Atenção!
Esta resenha contém spoilers? Nem eu mesmo sei rsrsrs.
Definitivamente
não sou um grande leitor de literatura contemporânea, nem pretendo ser. Houve
um tempo em que nada me fazia ler um autor moderno ou atual; hoje, estou mais
tolerante com eles, embora isso não queira dizer exatamente que “goste”. Meu
fascínio sempre foram os clássicos, pois fizeram de mim um leitor. Comecei
pelos brasileiros; agora, estou tendo o prazer de conhecer também os clássicos
universais. A literatura do século XIX me comove sobremaneira. Claro que não
estou generalizando! Minhas considerações são fruto das experiências literárias
que já tive. Há sim escritores modernos e contemporâneos interessantes (para
mim), mas onde tenho encontrado impressões mais tocantes e arrebatadoras é na
literatura oitocentista. Às vezes, até penso que, com o passar do tempo, à
medida que for realizando novas leituras modernas, posso ir tomando gosto pelos
inovadores, especialmente quando leio
uma Rachel de Queiroz; contudo, no geral, modernos e contemporâneos ainda são
para mim um tanto decepcionantes.
Ouvi
falar em Milton Hatoum, pela primeira vez, na faculdade. Um professor de
Literatura comentou que ficara fascinado com a leitura de Dois Irmãos. Desde então, vez por outra, ouvia alguém falando nesse
livro, sempre positivamente. Só depois, soube que se tratava de um autor vivo.
Como já disse, ando mais tolerante com a literatura moderna; assim, decidi ler Dois Irmãos, para finalmente conhecer a
obra de Hatoum. Soube, porém, que um livro anterior, Relato de um Certo Oriente, relacionava-se (ainda que de forma
tênue) com o romance que eu queria ler. Tenho umas manias chatas comigo em
relação a livros. Quando sei que um livro tem uma sequência ou alguma ligação
com outras obras, preciso reuni-las todas para ler em ordem cronológica. Por
isso, nunca li Agatha Christie, Balzac, Zola, dentre outros. Assim sendo,
embora eu quisesse ler apenas Dois Irmãos,
acabei antecipando Relato de um Certo
Oriente, que é um dos livros mais estranhos que já li na vida rsrsrs.
Algo
que me incomoda em autores modernos e contemporâneos é que, geralmente, fica
muito visível a necessidade que eles têm de chamar atenção através de
inovações, artifícios incomuns, dentre outros recursos que possam tornar suas
obras diferentes, originais e impactantes. Alguns abusam do eruditismo, outros
tocam em temas muito delicados, há os que inventam mil neologismos e novas
formas de pontuação (isso quando não abrem mão dela), e prescindem das
maiúsculas, e abusam de figuras de linguagem, misturam gêneros, fazem a
desgraça enfim rsrsrs; tudo para serem diferentes, porque, é claro, é muito
mais difícil compor um enredo original, forte e instigante o suficiente para
dispensar tantos exageros. Mais uma vez repito: não estou generalizando! Até
entendo ser muito complicado apontar quando um artifício tem intenção
artística, e quando é apenas puro exibicionismo. Cada um que resolva por sua
intuição rsrsrs.
Mas
depois de todo esse prólogo, vocês devem estar pensando que eu odiei Milton
Hatoum, não é? Odiar não é a palavra. A verdade é que esse livro dele é bem
chatinho. Chatinho no diminutivo, porque sobressaem nele alguns bons momentos.
O enredo, que considero o elemento mais essencial de todo texto narrativo, é
que está fraquíssimo nesse romance. Mas analisemos a princípio os artifícios,
deixando a história para depois.
O
romance contém oito capítulos, todos narrados em 1ª pessoa. A princípio,
imaginei que cada capítulo teria um narrador diferente, mas ao final, percebi
que todas as vozes no romance (e há capítulos em que aparecem mais de uma) são
da mesma pessoa. Essa narradora inominada é a autora do relato aludido pelo
título. Ela, que vive em Manaus, está escrevendo para seu irmão que vive na
Espanha. O relato consiste em uma teia de memórias dispersas sobre a infância
dos dois num lar adotivo e do que sucedeu às pessoas que o compunham. Quando o
texto assume uma voz ou narrador que não seja a inominada (vou chamá-la assim),
é porque a mesma preferiu relatar assim mesmo, como se estivesse emprestando
sua voz a alguns personagens do livro. Parece confuso? Na verdade, é confuso
mesmo rsrsrs.
Acreditam
se disser que gostei desse confuso e estranho artifício? Pois é; o que não
gostei foi do conteúdo propriamente dito do relato. O enredo, além de ser
totalmente disperso e cheio de avanços e recuos no tempo, não me cativou, não
me pareceu interessante, não despertou o meu interesse. A linguagem do Hatoum
não é difícil, o estilo é delicado e até poético, mas o enredo... não funcionou
comigo. É tão disperso, que é até difícil de transportar para uma resenha, mas
vou tentar realizar esta proeza, sempre deixando bem claro que, na obra, o
mesmo não aparece assim: direitinho, linear e explicadinho rsrsrs.
Emilie
veio do Líbano para o Brasil, acompanhada de seus irmãos Emir e Emílio, por
decisão de seus pais. Ela é casada com um islamita cujo nome não é revelado. O
problema do casal é a diferença religiosa, pois Emilie é católica, mas os dois
tentam manter o respeito, na medida do possível. Eles têm uma loja em sua
residência denominada Parisiense. Conforme a família vai aumentando, eles veem
a necessidade de mudar para uma casa maior, e passam a viver num sobrado, mas o
esposo de Emilie não deixa de dar assistência na Parisiense. O casal tem quatro
filhos biológicos: Hakim, Samara Délia e dois mais novos que são verdadeiros
demônios, autores das piores selvagerias (as empregadas de Emilie que o digam).
A família conta com o apoio da lavadeira Anastácia nos serviços domésticos,
pois ela não tem atrativos físicos para tentar os demônios da casa (sempre que
falar em demônios, estarei me referindo aos dois filhos mais novos de Emilie,
cujos nomes também não são revelados).
A
família vive sua rotina comum, entremeada de problemas, naturais em qualquer
família. A verdade é que mesmo nesse ambiente comum, temos uma família excêntrica, onde o patriarca quebra as
imagens de gesso da esposa católica; e ela, para vingar-se, resolve esconder o Alcorão do marido, o que o leva a fechar
portas e janelas da casa, vedando o movimento de todos, até encontrar seu
sagrado livro. A excentricidade de Emilie também pode ser observada no seu
fascínio por um relógio negro que havia no convento em que esteve no Líbano, de
onde saiu graças à chantagem de Emir, seu irmão, que jurou suicídio se a irmã
insistisse em permanecer no claustro. No Brasil, ela trocou seu papagaio que
recitava a ave-maria e um versículo do Deuteronômio por um relógio similar, que
emitia em suas badaladas o mesmo som que fascinava Emilie no convento.
A
família decide ainda adotar duas crianças: a autora do relato e o irmão dela.
Essas duas crianças vão ter como companheira de brincadeiras uma menininha
surda-muda chamada Soraya Ângela, filha bastarda de Samara Délia, que a
concebera na adolescência. O nascimento dessa criança ilegítima causa grande
alvoroço na casa de Emilie, revoltando especialmente o senhor da casa e os
demônios. A menina acaba se isolando do convívio social, preferindo a companhia
dos animais, além de ter herdado o fascínio de Emilie pelo tal relógio. Soraya
acaba morrendo num terrível acidente na rua, que é sempre citado de forma muito
obscura, mas imagino que ela tenha sido atropelada. Essa tragédia causa um
grande impacto na família de Emilie, que a partir daí, começa a se dispersar.
Poderia
continuar enumerando mil outras recordações desse relato, que é na verdade um
tecido de memórias, como disse Alfredo Bosi. E o livro é isso mesmo: um punhado
de lembranças dispersas reunidas, evocadas por uma mulher que precisa
encontrar-se, descobrir a si mesma. Não me pareceu atraente, mas teve lá algo
de sutil. Confesso que fiquei desmotivado para ler Dois Irmãos, mas estou decidido a fazê-lo o quanto antes. É isso
aí! Vamos dar mais uma chance a Milton Hatoum... e ver no que vai dar rsrsrs.
Avaliação: ★★
Daniel Coutinho
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Muito legal!! Obrigado!
ResponderExcluirbode
ResponderExcluirrodrigo gostoso
ResponderExcluirrodrigo maravilhso
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