quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Pequenos Assombros, de Bruno Paulino - RESENHA #80

Preparando-me psicologicamente para encarar as macabras histórias de Algernon Blackwood, que devo ler em breve, decidi dar uma chance a este livrinho que caiu-me às mãos recentemente (presente de um amigo poeta), cuja proposta muito me interessou.

Lançamento deste ano, Pequenos Assombros, do cearense Bruno Paulino, encerra contos e crônicas que exploram o universo do terror, seja através do reconto de causos populares, como também da expressão pessoal de um aficionado do gênero.

Os dez trabalhos publicados na coletânea atendem, todos eles, a uma concisão que beira mesmo o sobrenatural rs. Esse limitado espaço assentou mais às narrativas de caráter pessoal, como “Visagem”, “Um velho gato”, “O exterminador de lagartixas” e “O despertar dos cassacos”, que não por coincidência figuram entre os melhores textos do conjunto.

Por outro lado, a tentativa de registrar casos conhecidos, especialmente de nossa região, não vingou com a mesma comodidade no livro, dada a força dos argumentos que exigiam um desenvolvimento mais destacado. “O mistério no céu do Salva-Vidas”, por exemplo, recordou-me uma das histórias mais antigas contadas por meu pai, com pormenores mais significativos até. Estou mesmo embirrando porque não consigo lembrar o nome que se dava ao tal objeto voador aludido na história dele. Prometo perguntar de novo assim que possível e publicar nos comentários rs.

Também já conhecia (e acho que todo mundo rs) as lendárias botijas que faziam enriquecer os sortudos que as encontrassem. Um episódio similar é ricamente registrado por Franklin Távora em “O tesouro do rio”, nas suas esquecidas Lendas e Tradições Populares do Norte, já resenhadas por aqui também. O curioso do conto de Bruno, “A botija de dona Guidinha”, é justamente o aproveitamento da figura histórica de Marica Lessa, imortalizada como Margarida, ou simplesmente Guidinha, na obra máxima de Oliveira Paiva.

Destaco ainda “Excertos do estranho diário do Dr. Albuquerque”, que apresenta uma história de lobisomem por um artifício que me pareceu bastante conveniente, principalmente pela sugestão sutil de uma confissão, uma revelação que poderia implicar (quem sabe) um sentimento de culpa. As demais narrativas, conquanto mereçam algum interesse, sufocaram na concisão exagerada, como um sapato que nos aperta o pé.

Pequenos Assombros, com o talento demonstrado por seu autor, poderia ter saído muito melhor com umas cem páginas a mais. Irritou-me ver num livro tão curtinho aqueles bobos erros de revisão, com que sempre implico; mas, felizmente, longe (muito longe) de superar o recordista História entre Mundos. Lembram-se dele rs?

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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