*
Li A Ilha
Maldita, pela primeira vez, em 2009, e recentemente me deu uma grande
vontade de reler esse encantador romance de Bernardo Guimarães. A experiência,
como já previa, foi maravilhosa, mas o mais impressionante era o quanto eu me
lembrava da história. Geralmente, tenho péssima memória para lembrar das
histórias que leio, de maneira que, sinceramente, teria dificuldade em contar o
enredo de um livro lido há um ou dois meses. D’A Ilha Maldita, lido há quase dez anos, lembrava de praticamente
tudo, e lembrava com carinho!
Até pouco tempo, estava inconformado com o fato
de ser esse livro tão ignorado pelo grande público. Mas, felizmente, isso
parece estar mudando. O blog “Sobre o medo”, por exemplo, disponibilizou, pela
primeira vez na internet, a obra completa em PDF para download. Imagino que
isso tenha possibilitado um maior conhecimento sobre a história da bela Regina.
Mas o que me deixou mais feliz mesmo foi saber (e soube há pouco) que A Ilha Maldita ganhou uma nova edição em
2016, pela editora Bira Câmara. Embora lançado numa tiragem limitada e por uma
editora independente, já é alguma coisa, né? Claro que já fiz pedido de um
exemplar dessa nova edição, mas ainda não chegou (Mostrarei no Mais Livros! de janeiro, ok?). Quem se
interessar por adquirir o livro, entre em contato com a editora, pelo e-mail “jornalivros@gmail.com”.
A Ilha
Maldita conta a história de Regina, uma garota que foi acolhida por
Felisbina, uma viúva que a encontrou na beira da praia, quando Regina era só
uma criança. Tida como náufraga, Regina passa a viver na choupana da viúva numa
pequena aldeia de pescadores.
Desde pequena, Regina demonstra grande interesse
por tudo relacionado ao mar, desejando inclusive ter um barco com que possa
navegar à sua boa vontade e quem sabe até alcançar a ilha maldita, que é uma
porção de terra rodeada por penedias em torno das quais o mar está sempre
agitado. Essa misteriosa ilha nunca foi alcançada por nenhum pescador. Conta-se
que quando alguém se aproxima dela, a mesma vai se afastando, além dos
terríveis escarcéus que a rodeiam tornarem a ilha praticamente inacessível. As
histórias e lendas ouvidas por Regina aguçam sua curiosidade, mas os cuidados
da boa Felisbina a impedem de realizar seu desejo.
Quando Regina cresce, torna-se no que chamam de femme fatale. A bela morena dos olhos
verdes é a mulher mais cobiçada da região e leva à loucura todos os homens que
têm a desdita de olhá-la. De sua parte, Regina parece não ter nenhuma tendência
para o amor; por isso, ignora todos que lhe declaram paixão arrasadora.
Contrariados, os pretendentes de Regina vão-se embora da aldeia para tentar
esquecê-la, ou acabam cometendo suicídio. Esses trágicos acontecimentos fazem
com que todos acreditem que Regina é uma espécie de fada malfazeja ou mesmo sereia,
no dizer de alguns.
A morte de Felisbina acaba dando mais liberdade
à Regina, que finalmente poderá realizar seu desejo de chegar à ilha maldita. E
isso de fato acontece, sendo ela a única capaz de fazê-lo. O ocorrido não gera
maior espanto, porque todos, a essa altura, já têm em conta que Regina é uma
criatura sobrenatural, uma filha do diabo. O que surpreende todos mesmo é a
decisão tomada pela moça de casar-se com Aleixo, um marinheiro desconhecido que
aportou naquelas praias. Esse casamento é festejado como um acontecimento da
mais elevada importância, pois todos acreditam que tal ocorrência porá termo às
desgraças frequentes relacionadas à fatal Regina. Eis que na noite de núpcias,
Aleixo é assassinado. No dia seguinte, a cabana de Regina está vazia. Todos
pensam que o pobre moço foi mais uma vítima da sereia, mas a verdade é outra. E
quem quiser saber o que realmente ocorreu, claro, terá que ler o livro!
A Ilha
Maldita tem uma estrutura bastante folhetinesca, tendo uma
narrativa aparentemente toda amarrada desde o princípio por seu autor. O
romance obedece a uma sequência muito direta e até previsível em vários
momentos. Mesmo tendo uma linguagem bastante trabalhada, não consigo encará-lo
como obra destinada ao público adulto, não necessariamente por seu caráter
fantasioso, mas pela forma de condução executada por Bernardo Guimarães, que
lembra a narrativa infantojuvenil. Fosse este livro “traduzido” para o
português moderno, penso que faria relativo sucesso com o público jovem, em
razão de seus vários elementos atrativos: mistério, aventura, fantasia e até
uns toques de terror.
O crítico Dilermando Cruz, no seu perfil
bio-biblio-literário de Bernardo Guimarães, considerou A Ilha Maldita um romance excelente e primoroso, lamentando, como
eu, o pouco valor atribuído à obra, que ainda tem o mérito de provavelmente ser
o primeiro romance fantástico da Literatura Brasileira. Posso até estar
enganado, mas não consigo lembrar de nenhum romance fantástico brasileiro
publicado antes de 1879, pois devemos lembrar que Noite na Taverna não é exatamente um romance. Sendo assim, este
mérito, embora jamais atribuído pela crítica, cabe ao celebrado autor de A Escrava Isaura, nosso eterno Bernardo
Guimarães.
Avaliação: ★★★★★
Daniel Coutinho
P.S.: Uma curiosidade apenas! Em 1942,
a Editora Brasileira publicou A Ilha
Maldita sob o título A Filha das Ondas
(em edição de bolso), provavelmente por motivos comerciais, talvez por acharem
este último título mais atraente. Fiz a releitura nessa edição de bolso, pois
minha outra edição (Jornal do Brasil, 1930) tem uma letra bastante minúscula.
A Editora Oitocentista lançou recentemente uma edição fac-símile da 1ª edição, de 1879. Para adquirir seu exemplar, fale com a editora pelo Instagram (@editoraoitocentista) ou por e-mail (editoraoitocentista@gmail.com).
***
Instagram: @autordanielcoutinho
SKOOB: http://www.skoob.com.br/usuario/1348798 Escreva para o blog: autordanielcoutinho@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário