Todos vocês
devem conhecer Malba Tahan e talvez até já tenham lido O Homem que Calculava. Mas aposto que não sabiam da existência de
um irmão mais velho do autor e que, como ele, era excelente prosador. Que
maravilha que foi para mim conhecer, neste começo de ano, a ficção de João
Batista de Melo e Souza.
Majupira (1938) é um
romance romântico do século XX e, talvez por se associar a esse Romantismo
tardio, acabou ficando esquecido. É bem verdade que, de modo geral, os gostos
mudaram bastante desde a primeira geração modernista. Mas sempre haverá
leitores que, como eu, têm interesses diferenciados.
João Batista
teve a proeza de construir uma narrativa cuja leveza se preserva do início ao
fim. Mesmo os episódios mais movimentados e embaraçosos são suavizados por um
estilo “fofo” e “bonitinho”. O primeiro terço do romance talvez seja o que mais
surpreende, pois nada de sensacional acontece, e mesmo assim o livro consegue
ser vívido e cativante.
A pacata
vilazinha do Pequiri servirá de moldura ao idílio de Osvaldo e Maju: ele, um
médico que veio do Rio para averiguar o sítio que servirá de sede para uma
fábrica de laticínios; ela, a simpática e recatada professora da vila. O
romance dos dois dá-se naturalmente, encontrando oposição apenas na negativa do
pai do moço.
O título do
livro foi que não me pareceu dos mais acertados. Majupira é um grupo de
garotos, todos eles alunos da Maju, que se reúnem para brincadeiras e pequenas
missões. Mas afora Pedro Luiz, chefe do grupo, os outros meninos têm uma
participação modesta na história. Por mais que o Majupira simbolize a união e o
patriotismo que reverberam em toda a obra, o livro é muito mais sobre Majulinha
e os demais moradores do Pequiri.
É uma
delícia acompanhar os tipos do lugar e suas pequenas intrigas. O autor é dotado
de um senso de humor bastante agradável; humor simples, sem malícia, do tipo
que provoca bem-estar em quem o absorve. Glorinha, uma quase-irmã de Maju, é
dos tipos que mais me divertiram. Seu olhar crítico para com os moradores do
lugar; sua pose de mulher autoritária perante o Genelício, seu noivo; sua
linguagem toda peculiar e cheia de trocadilhos; tudo isso torna a leitura ainda
mais interessante.
A figura do
vilão na pessoa do inspetor Altino Soares também rende bons momentos ao livro.
A princípio, a participação dele parece ser de mínima importância, pouco
sugerindo do rebuliço que acaba se desdobrando das intrigas que conspira contra
a inocente Majulinha.
E o que
dizer de Pedro Luiz? Um típico personagem alencarino, daqueles que, além de
terem as melhores qualidades, empregam-nas na execução de planos e missões que
salvam os mocinhos e castigam os vilões. Como se não bastasse ele ser um
personagem adorável, seu romancezinho com Guaraciaba, a afilhada de Maju,
conquista de vez o coração do leitor.
Majupira é, em
resumo, um livro lindo. Possivelmente não agradará leitores muito exigentes ou
que sejam mais afeitos a histórias contemporâneas. É um romance para pessoas
que são sensíveis à simplicidade dos pequenos lugares e à prosa gostosa de seus
habitantes. É o tipo de livro que infelizmente não se escreve mais.
Avaliação: ★★★★
Daniel Coutinho
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