Preparando-me psicologicamente para encarar as
macabras histórias de Algernon Blackwood, que devo ler em breve, decidi dar uma
chance a este livrinho que caiu-me às mãos recentemente (presente de um amigo
poeta), cuja proposta muito me interessou.
Lançamento deste ano, Pequenos Assombros, do cearense Bruno Paulino, encerra contos e
crônicas que exploram o universo do terror, seja através do reconto de causos
populares, como também da expressão pessoal de um aficionado do gênero.
Os dez trabalhos publicados na coletânea
atendem, todos eles, a uma concisão que beira mesmo o sobrenatural rs. Esse limitado
espaço assentou mais às narrativas de caráter pessoal, como “Visagem”, “Um
velho gato”, “O exterminador de lagartixas” e “O despertar dos cassacos”, que
não por coincidência figuram entre os melhores textos do conjunto.
Por outro lado, a tentativa de registrar casos
conhecidos, especialmente de nossa região, não vingou com a mesma comodidade no
livro, dada a força dos argumentos que exigiam um desenvolvimento mais
destacado. “O mistério no céu do Salva-Vidas”, por exemplo, recordou-me uma das
histórias mais antigas contadas por meu pai, com pormenores mais significativos
até. Estou mesmo embirrando porque não consigo lembrar o nome que se dava ao
tal objeto voador aludido na história dele. Prometo perguntar de novo assim que
possível e publicar nos comentários rs.
Também já conhecia (e acho que todo mundo rs) as
lendárias botijas que faziam enriquecer os sortudos que as encontrassem. Um
episódio similar é ricamente registrado por Franklin Távora em “O tesouro do
rio”, nas suas esquecidas Lendas e Tradições Populares do Norte, já resenhadas por aqui também. O curioso do
conto de Bruno, “A botija de dona Guidinha”, é justamente o aproveitamento da figura
histórica de Marica Lessa, imortalizada como Margarida, ou simplesmente
Guidinha, na obra máxima de Oliveira Paiva.
Destaco ainda “Excertos do estranho diário do
Dr. Albuquerque”, que apresenta uma história de lobisomem por um artifício que
me pareceu bastante conveniente, principalmente pela sugestão sutil de uma
confissão, uma revelação que poderia implicar (quem sabe) um sentimento de
culpa. As demais narrativas, conquanto mereçam algum interesse, sufocaram na
concisão exagerada, como um sapato que nos aperta o pé.
Pequenos
Assombros, com o talento demonstrado por seu autor, poderia ter saído
muito melhor com umas cem páginas a mais. Irritou-me ver num livro tão curtinho
aqueles bobos erros de revisão, com que sempre implico; mas, felizmente, longe
(muito longe) de superar o recordista História entre Mundos. Lembram-se dele rs?
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
***
Instagram: @autordanielcoutinho
SKOOB: http://www.skoob.com.br/usuario/1348798 Escreva para o blog: autordanielcoutinho@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário