sábado, 21 de dezembro de 2019

Nina, de Joaquim Manuel de Macedo - RESENHA #117

Na carreira de Alencar há um livro que, penso, destoa bastante do conjunto fabuloso de sua produção romanesca. Trata-se de Diva (1864), que integra a trilogia “Perfil de mulher”. Na história, temos Emília, ou simplesmente Mila, garota caprichosa que faz o inferno na vida de Augusto, um modesto médico.

Fora impossível não associar este romance de Alencar à minha última leitura. Em Nina (1869), de Joaquim Manuel de Macedo, Nicolina, ou simplesmente Nina, é uma garota caprichosa que faz o inferno na vida de Firmiano, um modesto provinciano.

Criado por sua irmã Escolástica após a morte dos pais, Firmiano, tendo concluído seus estudos, decide tentar a vida no Rio de Janeiro. Munido de boas cartas de recomendação, ele vislumbra um emprego público modesto, mas satisfatório. Sua dedicada irmã, contudo, ambiciona para Firmiano uma carreira literária e incumbe-lhe da composição de um romance.

O amigo Félix fá-lo crer que o caminho mais seguro para inspirar-se é a paixão de uma mulher. Numa visita ao Passeio Público, Firmiano acaba encontrando sua musa inspiradora: Nicolina. Este primeiro encontro é marcado por um episódio bem humorado em que o jovem provinciano é feito de bobo pela terrível moça.

Nina, como é chamada desde criança, é a filha única de André de Sousa e Gervásia, que a conceberam em idade já avançada. A criança fora criada cercada de mimos e atenções, daí seu temperamento voluntarioso e índole caprichosa. Mas, apesar destes senões, Nina é de natureza boa e amorosa, sendo capaz de sacrificar-se para reparar alguma falta praticada.

Conhecendo que Firmiano era filho de um antigo amigo de seu pai, ela desculpa-se sinceramente, convidando-o a frequentar sua casa. O moço acaba cedendo aos encantos da tentadora menina, mas sabendo-se pouco belo e sem fortuna, julga-se incapaz de ganhar o coração de Nina, estando esta noiva do doutor Vidal, um cavalheiro formoso e rico.

Firmiano passa a ignorar as atenções de Nina, na tentativa de curar-se de sua nascente paixão, mas a indiferença dele excita o orgulho da caprichosa garota que, para vingar-se, decide antecipar seu casamento com Vidal, que nega-se ao desejo da noiva em respeito ao luto por seu finado pai. Ferida novamente em seu orgulho, Nina descompromete-se com Vidal e, para afrontá-lo com mais denodo, sugere preferir a Firmiano, um candidato em tudo inferior.

O romance segue nesse joguinho de namorados que muito me lembrou outro romance de Macedo: Rosa, que acaba saindo-se melhor por sua jocosidade. Em certo ponto também nos lembra Vicentina, quando, numa digressão, Macedo põe em julgamento a má-criação recebida por Nicolina, cujos pais eram excessivamente indulgentes.

Obra menor (tanto em qualidade como em extensão), o romance é econômico em personagens. Além dos já citados, apenas Erícia também participa ativamente da trama. É a melhor amiga de Nina, mas que, em razão dos caprichos desta, acompanhará Firmiano em sua desdita.

Se Diva é o romance de Alencar que menos simpatizo, Nina é, por seu turno, dentre os romances que já li do doutor Macedinho, o menos interessante. A escrita elegante e o estilo agradável de sempre do autor, contudo, não inutilizam a experiência de leitura. O desfecho da trama pode até parecer injusto, mas fica justificado quando percebemos que Macedo é um pai tão indulgente quanto André de Sousa.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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