segunda-feira, 6 de junho de 2016

Aquarelas, de Léo Prudêncio - RESENHA #15

Hoje, vou falar de um livro muito fofo que, de certa forma, até me surpreendeu por sua extrema delicadeza e sensibilidade. Trata-se de um lançamento imperdível deste ano, Aquarelas: haicais, de Léo Prudêncio.

Sim... É aquele livro amarelo com passarinhos na capa do Mais Livros! de abril rsrsrsrs. Estava muito ansioso para lê-lo, mas como estava ocupado com os casos sobrenaturais de Os Mistérios de Udolph0, tive que esperar um tempinho; mesmo assim, Aquarelas furou a fila de leituras que preparei para o ano, mas merecidamente. Confesso que fico empolgado com lançamentos de amigos, porque sim, Léo Prudêncio é meu amigo e ex-colega do Curso de Letras. Deixem pois que fale um pouquinho do autor, até para apresentá-lo a leitores que ainda não o conheçam.

Léo Prudêncio é natural de São Paulo, mas foi no meu Ceará que ele passou a maior parte da sua vida. Um apaixonado pela leitura, não esconde sua preferência pela “poesia” e, desde cedo, foi um apreciador dos grandes poetas brasileiros. A “música” é outra paixão que sempre lhe motivou; nem sei bem se veio antes ou depois da “poesia”; mas a verdade é que música e poesia estão estreitamente ligadas e em constante comunicação. Na poesia de Léo Prudêncio, contudo, a música sobressai enquanto influência, o que deixa bem claro sua obra de estreia: Baladas para Violão de Cinco Cordas (2014).


Esse livro de estreia é obra interessantíssima, a começar pelo projeto gráfico que brinca ao buscar assemelhar-se a um disco de vinil. Os poemas se dividem em duas partes: Lado A e Lado B; e uma porção de outros recursos criativos é empregada com muita felicidade no Baladas, que é mesmo obra genial!

Após tão entusiasmada estreia, o estro de Léo foi buscar na cultura japonesa matéria para sua nova obra, já tão ansiada pelos seus leitores. Assim, o “haicai” foi o gênero escolhido para vazar sua inspiração. Se você não sabe, assim como eu também não sabia, que diabo é “haicai”, deixem que explique resumidamente. “Haicai” é uma forma poética de origem japonesa, que se popularizou e se tornou conhecida em todo o mundo a partir da obra de Bashô, que pode ser considerado o pai do “haicai”. A estrutura clássica do haicai é: estrofe única de três versos (terceto), sendo o primeiro e o último pentassílabos, e o do meio heptassílabo. No Brasil, Guilherme de Almeida difundiu o “haicai” a partir de sua obra Poesia Vária (1947), sendo que, antes, já havia divulgado um pouco da cultura haicaiana através do jornal.


Lendo Aquarelas, pude entender o porquê desse título. De fato, cada haicai é como se fosse a transposição de um quadro em palavras, porque o livro é isso: reunião de 99 detalhes ou impressões sobre o mundo: o homem, os animais, a natureza, a própria vida. Para mim, foi uma novidade, e das boas! É diferente, claro, especialmente quando é seu primeiro contato com o gênero. A princípio, parece meio estranho essa sequência de composições breves, mas depois que passei a encará-las como “aquarelas” que falam pelo silêncio, como menciona a prefaciadora, aproveitei melhor a experiência.

Os temas, conforme já referi, são diversos. As composições não obedecem estrutura métrica ou rítmica. A surpresa maior que tive com a leitura foi o estilo: a leveza, a singeleza e a delicadeza sobretudo. Os haicais reproduzem imagens tão simples e despretensiosas (em sua maioria), que em algum momento, esqueci que estava lendo Léo Prudêncio com toda sua poesia moderna. Talvez por inspirar-se numa forma clássica, a impressão que tive deste novo livro foi diferente à do anterior: percebi uma universalidade maior nessa representação da natureza, entremeada algumas vezes por outras influências, como a “música”, que não poderia faltar. Fiquei feliz por reconhecer nas páginas de Aquarelas a natureza cearense: a serra da Meruoca, nossos cajus e seriguelas.


É meio difícil escrever sobre poesia, ainda mais quando na brevidade e no silêncio, diz-se tanta coisa! É uma experiência mais para se sentir do que para comentar. Para concluir, só queria revelar que se Baladas para Violão de Cinco Cordas apreciei pelo som; Aquarelas apreciei pela imagem.

Audição, visão... Ô, Léo Prudêncio, seu próximo livro será olfato? rsrsrs

Avaliação: ★★★★

Daniel Coutinho

*** 

Instagram: @autordanielcoutinho
SKOOB: http://www.skoob.com.br/usuario/1348798
Escreva para o blog: autordanielcoutinho@gmail.com

***

Adquiram o livro Aquarelas: haicais, de Léo Prudêncio (lançamento 2016!).
> Com o autor:
> Blog do Léo Prudêncio:
https://prudencioleo.wordpress.com/

2 comentários:

  1. Que belíssimo texto Daniel! Você soube captar a ideia do livro e dos haicais. Muito bom saber que o que venho escrevendo tem agradado amigos e desconhecidos. Parabéns pelo blog, tenho acompanhado seus textos com regularidade. Abraço!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Neste caso, o mérito é seu! Até me influenciou a conhecer mais da cultura haicaiana: Bashô, Guilherme de Almeida...

      Excluir