Antônio Luís von Hoonholtz (1837-1931) foi um
importante almirante brasileiro, herói da Guerra do Paraguai, que se dedicou a
diversas atividades de relevância nacional, o que lhe rendeu, por exemplo, o
título de “barão de Tefé”. É também lembrado por ter sido pai da caricaturista
Nair de Tefé, a segunda esposa do presidente Hermes da Fonseca.
Hoonholtz, afora suas mil atividades de fôlego,
era ainda um amante das letras, tendo sido um grande leitor de poetas e
prosadores nacionais e estrangeiros. Seus entusiasmos literários levaram-no à
ousadia de escrever seu próprio romance que, segundo ele, era na verdade uma “memória”
de acontecimentos reais. Consciente do pouco valor de sua obra, mantivera-a
guardada por dez anos, até que seu irmão José Paulino, o Juca, depois de ler o
manuscrito, decidira mandar imprimir o livro sem comunicar nada a Antônio. Ao
que parece, o romance intitulado de A
Corveta Diana (1873) não chegou a ser comercializado, pois a pequena
tiragem que dele se fez foi toda destinada aos amigos mais próximos do autor.
Adepto da escola romântica, servindo-se dos
modelos bebidos em Teixeira e Sousa e Joaquim Manuel de Macedo, Hoonholtz nos
apresenta uma narrativa sentimental e previsível, mas divertida e agradável.
Sua escrita é até bastante cuidada para um homem que não era do meio, o que
para mim foi uma grata surpresa. A
Corveta Diana é pois o que chamo de passatempo literário, mas que preza por
uma linguagem e estilo cativantes. Os únicos entraves que tive durante a
leitura foram o jargão náutico utilizado nas cenas marítimas e a reprodução do
sotaque português do personagem Jorge.
O romance nos apresenta Amélia, uma bela
órfãzinha de dezessete anos, que vive na companhia das irmãs Chiquinha, Quinota
e Mariquinhas, esta última casada e mãe de três filhos. As meninas decidiram evitar
passeios e divertimentos até que a morte da mãe completasse um ano, sujeitando-se
a uma vida monótona e desinteressante. A chegada da corveta Diana naquela
sossegada praia catarinense viria tirá-las do tédio.
O comandante Otávio, moço muito simpático, logo
dá-se a conhecer e faz a apresentação de seus amigos oficiais: o velho comissário
Ricardo, o piloto Gustavo, o escrivão Adriano, o guarda-marinha Fernando, o Dr.
Alberto e o segundo-tenente Alfredo, que preferira isolar-se de todos,
separando-se das senhoras com um breve aceno. Tal atitude chamara a atenção de
Amélia, que imediatamente considerou o moço um orgulhoso.
Nossa protagonista é na verdade uma romântica
sonhadora que espera pela chegada de um homem ideal. Desapontada com os
oficiais que conhecera, ela sofre uma amarga desilusão que lhe tira o sono.
Recostada na janela do quarto, Amélia tem seus pensamentos interrompidos pelo
som de uma voz que canta a ária do Ernani.
Era Alfredo quem passava e que ganhava, a partir daquele momento, o interesse
da jovem. Daí surge uma profunda afeição entre os dois.
Mas como em toda boa história romântica, não
poderíamos deixar de ter um vilão horrendo e perverso. Aqui, quem assume este
papel é o desprezível Dionísio, que tendo idade para ser pai de Amélia, dirige
seus galanteios à bela órfã. Percebendo-se rejeitado em benefício de Alfredo,
Dionísio faz uso de suas influências para obter a retirada da Diana. Com a
partida do tenente, ele empenha-se em tecer um plano de vingança, objetivando a
desonra de Amélia.
Mesmo tendo um enredo tipicamente folhetinesco,
o romance de Hoonholtz revela um observador sensível e atento. Para além das
fórmulas de segredos do passado que são revelados e passagens apelativas que
vão de um matricídio a um quase incesto, o autor nos brinda com cenas cheias de
carisma e sensibilidade, como o passeio de Alfredo pelas ruas do Desterro (hoje
Florianópolis) ou a conferência íntima onde os oficias trocam confidências
pessoais. O capítulo em que Otávio conta a história de seus amores com Julieta
e o Dr. Alberto compartilha a sua inovadora teoria de conquista é um verdadeiro
tributo a Macedo, de quem Hoonholtz devia ser grande admirador.
Não esperava mesmo encontrar as qualidades que
me revelou A Corveta Diana. O
almirante provou que, mesmo carecendo de talento estilístico, possuía uma escrita
desembaraçada e correntia. Desejei ler seu drama naval A Justiça de Deus, mas não o localizei. Fiquei com esta impressão
final de que Hoonholtz devia ser aquele cara sério de casca grossa que encobre
um coração generoso, delicado e dócil.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
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