Atenção!
Este post contém spoiler! (Mas será
que alguém no mundo ainda não leu O
Pequeno Príncipe?).
No
Mais Livros! de março, mostrei a
edição pop-up d’O Pequeno Príncipe,
que é mesmo uma edição lindíssima, e que me motivou a reler a obra-prima do
Exupéry no feriado da Sexta-feira Santa. A tradução é a clássica de Dom Marcos
Barbosa. O que me incomodou, contudo, foi o tamanho da letra da edição. Ainda
que as imagens animadas ocupem bom espaço, penso que seria possível o uso de
uma letra maior. Sério, minha gente: odeio letra pequena! Escolho as edições
pelo tamanho da letra rsrsrs. Na verdade, nem sempre, mas acho essencial.
Li
O Pequeno Príncipe pela primeira vez
ano passado, e ele entrou facilmente para as melhores leituras de 2015.
Confesso que sempre subestimei esse livro, não por ser “infantil”, mas porque
achava que era mais uma dessas histórias “chiclete” que fazem sensação. Quando
o li finalmente, tive uma grande surpresa. Estava fascinado pela obra do
Exupéry. Que livro! Que mensagem! Que humanidade! Vivemos em um mundo tão cheio
de maldade, que livros como esse deveriam ser mais lidos, não pelas crianças,
mas pelos adultos. Portanto, papais, deem às crianças as estorinhas dos irmãos
Grimm, e vão ler O Pequeno Príncipe!
Já!
A
delicadeza desse livro, as mensagens transmitidas, a ingenuidade e pureza do
principezinho, a obra toda exala uma harmonia de ideias que fazem a gente
pensar na vida com uma preocupação voltada às coisas que realmente importam.
Dizem que é possível interpretar a história do principezinho de diversas
maneiras. Portanto, deixo claro que as impressões deixadas aqui são
particularmente minhas, e faço questão de esclarecer que são apenas uma amostra,
porque embora O Pequeno Príncipe seja
uma breve novela, é obra densa, daquelas que suscitam inúmeros pensamentos,
hipóteses, suposições, etc.
Exupéry
publicou Le Petit Prince já no fim da
vida, baseado em uma experiência real, pois era piloto civil e realmente caiu
no deserto do Saara, o que nos leva a pensar que o narrador de sua novela é ele
mesmo. Será? Suponhamos que sim, para deixar a situação mais interessante.
O
livro começa com Exupéry contando que quando criança foi desencorajado à
carreira de pintor, graças a um desenho que fez de uma jiboia digerindo um
elefante, no qual todos reconheciam um chapéu. Só vendo as ilustrações (que são
do autor) pra entender! Assim, ele segue a carreira de aviador, mas num belo
dia, é obrigado a fazer um pouso de emergência em pleno deserto do Saara. Vale
lembrar que os fatos narrados se passaram há seis anos. Enquanto tenta
consertar a nave, é surpreendido por uma voz que lhe pede o desenho de um
carneiro. Ele vê então aquele homenzinho de cabelos dourados, a quem passa a
chamar de pequeno príncipe ou principezinho, certamente influenciado pelo fato
de se tratar de um ser extraterrestre, único habitante do asteroide B 612. Mas
vamos entender por que o principezinho precisa do desenho de um carneiro.
No
tal asteroide onde vive, que é pequeníssimo, germinam diferentes tipos de
sementes, inclusive de baobás, que são árvores gigantescas e que, por isso
mesmo, não cabem no seu planeta. A ideia é que o carneiro coma os brotinhos de
baobás, antes que eles cresçam; agora como o desenho de um carneiro poderá
exercer tal função é que é difícil de entender; mas se você encarar O Pequeno Príncipe por um entendimento
literal/racional, não aproveitará o melhor da experiência. Todas as lacunas
deixadas por Exupéry não devem ser preenchidas pela lógica, mas pela fantasia
que permeia sua obra.
Os
dias que passam na companhia um do outro servem para que o autor tome
conhecimento de como chegara a Terra o principezinho, que conta tudo
espontaneamente, pois se esquiva das perguntas que lhe fazem, embora tenha o
costume de nunca desistir de uma pergunta. Assim, ele conta que certa vez, uma
semente (vinda de não se sabe onde) fez nascer uma flor em seu planeta, mas não
era uma flor qualquer, era a flor mais bela que já vira. A vaidosa flor, a
crédito de sua beleza, começa a fazer uma série de exigências, que são logo
obedecidas pelo principezinho que se sente fascinado pelos seus encantos. Um
comentário da flor sobre o incômodo que sente pelo frio, faz com que ela comece
a falar sobre o lugar maravilhoso de onde veio. O pequeno príncipe percebe sua
mentira, pois sabe que ela chegara ao seu planeta em forma de semente, não
tendo pois como saber como eram os demais. Essa mentira fere seus sentimentos e
para curar sua dor, o principezinho decide partir. A flor despede-se dele,
arrependida pelo seu erro, mas esconde suas lágrimas, pois era muito orgulhosa.
Aproveitando-se
de uma migração de pássaros selvagens, o pequeno príncipe passeia pelo espaço e
visita os asteroides: 325, 326, 327, 328, 329 e 330. Cada um deles é habitado
por um único ser; seres bem estranhos por sinal, o que faz com que o nosso
príncipe crie uma imagem negativa dos adultos. Não vou aqui especificar cada um
deles, mas penso que o autor quis explorar nessa passagem o egoísmo dos homens
que se encerram em seus mundinhos particulares, e vivem por si mesmos,
desvalorizando todo o resto do mundo. O pequeno príncipe reconhece na
futilidade dos adultos a sua própria nobreza em zelar pelo seu planeta ao invés
de seus interesses particulares.
Quando
finalmente ele chega a Terra, encontra outros seres que lhe proporcionarão
grandes ensinamentos, sendo o primeiro deles a serpente, que tratará da solidão
humana, e se prontificará a ajudá-lo a regressar a seu planeta. O
principezinho, contudo, pretende conhecer os outros seres da Terra, inclusive
os homens. Dentre todos, meu preferido é a raposa, que torna-se amiga dele,
fazendo aqueles célebres discursos que popularizaram a obra de Exupéry: “O
essencial é invisível aos olhos” e “Tu te tornas eternamente responsável por
aquilo que cativas”. A mensagem de amor e amizade transmitida pela raposa é um
dos pontos mais altos do livro que, a meu ver, só perde para o final da
história.
Enquanto
o pequeno príncipe relata todos esses acontecimentos, Exupéry faz os desenhos
que ilustram o livro; até que acaba a água que trazia consigo. Os dois caminham
em busca de um poço, até que encontram um. Depois de finalmente conseguir
consertar sua nave, o piloto encontra o pequeno príncipe conversando com uma
serpente. É a mesma de sua chegada na Terra. O que ocorre é que, movido pelos
ensinamentos da raposa, o principezinho quer voltar para seu planeta para
cuidar de sua desprotegida flor, principalmente agora que já tem um carneiro
para comer os baobás e uma mordaça para impedir que o carneiro coma a flor. O
caso é que para que o pequeno príncipe volte para seu planeta, ele precisa
morrer; eis o porquê da conversa com a serpente. Essa passagem do livro
desperta várias controvérsias e explicações, mas sou daqueles que pensam que a
morte aqui é mais uma metáfora para simbolizar a necessidade de se fazer certos
sacrifícios na vida quando se ama verdadeiramente.
As
considerações finais de Exupéry sobre seu esquecimento de juntar uma correia à
mordaça, sua preocupação sobre a possibilidade do carneiro comer a flor, suas
reminiscências e desejos de ter notícias do pequeno príncipe... É tudo tão
poético. O final dessa obra é um dos mais lindos que já li, e o mais
interessante é que são dois finais. Num deles, o corpo do principezinho está
desfalecido; no outro, seu corpo não está mais lá. E acho melhor terminar isso
aqui logo, porque vou começar a chorar rsrsrsrs
Esse
foi um dos livros mais tocantes que li na vida, e dos que mais me influíram
também. A singeleza de sua história, a pureza do principezinho, as inúmeras
frases de efeito ao longo da obra, os ensinamentos e reflexões provocados; tudo
isso e muito mais fazem desse livro um dos melhores que já li em toda minha
existência. E repito: O mundo precisa ler mais esse livro!
Avaliação: ★★★★★
Daniel Coutinho
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Boa noite,
ResponderExcluirQual o nome dado a nave do pequeno Príncipe?