sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

A Menina da Chuva, de Bruno Paulino - RESENHA #91

Conheci a obra de Bruno Paulino ano passado quando li Pequenos Assombros, que me permitiu divisar um escritor promissor. Só não julgava confirmar tal impressão por uma obra anterior.

A Menina da Chuva (2013), já em 2ª edição, é uma coletânea de crônicas, segunda de seu autor, que mescla humor e poesia de maneira formidável. Arrisco dizer que o autor nos cativa desde a primeira crônica, que dá título ao livro, e nos mantém presos (sem nenhum esforço) até o poema que encerra o conjunto.

Pareceu-me que um menino, desgrenhado e descalço, pegava-me pela mão e me levava por uma cidade toda azul, cheia de corrupiões e borboletas amarelas. Em nosso percurso poético, contemplamos tantas belezas, que acabamos descobrindo ser possível entender as lições da vida em momentos felizes, de alegria simples.

Enquanto lia as crônicas d’A Menina da Chuva, esquecia-me que se tratava de obra de autor contemporâneo. É que os escritores atualmente parecem estar tão concentrados nas vilanias e torpezas do caráter humano, que temos a impressão de que a literatura de hoje é a mais pessimista de todos os tempos.

Ouvi uma vez uma grande baboseira (não lembro mais de quem) sobre a incapacidade de atrair leitores com assuntos amenos. O livro de Bruno é prova cabal contra esse tipo de comentário. Afinal, imagino que não devo ter sido o primeiro leitor a se impressionar com a delicadeza de seu estilo otimista.

A crônica de Bruno transita entre a memória e a poesia, animada por um leve toque de humor. É como se, a partir de uma lembrança, lhe fosse sugerido um tema, a matéria de seus textos. As experiências pessoais são trabalhadas e convertidas numa literatura leve e aconchegante, que reflete o que há de melhor no mundo: gentileza, felicidade, família, amigos, amor... (Bruno talvez incluísse videogames aqui, mas esta resenha é minha!).

Seria muito trabalhoso destacar as crônicas de que mais gostei, já que nenhuma me desagradou em absoluto. Não estou dizendo que A Menina da Chuva é um livro perfeito. Não escaparam ao meu radar os descuidos de linguagem, erros de revisão e problemas de editoração do texto. Mas conforme já questionei na resenha d’Os Dois Amores, do querido Macedo (outro otimista): o que representam essas falhas diante de tanta grandiosidade a ser apreciada?

É uma grande felicidade saber que ainda há quem escreva livros como o do Bruno. Obrigado, cronista, por me fazer lembrar de que o mundo pode ser bom, mas tão bom, que nem carece de ser entendido.

Avaliação: ★★★★★

Daniel Coutinho

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