressadamente. A impressão final foi-me bastante positiva e, se a primeira
frase do romance já fora digna de marcação, a última certamente jamais será
esquecida.
Avaliação: ★★★★
Daniel Coutinho
***
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