quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

O Vigário de Wakefield (The Vicar of Wakefield), de Oliver Goldsmith - RESENHA #173

O Vigário de Wakefield é daqueles livros com que sempre nos deparamos através de referências, ou seja: muitos conhecem, mas poucos leram de fato. Embora menos lembrado atualmente, o clássico do irlandês Oliver Goldsmith foi grandemente apreciado e popular desde seu lançamento em 1766.

Os romances do século XVIII, de modo geral, não envelheceram muito bem. A produção do século seguinte, sendo mais aprimorada e superior, tornou o leitor contemporâneo bastante exigente. Deve-se contudo levar em conta os fatores que caracterizam a ficção dessa época. Uma narrativa mais lenta, didático-moralista, com personagens e situações artificiais, atendia suficientemente os leitores de então.

Em O Vigário de Wakefield, temos uma narrativa lúcida e objetiva desde a primeira frase. Charles Primrose, o vigário do título, é um narrador competente que, com muita habilidade, conta-nos sua história sem maiores dificuldades. Assim, ele nos apresenta sua casa, sua lareira e, o mais importante, sua família.

Charles e sua esposa Deborah viviam confortavelmente com seus filhos, mas a fuga do comerciante que cuidava do dinheiro do vigário acaba abalando a situação financeira da família, que precisa mudar de casa, como também de estilo de vida.

Charles, em seu estoicismo, procura conduzir os seus pelo caminho da resignação e da humildade, enaltecendo o valor da família e da vida simples mas honrada. A princípio, a vaidade da esposa e das filhas sofre um pouco com as novas condições, mas outras circunstâncias poderão dificultar ainda mais a felicidade doméstica.

George, o mais velho dos rapazes, aparta-se da família em busca de aplicar seus estudos num trabalho digno. Olívia, a filha mais velha, acaba se apaixonando pelo proprietário da nova moradia, o senhor Thornhill, cuja reputação é bastante duvidosa. Sophia, por sua vez, é cortejada pelo misterioso senhor Burchell que, desprovido de fortuna, não pode lhe oferecer um casamento vantajoso.

Uma série de dificuldades se interpõe à felicidade da família de Charles, mas sua postura diante dos problemas será a fortaleza que sustentará seu tão querido lar. Ao longo dessa trajetória, o leitor encontra não poucas passagens dignas de marcação, principalmente pela grandeza de seus sábios ensinamentos.

A primeira metade do romance acabou me agradando mais pela leveza, fluência e simplicidade das cenas, que são de um colorido único. Após um episódio mais grave com Olívia, porém, o livro muda de tom, tornando-se mais carregado e repleto de embaraços que põem à prova a serenidade do bom vigário e até mesmo a paciência do leitor.

O romance de Oliver Goldsmith, apesar de seus exageros, felizmente, não cai em incoerências. As voltas e reviravoltas da trama são devidamente explicadas, ainda que um tanto apressadamente. A impressão final foi-me bastante positiva e, se a primeira frase do romance já fora digna de marcação, a última certamente jamais será esquecida.

Avaliação: ★★★★

Daniel Coutinho

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