Alguém já ouviu falar nesse livro? Aposto que não. Não recrimino os leitores de hoje. Este livro é mais um dentre tantos outros esquecidos injustamente! Mas não pensem que passo a vida a desencavar livros antigos. Às vezes, até o faço rsrsrs Mas, na maioria das vezes, estes livros desconhecidos que leio vêm de alguma referência. No caso de Oscar e Amanda, foi lendo o autor que mais aprecio de toda a literatura brasileira: José de Alencar. Lendo sua autobiografia, Como e Porque Sou Romancista, descobri que Alencar se tornou um leitor voraz desde cedo. Ele conta que sua mãe lhe conferia a tarefa de ler em voz alta às mulheres da família os romances que possuíam, que eram na maioria romances ingleses em traduções portuguesas. Alencar conta que releu várias vezes esses livros, uma vez que o acesso à literatura era muito restrito. Os que mais lhe ficaram gravados foram Amanda e Oscar (Regina Maria Roche); Saint-Clair das Ilhas (Elizabeth Helme); e Celestina (Charlotte Turner Smith). Nem preciso dizer o quanto fiquei curioso pra ler esses livros. Pesquisei bastante, uma vez que Alencar não mencionava o nome das autoras.
O primeiro, só encontrava com o título invertido e ainda por cima em espanhol: Oscar y Amanda. Enfim, descobri que era o mesmo livro. O que ocorre é que Alencar leu de uma tradução portuguesa (de António Vicente de Carvalho e Sousa) que, por sua vez, provém de uma tradução francesa do original inglês The Children of the Abbey. Quanto ao Saint-Clair das Ilhas, obtive a que é provavelmente a mesma versão lida por Alencar, e que logo terá resenha aqui no blog. Celestina foi o único que não obtive em português, mas felizmente, a editora PedrAzul, que tem feito um excelente trabalho de recuperação de obras raras, tem pretensões de lançar este livro que aguardo ansiosamente.
Mas voltemos a falar de Oscar e Amanda. A minha edição é esta da primeira foto; ela é de 1943, da editora Vecchi, com "tradução" de Marina Sales Goulart de Andrade. A verdade é que se trata de uma adaptação. Ainda que a minha edição seja enorme (o livro é em formato grande e o texto, em letra pequena, é disposto em colunas), cotejei com o original, e vi que este último é um tanto maior. Mas não pensem que era intenção da editora dar ao público uma versão mais enxuta.
O que ocorre é que eles não traduziram do original inglês, mas sim de uma edição argentina. Cheguei a esta conclusão pelo número exato de capítulos em ambas e pelo epílogo que não consta assim especificado na edição original.
Oscar e Amanda, da escritora irlandesa Regina Maria Roche (1764-1845), foi publicado pela primeira vez em 1796. Disputava em popularidade lado a lado com Os Mistérios de Udolpho, da Ann Radcliffe. Vamos à história? (sem spoiler, é claro!).
O conde de Dunreath tem o grande desejo de ter um filho varão, mas sua esposa parece ter dificuldades para engravidar. Ela toma sob seus cuidados uma jovem órfã a quem dedica seu amor maternal, mas logo em seguida, fica grávida e tem uma filha a quem dá o nome de Malvina. A esposa de Dunreath morre no parto, deixando a criança órfã. Após sua morte, sua protegida decide abandonar a casa, mas ao ver-se triste e sozinho, o conde insiste em que ela volte; a jovem, aproveitando-se da fraqueza do conde, acaba conquistando-o e torna-se a nova Lady Dunreath. A nova esposa do conde também engravida e lhe dá outra filha: Augusta, que é tratada com bastante distinção, enquanto Malvina, a filha da falecida, é constantemente ignorada pela madrasta.
O tempo passa e aparece na vida dos Dunreath um jovem militar de nome Fitzalan. As filhas do conde caem logo enamoradas dele, mas é Malvina quem ganha seu coração. Prevendo a oposição de seu pai a um casamento com um homem sem fortuna, Malvina decide casar com Fitzalan às escondidas, para a alegria de sua madrasta, pois quando descobre-se a união, o conde decide deserdar Malvina. O casal Fitzalan concebe dois filhos: Oscar e Amanda. A sorte deles, contudo, não é favorável, e enfrentam grandes dificuldades. Decidem pedir o auxílio do conde, mas Lady Dunreath intercepta-os com imprecações. Malvina acaba morrendo, deixando Fitzalan sozinho com seus filhos.
Mesmo com dificuldades, Oscar e Amanda crescem bonitos e sãos. Oscar pretende seguir a carreira do pai e vai para a Irlanda ao regimento do coronel Belgrave. Este último vem a ser o grande vilão do romance. Depois de casar com Adélia, a mulher amada por Oscar; ele ainda persegue a bela Amanda, que o despreza, e para fugir dele, vai para a casa de sua ama de leite num interior da Inglaterra. Lá, conhece o gentil Lord Mortimer. Eles logo se apaixonam, mas a condição social de Amanda será o primeiro de uma série de empecilhos interpostos entre os dois.
Este foi, sem dúvidas, um dos melhores livros que li recentemente, ao ponto de me surpreender. Achava que seria uma historieta pacata, mas descobri neste conto de fadas para adultos rsrsrs uma história de fôlego impressionante. E acreditem... Tudo o que contei é só a ponta do iceberg. A autora é perita em manejar artifícios que prendem a atenção do leitor de forma tal que não te deixa largar o livro. Exatamente por isso, fiquei morrendo de vontade de ler a versão completa em espanhol (porque inglês... tá difícil! espanhol... ainda, ainda! rsrsrsrs). Talvez, o único defeito que me incomodou neste livro foi a fragilidade da protagonista. Ela é uma daquelas mocinhas que desmaia por qualquer coisa, e tudo a ofende rsrs Mas a verdade é que esse tipo de comportamento era o modelo imposto às mulheres até o final do século XIX. Também achei um pouco exagerado todos os padecimentos sofridos por Amanda. Dá uma peninha... Me fez recordar as telenovelas que até hoje se utilizam desse recurso. Em suma, esse livro é simplesmente maravilhoso, se você gosta de histórias românticas bem contadas, como eu. Recomendo demais! Difícil vai ser achar em português. Mas quem souber inglês ou espanhol, busque no Google Books. Vale muito a pena!
Avaliação: ★★★★★
Daniel Coutinho
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Hola, hace años ando en busca de ese libro, en su ediciòn en español. Ud., sabe dònde lo puedo adquirir? Gracias. Mi correo es mcbenavides@gmail.com
ResponderExcluir¡Hola! Desafortunadamente, sólo encontrarás en librerías de libros usados. ¡Buena suerte!
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