A
coleção “Os Clássicos” da ABC Editora (que é uma editora cearense) foi uma das
principais responsáveis por me tornar um amante da literatura luso-brasileira.
Foi mesmo através dela que conheci autores como Joaquim Manuel de Macedo,
Franklin Távora, Aluísio Azevedo, Camilo Castelo Branco e muitos outros. Quando
estava adentrando o universo dos clássicos, as edições da ABC eram, na época,
bastante acessíveis, fáceis de encontrar nas bibliotecas e livrarias. Daí, meu
amor por essa coleção é totalmente explicável e, desde 2004, coleciono seus
títulos e, hoje, tenho quase todos. E agora estou me sentindo sufocado, sem
saber por onde começar, com mil ideias na cabeça e ao mesmo tempo preocupado em
não deixar isso aqui muito prolongado. Ufa! Minha gente, falar dessa coleção é
muito amor envolvido; portanto, é meio complicado, mas acho que consigo.
Sobre
datas, é um tanto difícil falar com relação a essa coleção. Já vi exemplares
bem antigos com capas diferentes das versões mais difundidas. Não sei dizer
exatamente quando iniciaram e quando finalizaram as atividades dela, mas
tomando por base os anos dos meus 78 títulos, posso afirmar que durante toda a
década passada ocorreu o processo de formação e encerramento, sendo o período
mais prolífero entre 2002 e 2004. Os livros foram lançados em quatro fases;
cada fase com 25 títulos, sendo que a última, ao que parece, foi cancelada logo
nos primeiros lançamentos. Dos 100 livros previstos, 80 foram lançados; e assim
penso, porque nunca vi em parte alguma os 20 restantes, nem em livrarias, nem
em bibliotecas, nem na internet, nem em parte alguma. Temos ainda o fato de que
a coleção deixou de ser editada, o que ratifica minhas suspeitas.
Os
dois únicos títulos que não consegui obter pertencem à 3ª fase. São eles: A Relíquia (Eça de Queirós) e Broquéis/Faróis (Cruz e Sousa). Cheguei
a desconfiar de que também não tivessem sido lançados, mas vi uma vez o do Cruz
e Sousa na Estante Virtual [só não comprei a tempo! :-( ]; quanto ao romance do
Eça, nunca vi em parte alguma, de maneira que só conheço a capa porque figurava
no verso de algumas edições. Não obstante, imagino que as tiragens desses dois
livros foram bem limitadas, dada a dificuldade de encontrá-los. Assim, quem
souber onde posso encontrá-los, por favor, me avise através do e-mail que
aparece ao final deste post, que ficarei bastante agradecido.
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Luzia-Homem, que é o 1º título da
coleção, é também o primeiro clássico nacional que li, embora o tenha lido por
outra edição. Ainda assim, achei uma grande coincidência! “Os Clássicos” da ABC
estão diretamente envolvidos à minha primeira fase de leitor de obras oitocentistas;
por isso tenho tanto amor por essa coleção. Foram os primeiros livros que
comprei e, em pouco tempo, passei a colecionar. Todo dinheiro que me sobrava era
para comprar um clássico da ABC. Tenho uma feliz lembrança de quando em Sobral,
no Beco do Cotovelo, entrava numa livraria (tinha então 14 anos) que possuía
boa parte do acervo da ABC. Os livros ficavam expostos numa prateleira enorme e
eu queria levar tudo comigo. Embora fossem baratos, comprava uns dois quando
muito, pois, aos 14, era meio complicado arranjar grana.
As
capas da coleção “Os Clássicos” sempre chamaram minha atenção. Todas as capas
são assinadas por um tal Heron Cruz. A verdade é que somente as capas da 1ª
fase são criações originais. As capas das outras fases são releituras de
pinturas famosas, em que muitas vezes o artista plástico apenas altera a cor ou
acrescenta algum outro detalhe. Todas, contudo, obedecem a um padrão visual que
sempre gostei: no lado esquerdo de cada clássico, a imagem aparece desbotada,
onde constam o nome do autor (que fica na parte superior), o título da obra
(sempre na mesma fonte) e as logomarcas da coleção e editora (na parte
inferior). Todos os livros eram brochuras com orelhas que traziam informações
sobre o autor. Cada edição trazia ainda notas introdutórias e questionários de
algum crítico ou professor cearense.
Passando
para os contras, tenho que admitir que minha querida coleção não era perfeita.
A encadernação era horrível, pois as páginas não eram costuradas, mas apenas
coladas e com uma cola bem ruinzinha rsrsrsrs. Era comum algumas vezes as
primeiras páginas caírem, mas depois de perceber essa fragilidade, tive cuidado
(e ainda tenho) para que isso não acontecesse mais. Os erros de revisão também
não eram poucos. Os livros da 1ª fase estão mais bem revisados, mas os das
outras fases têm muitos erros, talvez por terem sido lançados quase que na
mesma época, no auge da coleção. As ilustrações também ficaram a desejar. O
ilustrador era João Jorge Marques Melo. O chato é que parece que contrataram
esse cara pra fazer certo número de imagens que ilustrariam todos os livros da
coleção. Sim! As ilustrações se repetem várias vezes no mesmo livro e em vários
outros (que não têm nada a ver com eles) exatamente iguais. Percebo que elas se
encaixam melhor nos livros da 1ª fase. Sempre achei que essas ilustrações
chatas não teriam feito falta.
A
4ª fase, como já mencionei, mal foi iniciada, foi logo cancelada, tudo isso em
2004. A ABC, contudo, continuou realizando novas tiragens dos títulos mais
vendidos e continuamente solicitados pelas livrarias. Lançaram os três
primeiros da última fase: Sonetos e
Outros Poemas (Bocage); Mensagem
(Fernando Pessoa) e Sonetos (Luís de
Camões). Foi exatamente aí que as atividades foram interrompidas, mas ainda em
2004, a ABC lançou Os Bruzundangas
(Lima Barreto), talvez atendendo a pedidos, porque este livro só deveria ser
editado depois de 14 outros títulos, segundo a listagem apresentada na
contracapa dos livros dessa última fase.
Em
2006, finalmente, é lançado o último livro da coleção: Aves de Arribação (Antônio Sales), outro lançamento que com certeza
deve ter sido realizado mediante pedidos, ainda que constasse na listagem
programada. É mesmo muito chato que 20 títulos previstos para esta coleção
tenham sido cancelados, talvez pela queda nas vendas ou mesmo alguma crise
financeira da editora. Lembro que, aos 14, sonhava em ter a coleção completa
com os 100 livros. Ao menos, dos 80 lançados, consegui 78, e continuo na busca
pelos dois que faltam.
Apesar
de tudo, não tem como eu não continuar amando esta coleção que marcou uma
importante fase da minha vida. Tenho sim um carinho muito especial por ela,
principalmente por ter me apresentado a autores que tanto admiro. O próprio
José de Alencar entrou de fato na minha vida através dessa coleção (e nunca
mais saiu! rsrsrs). Posso afirmar que “Os Clássicos” da ABC foram uma das mais
importantes lições que tive enquanto leitor, e que grande parte do meu amor
pela literatura se deve a esta bela lição.
A
título de curiosidade, em 2001, a ABC fez uma edição das Lendas Brasileiras (Câmara Cascudo) com projeto gráfico idêntico ao
da coleção “Os Clássicos”. Pelo que sei, esse lançamento era destinado a
estudantes do Rio Grande do Norte, e teve a parceria da “Tribuna do Norte”, jornal
publicado diariamente na capital Natal. Os herdeiros de Câmara Cascudo e a
Global Editora (que detinha os direitos sobre a obra) nada cobraram de direitos
autorais. A edição traz um esclarecimento com relação a isso. Nenhuma
explicação é dada com relação à semelhança do projeto gráfico, além de também
não ser feita qualquer alusão à minha querida coleção.
A
quem tiver curiosidade, deixo, através das imagens abaixo, a relação completa
de obras que compõem a coleção “Os Clássicos”, inclusive as que nunca foram
lançadas. É possível encontrar muitas edições dela na Estante Virtual. Pesquise
por editora: ABC, e refine a busca com o título da obra desejada. Desculpem se
pareci um fã retardado neste post. Tenho dias assim.
Daniel Coutinho
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Escreva para o blog: autordanielcoutinho@gmail.com
Olá, essa editora ainda realiza vendas?
ResponderExcluirInfelizmente, não.
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