segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Rosinha e Sebastião, de Manoel Pereira Sobrinho - RESENHA #36

Meu primeiro contato com o cordel se deu através da influência do meu pai. Mesmo sendo uma pessoa de baixa escolaridade, meu pai, desde criança, ouvia com atenção os mais velhos lerem/recitarem os livrinhos de feira. Depois que aprendeu a ler, passou a ter um contato mais direto com vários folhetos que circulavam no pé-de-serra onde morava. De tanto ler essas histórias, acabava decorando os versos, e os sabia de cor até alguns anos atrás. Assim, na minha infância, tive a oportunidade de ouvir dele os causos que contavam os tais livrinhos de seu tempo, que ele nunca soube chamarem-se cordéis.

O primeiro e mais querido de todos era um que chamava Rosinha, Sebastião e Heleno. Também ouvia com entusiasmo A Vitória de Floriano e a Negra Feiticeira; O Pavão Misterioso; e O Negrão do Paraná e o Seringueiro do Norte. Quem acompanhou o Mais Livros! de setembro viu que consegui obter todos esses folhetos através das edições Luzeiro. Finalmente, poderei lê-los, eu mesmo, sem perdas de versos esquecidos rsrsrs. Mas a verdade é que os estou economizando. Portanto, de tempos em tempos, é que farei a leitura dessas histórias que tanto me encantaram na infância.

A versão lida por meu pai contém muitas variantes dessa que li, a começar pelo título. Mas em se tratando de uma matéria como o cordel, genuinamente popular, não é de se admirar que os folhetos tivessem mais de uma versão. As variantes, contudo, em nada mudam a história original, que é a mesma em todas as versões que consultei. Manoel Pereira Sobrinho (1918-1995), paraibano, transportou para o cordel várias obras da literatura universal, mas também era reconhecido por suas histórias originais, como é o caso de Rosinha e Sebastião.

A história se passa na Paraíba, onde residem os jovens protagonistas deste folheto, ambos filhos de moradores da fazenda São José. Sebastião, enamorado da bela Rosinha, vive fazendo de tudo para conquistar a moça, mas sua ingenuidade não lhe permite ver que, na verdade, Rosinha só quer tirar proveito dele. Longe de amar Sebastião, Rosinha deseja um casamento vantajoso com um homem que lhe proporcione uma vida diferente, fora do sertão.

Num festejo religioso, Rosinha conhece Heleno, vendedor de miudezas, e fica logo encantada com a classe do moço, a quem logo convida para uma visita em sua casa. A partir desse novo contato de Rosinha, ela passa a desprezar ainda mais Sebastião, que logo fica sabendo o real motivo do súbito desinteresse da moça em relação a ele. Rosinha deixa claro que não vê futuro em homem que vive de serviço pesado; por isso, prefere Heleno, que além de delicado, é muito mais promissor.

Desiludido com seu amor malogrado, Sebastião apronta as malas, deixa os pais e segue com destino a Fortaleza, onde logo é empregado e faz fortuna. Aqui, a sorte de Rosinha e Sebastião começa a mudar consideravelmente. Enquanto Sebastião dá a volta por cima, Rosinha descobre que seu querido Heleno é um homem casado. O destino lhes reserva um novo encontro, mas como as circunstâncias são outras, tanto para um como para o outro, nada garante que os dois possam ficar juntos dessa vez.

Ficou curioso? Pois não deixe de ler esse cordel maravilhoso! Quem não puder adquirir o livreto original da editora Luzeiro, poderá ler online clicando AQUI!

Rosinha e Sebastião é história romântica das mais populares do nordeste. A poesia de Manoel Pereira Sobrinho é bastante agradável e instigante. No entanto, o autor me pareceu embaraçado na construção de algumas rimas, de maneira que ele prescinde da lógica em alguns versos para não perder o esquema rítmico. Em outros casos, ele altera a pronúncia de algumas palavras, como “bênção”, transformando-a em oxítona para rimá-la com “Sebastião”. Foram só esses pequenos detalhes que me incomodaram durante a leitura; felizmente, nada que comprometesse a experiência ou estragasse a fagueira lembrança de infância.

Avaliação: ★★★★

Daniel Coutinho

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