A
célebre história de Rodolfo, o príncipe alemão que, após a trágica perda de sua
filha, decide passar-se por homem do povo, a fim de levar auxílio e socorro à
classe mais miserável de Paris. Esse é o mote de uma das obras mais populares
da história da literatura universal: Os
Mistérios de Paris, de Eugène Sue.
***
Há
muito tempo tinha vontade de ler Os
Mistérios de Paris, do francês Eugène Sue, mesmo sendo tal obra desprezada
pela crítica mais austera. Contudo, aclamada como folhetim dos folhetins, esta
obra sempre despertou minha curiosidade. Conta-se que os doentes adiavam a
morte para não perderem o folhetim do dia seguinte, que era acompanhado não só
na França, mas em boa parte do mundo.
Sou
apaixonado pela cultura folhetinesca. Queria ter vivido nessa época só para
acompanhar os folhetins rsrsrs. Felizmente, hoje, temos muitas dessas obras
reunidas em livro; e, embora muitos críticos menosprezem a cultura do folhetim,
devemos lembrar que grandes gênios da Literatura fizeram carreira através dele,
como Balzac, Dickens, Victor Hugo e muitos outros.
Les Mystères de Paris foi publicado pela
primeira vez no Journal des débats,
de 19 de junho de 1842 a 15 de outubro de 1843. Causou grande impacto na época,
especialmente por ser o primeiro romance a reunir uma quantidade exorbitante de
personagens de diferentes níveis sociais, e chamou a atenção de autores famosos
como Karl Marx, Edgar Allan Poe e Victor Hugo, sendo este último o mais
visivelmente influenciado (por conta d’Os
Miseráveis).
Tudo
isso era ou não motivo para ficar curioso sobre esse romance? O grande problema
era encontrá-lo em português. A extensão da obra, de certa forma, deve ter
contribuído para que as editoras não se interessassem em imprimir Os Mistérios de Paris. Mesmo assim,
tanto no século XIX como no XX, a obra-prima de Sue foi publicada na íntegra em
português, em vários volumes, como já era de se supor. O problema é reunir a
obra completa, porque tudo o que encontrei nos sebos foram volumes avulsos,
geralmente de edições diferentes, de maneira que, por exemplo, o 5º volume da
editora x não é exatamente a continuação imediata do 4º volume da editora y. Nessas
horas que faz falta não saber ler em inglês rsrsrs. A Penguin-Classics lançou The Mysteries of Paris, na íntegra, no
final do ano passado, com quase 1400 páginas. Também já encontrei no Google
Books a versão completa em espanhol, numa edição bem antiga em 5 volumes. Leio
razoavelmente bem em espanhol, mas preferia já ter alguma noção do livro, para
facilitar o processo. Daí, optei por ler uma edição brasileira que encontrei
com texto condensado. De mais de 1000 páginas para 350, imagem aí! rsrsrs. Se
eu soubesse...
O
problema não era o texto ser condensado. Li Oscar e Amanda ano passado, nas mesmas circunstâncias, e foi maravilhoso! O
problema foi a tradução estar horrível e a adaptação ainda pior. Portanto,
fujam dessa edição condensada de Os Mistérios
de Paris (Editora Eli, s/d). Ela só serviu mesmo para estragar minha
experiência com a obra do Sue, pois além de ter inúmeros erros tipográficos, os
tradutores/adaptadores tentaram inserir a trama completa em 350 páginas.
Imaginem aí: cada página que passava, um novo personagem, uma história
diferente, muitas vezes sem nenhuma conexão. Em algumas passagens, dava para
perceber que a história corria violentamente (e que muitas cenas eram resumidas
provavelmente); em outras, a história desacelerava em algum personagem
secundário, fazendo ênfases que me pareciam desnecessárias. A impressão que
tive foi de que foi um serviço muito mal feito mesmo, e estou falando da
tradução/adaptação e não da obra do Sue. No mais, tive muita dificuldade de
compreender o enredo, especialmente pelas quebras de continuidade e demais
problemas da edição. Mas o pior, o pior mesmo, é que a trama central já não me
causará nenhuma surpresa quando for ler a versão integral. A leitura desse
livro pareceu-me uma chuva de spoilers e sinto-me profundamente arrependido de
ter lido isso.
Não
obstante a terrível experiência, pude absorver muita coisa da história,
contudo, de forma muito confusa. Há muitos detalhes que ainda não entendi ou
que me pareceram muito vagos, de maneira que não me sinto capaz nem de avaliar,
muito menos de escrever uma resenha dessa obra. Fiquei bastante empolgado com a
trama em si e decidido completamente a ler a versão integral (ainda que em
espanhol), mas certamente não será algo para já. Sinceramente, queria esquecer
tudo que li: quem morreu, quem se deu bem, quem escapou, quem se suicidou... e
sobretudo o final! Minha gente, o final... necessito esquecer aquele final
rsrsrs. Mesmo que deixe passar um tempo, provavelmente não esquecerei certos
detalhes; por isso, estou experimentando uma fúria literária que nunca tinha
sentido antes rsrsrs. Sinto-me literalmente roubado e, definitivamente, vou
pensar MUITO antes de ler outra versão condensada, mesmo de algum outro livro
indisponível na íntegra em português.
Finalmente,
deixo meu apelo às editoras brasileiras: lancem Os Mistérios de Paris, na íntegra, e numa tradução decente, por
favor, porque certamente é um livro que além de ser um dos mais importantes da
história da literatura e ter influenciado tanta gente até hoje, merece sim ser
redescoberto pelo público brasileiro.
Daniel Coutinho
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Escreva para o blog: autordanielcoutinho@gmail.com
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Eu também adoro a literatura francesa do século XIX. Sou fã de Alexandre Dumas, Xavier de Montepin e Eugene Sue. Deste último li o excelente O Judeu Errante.É uma pena que as editoras de hoje não lancem estes livros. Alexandre Dumas e Victor Hugo é fácil encontrar, ainda bem.
ResponderExcluirPorém Eugene Sue, Xavier de Montepim, Emile Richebourg, Ponson du Terrail, somente garimpando nos sebos virtuais e físicos. A minha edição do Judeu Errante é de 1944, volume único. Esta semana achei na Estante Virtual uma edição de 1963 em 4 volumes. Comprei por 500 reais! Quero ler novamente O Judeu Errante, o meu está com as letras apagadas, não se pode mais ver. Essa edição de 1963 chega semana que vem.
Este mês tambem tive a sorte de encontrar no Mercado Livre A Mulher do Realejo e Os Fantoches de Madame Diabo, ambos de Xavier de Montepin e em seis volumes. Estou lendo e adorando.
Sou grande admirador da literatura folhetinesca em especial a literatura francesa do século XIX. Dumas, Montepin e Sue, os meus ídolos!
Que bacana! Eu também gosto desses autores. Também tenho "O Judeu Errante"; minha edição em três volumes é da "Editorial Paulista. Tenho também "O Romance de Jeanne Bertier", do Motepin, "Casamentos do Diabo", do Pérez Escrich, e a saga "Rocambole" em oito volumes, do Ponson du Terrail. Este último não tenho certeza se a tradução é 100% integral. Adoraria que fossem todos reeditados :)
ExcluirLiteratura & eu, que descobri há pouco tempo, me faz ficar horas lendo resenhas de livros(rsrs).Não conhecia nem Eugène Sue, nem Xavier de Montépin. Eu leio francês e baixo livros gratuitamente do site "La bibliothèque électronic du Québec", de propriedade particular. Fiz uma consulta e encontrei, de Xavier de Montépin,La porteuse de pain, Le ventriloque I, II e III. E de Eugène Sue,Le juif errant I e II, Les Mystères de Paris I e II. Não tive coragem de olhar quantas páginas tem cada um.
ResponderExcluirQue bacana que esteja gostando do blog! Fiquei muito feliz em saber. Sim, os livros desses folhetinistas franceses costumavam ser enormes, justamente porque faziam sucesso nos jornais, e os autores viam-se obrigados a esticar as histórias para atender ao público hehe. Você lê em francês? Que invejinha rs Espero que continue acompanhando as postagens. Grande abraço!
ExcluirDou-te uma dica: aprende francês. Nada melhor que ler uma obra na língua original. Tu só tens a ganhar.
ResponderExcluirIhhh! Sou péssimo com idiomas. Estou no inglês básico até hoje hehe. Mas tenho algumas noções de espanhol. E já estou com uma edição nesse idioma. Só não disponho de tempo para ler no momento. Mas um dia essa leitura sai hehe. Abraço!
ExcluirÓtima resenha! Parece que ainda não foi republicado aqui no Brasil, infelizmente.
ResponderExcluirObrigado! Sim, infelizmente essa tradução não saiu até hoje. Lamentável!
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