Curioso como, muitas vezes, um livro
despretensioso causa mais impressão que muita trama mirabolante! Assim é Um Casamento no Arrabalde (1869), de
Franklin Távora. Não obstante ser uma de suas obras menos conhecidas, apresenta
uma narrativa construída com muita graça e simplicidade.
No enredo temos dona Emília, uma senhora de
elevada instrução que, cansada de receber maus tratos do marido, toma a decisão
ousada (para sua época) de abandoná-lo, levando consigo sua filha Lucila, com
quem vai viver num pitoresco arrabalde. Graças a seu ilustrado conhecimento
musical, dona Emília logo se emprega como professora da filha de Luiz Correia,
senhor de engenho e subdelegado de polícia do lugar.
Lucila e Pedro (filho de Luiz Correia) acabam se
apaixonando um pelo outro, mas a união dos dois não é aceita pelo pai do moço
por questões sociais. Embora dona Emília demonstre uma postura de honra, sua
condição de mulher separada, como também suas ideias adiantadas sobre
sociedade, acabam por torná-la mal reputada sob vários aspectos. A única
solução para a felicidade dos jovens seria um casamento oculto.
Para tal realização, dona Emília solicita a
ajuda de Túlio, bacharel em Direito, cujas ideias são bastante compatíveis com
as da mãe de Lucila. Desse contato, porém, surge um sentimento inesperado entre
eles, de maneira que, enquanto tentam levar a cabo o consórcio do jovem casal, buscam
lidar prudentemente com as próprias emoções.
Pondo de lado os elementos passionais, temos em Um Casamento no Arrabalde excelente
demonstração da ideia de igualdade entre as raças. O posicionamento de dona
Emília a este respeito é o artifício para divulgar opiniões como a seguinte: “O
homem é simplesmente o homem. Seja qual for a sua origem, clara ou obscura, ele
tem direito absoluto à liberdade, à instrução, às posições e distinções. O
essencial é saber se ele tem merecimento por onde chegue a estas distinções e
posições. O merecimento no negro torna este superior ao branco sem merecimento.”
(pág. 23).
O traço regionalista também é digno de nota, não
escapando ao autor a descrição do interior pernambucano e a pintura de alguns
tipos provincianos. É com humor e graça que são pintadas algumas cenas de
destaque, como a da confissão de Lucila, em que a ausência de um confessionário
próprio ao ato repercute numa situação embaraçosa e cômica.
Mesmo o livro seguindo sem grandes surpresas,
com um final antecipadamente advertido, a construção singela que seu autor lhe
dá torna a experiência suficientemente satisfatória, não havendo muita brecha
para reparos. É em suma uma novelinha agradável para ser lida numa única tarde
por “quem não tiver que fazer” rs.
Avaliação: ★★★★
Daniel Coutinho
***
Instagram: @autordanielcoutinho
SKOOB: http://www.skoob.com.br/usuario/1348798 Escreva para o blog: autordanielcoutinho@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário