Joaquim Manuel de Macedo tinha certa queda pela
sátira política, como bem demonstram suas obras A Carteira de meu Tio e Memórias
do Sobrinho de meu Tio. Era pois comum que a pena do sátiro fosse emprestada
ao dramaturgo, e daí nascesse A Torre em Concurso (1861).
Esta é sem dúvida uma das peças mais interessantes
do teatro macediano. Embora a crítica ácida que se faz na comédia seja
suavizada pelas cores vibrantes do Romantismo, A Torre em Concurso não
encobre sua intenção política de conscientizar o povo brasileiro.
Num curato de uma das províncias brasileiras,
lança-se um edital pelo qual se busca um engenheiro “inglês” para levantar a torre
do sino da igreja local. Os engenheiros nacionais ficam descartados “porque
todos eles juntos não valem o dedo mindinho de um engenheiro inglês” (pág.
176).
Aproveitando-se do fato de que a população do curato
não domina o idioma estrangeiro, dois impostores (foragidos da polícia) candidatam-se
ao cargo e são submetidos a uma eleição. Lord Gimbo (Crespim) e Mr. Matracoat
(Pascoal) conhecem-se, mas ficam impedidos de acusarem-se um ao outro e preferem
aguardar pela decisão popular.
Em outro núcleo de personagens, temos Faustina, que
ama o engenheiro Henrique, mas este é constantemente assediado por Ana, a tia
velha de Faustina. Quando a megera descobre os interesses do jovem casal,
convence seu irmão João Fernandes, juiz de paz do curato, a casar a filha com o
engenheiro eleito.
A partir daí, Macedo emprega todo o seu humor ácido
na explanação da campanha dos “engenheiros ingleses”. Ambos ganham seu time de
apoiadores pelos motivos mais fúteis possíveis. Antes do interesse comum (a
construção da torre) está a necessidade pessoal de poder político.
O dramaturgo compõe cenas bastante cômicas protagonizadas
por um juiz analfabeto, por um subdelegado corrupto e por uma solteirona
despeitada que se torna cabo eleitoral a fim de casar a sobrinha com o
candidato mais feio da disputa. A par disso estão todos aqueles casos clássicos
de fraude eleitoral, como compra de votos, eleitores invisíveis, imparcialidade
política etc.
É triste pensar que A Torre em Concurso permanece
atual para nosso tempo, tendo em vista que o fantasma da corrupção continua
atormentando nosso país. É pena também que um texto desta qualidade esteja tão
esquecido pelos leitores contemporâneos, pois, a meu ver, seu conteúdo seria
relevante até mesmo para estudo no ensino básico.
Avaliação: ★★★★
Daniel
Coutinho
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Incrível como algo de 1863 está, infelizmente, cada dia mais atual em nossa sociedade. :(
ResponderExcluirÉ uma triste verdade, mas muita coisa não mudou de lá pra cá.
ExcluirAh, e eu corrigi um pequeno engano. A peça na verdade é de 1861.
ExcluirEm 1863 ela foi editada em livro ;)