Há livros que, de tão bem realizados, têm um
brilho especial, cuja beleza só pode ser entendida através do contato com a
obra original. É quando mais me sinto impotente enquanto redator de resenhas:
quando me deparo com esses livros cujo valor transcende qualidades literárias. Marcelino Pão e Vinho (1953), do
espanhol José María Sánchez-Silva, está nessas condições.
Há uma aura de pureza nas páginas de Marcelino, uma doçura enternecedora que
nos cativa desde os primeiros capítulos. Mesmo não sendo cristão, não pude
deixar de compartilhar desse entusiasmo que dá a religião aos seus fiéis, essa
centelha de esperança que é justamente o que atrai tanta gente às igrejas. A fé,
independente de sua natureza, é sempre um argumento comovente.
Temos aqui a história desse garotinho,
Marcelino, que foi deixado ainda recém-nascido à porta de um convento de
frades. Criado com muito amor pelos religiosos, Marcelino chega à idade de cinco
anos com saúde e inteligência. Embora lamentasse a ausência dos pais, vivia em
harmonia com seus amigos a quem ele nomeava carinhosamente: frei Dodói, frei Porta,
frei Batizo, frei Blém-Blém, frei Então, Frei Papinha, dentre outros. Além
desses, mereciam seu carinho o gato Mochito e a cabra que lhe servira de ama de
leite. E por último temos Manuel, o garoto que morou nas proximidades do
convento por um curto período, mas com quem Marcelino continuava conversando em
pensamento.
Sendo criado com bastante liberdade pelos frades,
Marcelino era proibido unicamente de entrar no sótão do convento. Afeito a
travessuras e movido pela curiosidade, ele planeja com astúcia uma maneira de
chegar ao sótão sem que ninguém o veja. Quando finalmente consegue, depara-se
com um homem desagasalhado e ferido, faminto e sedento, e que, para sua
surpresa, é aparentemente o próprio Jesus Cristo.
Os dois travam um diálogo amistoso e Marcelino
providencia pão e vinho para a alimentação de Cristo, como também um cobertor
com que pudesse se aquecer. Logo em seguida, um acontecimento extraordinário
(que não julgo conveniente revelar) muda o curso da narrativa, que passa a se
valer de vários flashbacks intercalados com o tempo presente. Faço um destaque
especial às travessuras executadas pelo nosso garoto, especialmente quando
tenta converter um “indígena” pelo trabalho missionário rs.
As mensagens evangélicas de Marcelino Pão e Vinho, antes de pregarem uma religião, defendem
valores acentuadamente humanos: valores cristãos com os quais simpatizo muito,
certamente porque chamam a atenção não para a divindade de Cristo, mas para
aquilo que este mais se esforçou por ensinar aos seus seguidores: o amor.
Não é de meu costume concluir resenhas com
passagens do livro em questão, mas não poderia justificar de modo mais
eficiente minha avaliação neste caso. Leiam e vejam se não tenho razão!
E Marcelino resolveu amar tudo
loucamente, pondo-se a ajudar os irmãos da horta, como também a Frei Papinha.
Levou capim fresco para a cabra. Subiu para visitar Frei Dodói. E, tomando
Mochito nos braços, ficou imaginando como pôr-lhe uma orelha no lugar da que
faltava, mesmo que arrancada de outro gato que às vezes aparecia de noite.
Por fim, quando chamaram Marcelino
para a ceia no refeitório, onde se sentou, como de costume, diante do Superior,
ele se lembrou de tudo aquilo e disse, em plena refeição:
— Padre, estou amando!
Avaliação: ★★★★★
Daniel Coutinho
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Boa noite amigo.Preciso comprar um livro desta edição. Você tem para venda?
ResponderExcluirEu tenho vc já achou?
ExcluirAinda tem?
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