Eichendorff foi um dos últimos autores do
Romantismo alemão, sendo mais lembrado como poeta. De sua prosa, até bem pouco
tempo, não contávamos com nenhuma tradução para o português. Em 2014, a editora
Oficina Raquel finalmente nos trouxe a famosa novela Da Vida de um Imprestável (1826), em tradução de Fernando Miranda.
Tenho observado bastante que, de modo geral,
quando um poeta aventura-se pela prosa de ficção, suas narrativas têm marcas
poéticas bem definidas. Com Eichendorff não foi diferente. Da Vida de um Imprestável possui um lirismo típico que assentou bastante
à proposta da novela, que mais parece a descrição de um sonho ou devaneio do
narrador/eu-lírico. A narrativa, embora de linguagem simples, é cheia de
elementos obscuros que dificultam em parte a compreensão, especialmente porque
o autor guarda muitas explicações para o capítulo final.
Temos aqui um narrador anônimo que, por ser um
imprestável, é expulso de casa pelo pai. Munido de seu violino, ele segue
livremente à procura da felicidade. Executando músicas pela estrada, chama a
atenção de duas damas que passavam numa carruagem e que logo o convidam a
seguir com elas para um castelo em Viena. Enamorado de uma delas, o narrador
decide acompanhá-las, sendo logo empregado na função de jardineiro. Por seus
modos delicados, em pouco tempo assume a função de coletor de impostos.
Sempre buscando agradar à dama de seus
pensamentos, o narrador cultiva flores para ofertá-la com belíssimos buquês.
Uma noite, porém, ao vê-la acompanhada por um nobre, supõe-na já comprometida
e, para esquecê-la, decide deixar o castelo e partir para a Itália. Durante o
trajeto, é abordado por dois pintores que o obrigam a conduzi-los até
determinada cidade, onde ficam hospedados numa taberna. Subitamente os pintores
desaparecem, restando ao narrador seguir sozinho na carruagem dos artistas.
O próximo desembarque se dá num luxuoso castelo,
onde o narrador é recebido e tratado com todas as cortesias possíveis, embora
sem compreender o motivo de tantas distinções. Para sua surpresa, recebe uma
carta supostamente enviada por sua amada, exigindo seu retorno. Seu desejo
imediato é de regressar ao castelo em Viena, mas seus prestimosos serviçais
parecem não estar dispostos a deixá-lo partir.
A narrativa prossegue por esta obscura jornada
de nosso narrador anônimo, onde ele passa por situações estranhas, sempre
confrontando-se com personagens igualmente estranhos. Essa atmosfera misteriosa
combina perfeitamente com o estilo contemplativo do autor, onde temos a
apreciação da natureza e da música. Contudo, o leitor pode impacientar-se com a
carência de informações e detalhes sobre personagens importantes, como a
própria amada do narrador, sobre quem pouco sabemos antes do capítulo final. A
longa sequência de episódios insólitos e inexplicáveis faz mesmo crer que tudo
não passa de um devaneio do violinista.
Da Vida
de um Imprestável, mesmo com seus toques de novela picaresca,
flerta com o gênero gótico, consumando-se em obra no mínimo “estranha”. A
impressão que tinha era mesmo de estar lendo uma narrativa fantástica,
deixando-me levar pelas mudanças de cenários e tipos, como se estivesse mesmo
sonhando...
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
***
Instagram: @autordanielcoutinho
SKOOB: http://www.skoob.com.br/usuario/1348798 Escreva para o blog: autordanielcoutinho@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário