Visconti Coaracy (1837-1892) é geralmente
lembrado pela polêmica que teve com José de Alencar em 1874, graças à adaptação
teatral que fez do romance O Guarani,
da qual Alencar não recebeu sua parte em direitos autorais. Ninguém contudo se
lembra de sua produção ficcional, que se perdeu nas colunas dos vários
periódicos para os quais Coaracy colaborou em mais de quarenta anos de vida
jornalística.
Em 1873, porém, submeteu uma novelinha sua para
publicação num clube de assinatura, Bibliotheca
Brazileira, que então estreava. Amor
que Mata parece não ter interessado o público, sofrendo a condenação de
tornar-se uma referência obsoleta. Cabia a mim desencavar essa história do
esquecimento rs.
O romancete de Coaracy, tal como A Corveta Diana, é visivelmente
influenciado pela pena do Dr. Macedinho, mas sem os atributos imaginativos de
Hoonholtz. Trata-se de uma historinha inevitavelmente fadada ao esquecimento
instantâneo. Talvez funcione como passatempo, mas daqueles que não se podem
levar a sério mesmo, e que se leem pela falta de coisa melhor, ou por pura
obstinação, o que é o meu caso rs.
No enredo, temos Luiz, um protagonista
desiludido com o amor. Após pôr em dúvida as qualidades físicas e morais de
Isabel, jovem viúva, esta decide vingar-se alimentando uma paixão ardente no
jovem mancebo. Isabel, que também ignorava o amor, acaba apaixonada pelo
insolente moço que, convencido dos belos atributos da viúva, está disposto a
conquistá-la, mas o orgulho de ambos poderá levá-los a um destino infeliz e
fatal.
A experiência jornalística do autor é o que
acaba lhe valendo em sua narrativa sensaborona. Sua escrita é inegavelmente
fluente e bem delineada, faltando-lhe no entanto verve suficiente para
desenvolver uma boa trama. Até mesmo a estrutura do livro, cujos capítulos compreendem
uma sequência de episódios ligeiros, é interessante, até o momento em que se
depara com um enredo deficiente e problemático.
O narrador, que não soube se haver com os
protagonistas, embananou-se de verdade com os personagens secundários,
precipitando a relação amorosa entre Pedro e Eulália, além de sugerir um destino
fatal a um personagem tão pouco lutuoso como o Sr. Dolby.
Desconfio que Coaracy tenha pago um favor ou
mesmo uma dívida com seu Amor que Mata,
já que não lhe pude reconhecer qualquer intenção artística. Talvez só quisesse
entregar uma historinha de oitenta páginas (sabe-se lá com que fim) a um desses
editores desleais que mal sabem o que publicam. Uma pena! O delineado de sua
frase poderia ter lhe rendido mais... ou não rs?
Avaliação: ★★
Daniel Coutinho
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