Todos os
anos a Literatura me proporciona boas surpresas, e Ramona já é uma das melhores deste ano. Trata-se do romance mais
famoso da norte-americana Helen Hunt Jackson, que inexplicavelmente foi muito
pouco difundido por aqui, não obstante ter sido “a cabana do Pai Tomás” dos
povos indígenas.
Ramona (1884) é de
uma simplicidade e candura que me lembrou os romances de Alencar. A primeira
parte do livro fascina pela delicadeza e colorido das cenas, desenhadas no
propósito de serem agradáveis ao leitor. Na segunda parte, porém, o ritmo é
outro. Acompanhamos os personagens centrais numa trajetória frenética de luta
pela sobrevivência. Em todos os momentos da trama, o livro se mantém excelente,
e não há um só capítulo que possa ser considerado ruim.
Ramona é a
filha de um homem branco, Angus Phail, com uma índia desconhecida. Foi entregue
ainda bebê pelo pai à mulher que fora seu grande amor, a senhora Ramona Orteña.
Pressentindo sua morte próxima, a senhora Orteña decide entregar a criança aos cuidados
de sua irmã, a senhora Moreno, que mesmo sendo uma mulher religiosa, alimenta
fortes preconceitos em relação à menina, por esta ser mestiça.
Ramona é
criada pois como filha adotiva pela família Moreno, mas é constantemente
tratada com muitas reservas pela senhora, que não consegue disfarçar a repulsa
que sente pela garota. Por outro lado, Filipe, que torna-se o homem da casa
após a morte do pai, dedica os sentimentos mais amistosos para com sua irmã de
criação, sentimentos estes que encobrem uma paixão proibida.
A história
se passa no estado da Califórnia, no período que sucede a independência dos
Estados Unidos, quando os americanos realizam a ocupação de terras que antes
pertenciam a povos indígenas. Muitas famílias mexicanas, como os Moreno, também
perderam boa parte de suas propriedades nessa época.
No período de
tosquia das ovelhas, a família Moreno convoca vários índios para o trabalho.
Dentre eles, destaca-se Alexandre, cujo talento musical e conhecimentos de
leitura elevam-no perante sua raça. Filipe sugere mesmo que Alexandre substitua
o antigo capataz que, após um acidente, fica impossibilitado de cumprir suas
funções na fazenda; mas a paixão nascente entre Ramona e Alexandre mudará
completamente o rumo dos acontecimentos.
Ramona é um livro
surpreendente por diversos motivos. Mesmo seguindo a linha do romance romântico,
seus personagens revelam certa complexidade, que seria melhor explorada pela
escola realista. A senhora Moreno, por exemplo, chama atenção pelo poder de
manipular principalmente o próprio filho, fazendo-o crer que as decisões
tomadas por ela são na verdade dele. Há também passagens em que seu tratamento
para com Ramona indicam contradições que a tornam muito mais humana aos olhos
do leitor.
Enriquecem o
livro personagens de segundo plano que desempenham muito bem seus papéis. O
padre Salvierderra é um tipo muito simpático que, mesmo tendo uma participação
mínima na trama, consegue ser memorável. Margarida, conquanto não seja uma
grande vilã, realiza perfeitamente o papel da invejosa irritante. E o que dizer
de tia Ri? Ela simplesmente rouba a cena nos capítulos finais com seu jeito
falante e carismático.
Ramona é um livro
completo, mesmo com suas imperfeições. É aquele tipo de livro que, quando
concluída a leitura, enche-nos da sensação de que emergimos de uma experiência
fantástica. Embora tenha me desagradado nesta ou naquela passagem, injusto
seria negar sua grandiosidade.
Avaliação: ★★★★
Daniel Coutinho
***
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Fiquei interessada. Resta saber se consigo encontrar em algum sebo perto de casa... Obrigada!
ResponderExcluirAcho que você encontra no site Estante Virtual. Vale muito a pena. Livraço! ;)
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