segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Rosa, de Joaquim Manuel de Macedo - RESENHA #72

Já estava me coçando outra vez para ler um romance do Dr. Macedinho e, quem sabe, surpreender-me novamente, que nem ocorreu com Os Dois Amores ano passado. Já havia separado, para este ano, Rosa e O Rio do Quarto. Decidi pegar o primeiro, verdadeiro calhamaço de quase seiscentas páginas, mas a experiência não foi muito animadora.

Rosa (1849) é, até agora, o romance mais fraco dos que li de Macedo. Nele estão bastante evidenciados os defeitos mais apontados pela crítica, como repetição de fórmulas, personagens-tipo, diálogos prolongados, situações exageradas, etc. Lembrou-me bastante a experiência que tive com O Moço Loiro, principalmente pelo caráter picaresco que, em Rosa, é mais acentuado. De fato, ri-me como há muito não fazia, tantas eram as situações jocosas descritas no romance. O humor de Macedo, que sustentou o meu interesse até a última página, não é daqueles que provocam um sorriso simplesmente, mas verdadeiras gargalhadas, daquelas que tiram o fôlego rs.

O que mais prejudicou o livro, a meu ver, foram os excessos. Rosa definitivamente não precisava ter mais de quinhentas páginas, pois seu enredo insípido não carecia de tanto. Os personagens, quase todos, sugeriam adaptações de tipos já conhecidos. Rosa parecia uma versão pouco mais adulta de dona Carolina; Juca, uma mistura de Lauro e Américo; e o hilário comendador Sancho, uma cópia fiel do presumido Brás-mimoso. Os demais também não me eram estranhos, mas dispensem-me, por favor, do trabalho de pesquisar os respectivos. A figura menos comum era o velho Anastácio, tio de Rosa, que com seu estilo carrança e impaciente, rendeu algumas das cenas mais atrativas do romance.

Rosa é uma linda moça de dezoito anos, espirituosa e travessa, vaidosa e sagaz, que vive na companhia de seu pai Maurício, que a cobre de mimos, na tentativa de compensá-la pela morte da mãe. Mostrando-se indiferente à ideia do casamento, Rosa nutre em si a esperança de que seu primeiro amor regresse para desposá-la. O objeto de tão dedicado amor é José, ou simplesmente Juca, um moço boêmio, irresponsável e metido a conquistador.

Juca precisou estudar na Bahia por um tempo, mas acabou corrido de lá, graças a uma de suas enrascadas, descrita da forma mais engraçada possível. De volta ao Rio de Janeiro, ele acaba conseguindo convite para um baile, onde logo reencontra Laura, outra moça de seu conhecimento, a quem logo corteja. Rosa, que também estava presente, acompanha com discrição todos os passos do estudante. Julgando-se traída, Rosa assume uma postura diferente da sua, para irritar Juca: faz-se de namoradeira e trata todos os homens por igual. De sua parte, Juca planeja uma vingança que consiste em fingir-se apaixonado pela filha de Maurício para ignorá-la depois. O que os dois acabam fazendo de verdade é provocar ciúmes um no outro. Rosa, desiludida com o amor, planeja casar-se com o velho Sancho; Juca, do mesmo modo, propõe casamento à dona Irene, uma viúva rica. Anastácio, o tio de Rosa, tentará contudo consertar tais embaraços, antes que seja tarde.

No meio dessas intrigas desenxabidas, Macedo não deixa de lançar suas críticas à sociedade do seu tempo. Como já fizera n’O Moço Loiro, mais uma vez ele censura o casamento por interesse. Faustino, amigo de Juca, por exemplo, possui um “catálogo das suas vinte e cinco noivas”, com o qual estuda qual casamento lhe pode ser mais favorável. Outro tipo a quem o autor não perdoa é o velho/velha que quer por força passar-se por moço/moça. O comendador Sancho e a viúva Irene sofrerão os maiores constrangimentos em razão de suas pretensões. O livro completa-se ainda com alguns outros tipos reprovados pelo autor: o pai muito complacente, o usurário avarento, a velha que lê futilidades, dentre outros.

Foram muitas as razões que me fizeram desgostar de Rosa. A protagonista e seu amado são excessivamente infantis e seus conflitos em nada ganhavam o meu interesse, tão bobos que eram. Os diálogos infindáveis, muito pormenorizados, deixavam a leitura maçante e arrastada. Os personagens secundários não compõem subtramas cativantes ou que colaborem com o progresso da narrativa. Há, enfim, inúmeros episódios desnecessários que só serviram para dar volume ao livro.

Não fosse o humor que perpassa todo o livro, Rosa seguramente teria um valor praticamente nulo. Imagino que a obra tenha sido escrita ligeiramente, já que saiu apenas um ano depois d’Os Dois Amores. A verdade é que Macedo, mesmo num romance “menor”, ainda é Macedo: o de escrita agradável, bem-humorada e impregnada de bons sentimentos. Ainda estou para ler um romance dele que seja inteiramente desagradável! Espero que não aconteça rs.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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2 comentários:

  1. Eu gostei dessa obra , e concordo plenamente quando diz que é muito exagero o livro ter mais que 500 páginas

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    1. Sim, não carecia ter sido tão esticado, mas Macedo era mesmo simpatizante de história comprida rs.

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