Meu primeiro contato com o cordel se deu através
da influência do meu pai. Mesmo sendo uma pessoa de baixa escolaridade, meu
pai, desde criança, ouvia com atenção os mais velhos lerem/recitarem os
livrinhos de feira. Depois que aprendeu a ler, passou a ter um contato mais
direto com vários folhetos que circulavam no pé-de-serra onde morava. De tanto
ler essas histórias, acabava decorando os versos, e os sabia de cor até alguns
anos atrás. Assim, na minha infância, tive a oportunidade de ouvir dele os causos
que contavam os tais livrinhos de seu tempo, que ele nunca soube chamarem-se
cordéis.
O primeiro e mais querido de todos era um que
chamava Rosinha, Sebastião e Heleno.
Também ouvia com entusiasmo A Vitória de
Floriano e a Negra Feiticeira; O
Pavão Misterioso; e O Negrão do
Paraná e o Seringueiro do Norte. Quem acompanhou o Mais Livros! de setembro viu que consegui obter todos esses
folhetos através das edições Luzeiro. Finalmente, poderei lê-los, eu mesmo, sem
perdas de versos esquecidos rsrsrs. Mas a verdade é que os estou economizando.
Portanto, de tempos em tempos, é que farei a leitura dessas histórias que tanto
me encantaram na infância.
A versão lida por meu pai contém muitas
variantes dessa que li, a começar pelo título. Mas em se tratando de uma
matéria como o cordel, genuinamente popular, não é de se admirar que os
folhetos tivessem mais de uma versão. As variantes, contudo, em nada mudam a
história original, que é a mesma em todas as versões que consultei. Manoel
Pereira Sobrinho (1918-1995), paraibano, transportou para o cordel várias obras
da literatura universal, mas também era reconhecido por suas histórias
originais, como é o caso de Rosinha e
Sebastião.
A história se passa na Paraíba, onde residem os
jovens protagonistas deste folheto, ambos filhos de moradores da fazenda São
José. Sebastião, enamorado da bela Rosinha, vive fazendo de tudo para conquistar
a moça, mas sua ingenuidade não lhe permite ver que, na verdade, Rosinha só
quer tirar proveito dele. Longe de amar Sebastião, Rosinha deseja um casamento
vantajoso com um homem que lhe proporcione uma vida diferente, fora do sertão.
Num festejo religioso, Rosinha conhece Heleno,
vendedor de miudezas, e fica logo encantada com a classe do moço, a quem logo
convida para uma visita em sua casa. A partir desse novo contato de Rosinha,
ela passa a desprezar ainda mais Sebastião, que logo fica sabendo o real motivo
do súbito desinteresse da moça em relação a ele. Rosinha deixa claro que não vê
futuro em homem que vive de serviço pesado; por isso, prefere Heleno, que além
de delicado, é muito mais promissor.
Desiludido com seu amor malogrado, Sebastião
apronta as malas, deixa os pais e segue com destino a Fortaleza, onde logo é
empregado e faz fortuna. Aqui, a sorte de Rosinha e Sebastião começa a mudar
consideravelmente. Enquanto Sebastião dá a volta por cima, Rosinha descobre que
seu querido Heleno é um homem casado. O destino lhes reserva um novo encontro,
mas como as circunstâncias são outras, tanto para um como para o outro, nada
garante que os dois possam ficar juntos dessa vez.
Ficou curioso? Pois não deixe de ler esse cordel
maravilhoso! Quem não puder adquirir o livreto original da editora Luzeiro,
poderá ler online clicando AQUI!
Rosinha
e Sebastião é história romântica das mais populares do
nordeste. A poesia de Manoel Pereira Sobrinho é bastante agradável e
instigante. No entanto, o autor me pareceu embaraçado na construção de algumas
rimas, de maneira que ele prescinde da lógica em alguns versos para não perder
o esquema rítmico. Em outros casos, ele altera a pronúncia de algumas palavras,
como “bênção”, transformando-a em oxítona para rimá-la com “Sebastião”. Foram
só esses pequenos detalhes que me incomodaram durante a leitura; felizmente,
nada que comprometesse a experiência ou estragasse a fagueira lembrança de
infância.
Avaliação: ★★★★
Daniel Coutinho
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