Acaba de chegar às minhas mãos a última das
comédias completas de Aristófanes. Rico é uma tradução de Pluto (388
a.C.), feita pelo Kleber Rocha, que, nos meus saudosos anos de faculdade, foi
meu professor de Língua Grega, a disciplina mais temida do curso de Letras que,
para alegria dos acadêmicos que vieram depois, foi removida da nova grade
curricular.
Apesar de não ser um grande entusiasta do teatro
grego clássico, não posso evitar aquela potinha de curiosidade que nós, os
apaixonados da Literatura, sentimos pelas grandes obras da antiguidade. O
estudo e leitura atenta que esses textos exigem, no entanto, acabam fazendo com
que passemos outras leituras mais amenas à frente daquelas.
A tradução de Pluto, entretanto, chegou num
momento em que as circunstâncias foram favoráveis à sua leitura; e, ainda que
não tenha morrido de amores pela comédia de Aristófanes, pude dar algumas
gargalhadas em algumas de suas passagens, como também apreciar a crítica que o
comediógrafo lança a certos tipos da Grécia antiga.
O enredo da peça é o seguinte. Crêmilo é um
agricultor que começa a se questionar sobre a maneira como deve educar seu
filho. Ele reflete que os homens honestos e justos são todos pobres, enquanto
os corruptos e trapaceiros não deixam de enriquecer.
Apresentando essa questão ao deus Apolo, Crêmilo o
interroga se devia criar seu filho segundo a leviandade do mundo, para torná-lo
rico. A resposta do deus é que Crêmilo, à saída do Oráculo de Delfos, seguisse
o primeiro homem que encontrasse e o convencesse a levá-lo à sua casa.
O eleito acaba sendo um mendigo cego, a quem
Crêmilo acompanha seguido de Carião, seu escravo, que, após interrogar seu senhor,
acaba tomando conhecimento da situação. Os dois descobrem que o cego era na
verdade Rico (Pluto), o deus da riqueza, que fora castigado com a cegueira por
Zeus, para que fosse impedido de beneficiar exclusivamente os homens justos.
Crêmilo propõe devolver a visão a Rico em troca de
que este o enriqueça. O acordo é selado e, para alcançar seu objetivo, o
agricultor encaminha o cego ao templo do deus Asclépio. Conhecendo as
pretensões de Crêmilo, a Pobreza tenta intervir, começando a partir daí um dos
diálogos mais interessantes da peça, onde se reflete os malefícios do dinheiro
na vida do homem, como também a ideia de que a pobreza estimula ao trabalho e à
produção da Arte.
Outro fator interessante da peça é a reação dos “ricos”
perante o plano de Crêmilo. Uma série de tipos são apresentados ao público,
como a velha que sustenta um amante jovem e o sacerdote que vivia das oferendas
dos religiosos.
O desfecho da peça leva-nos a refletir uma triste
realidade que não deixa de ser atual: o endeusamento do dinheiro. Neste mundo
capitalista em que vivemos, de fato, não são poucas as pessoas que julgam-se
umas às outras tendo em vista a riqueza material. Quando paramos para pensar
que no século IV a.C. já era assim, entendemos que mudam-se os costumes, mas jamais
os homens.
Avaliação: ★★★
Daniel
Coutinho
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