segunda-feira, 18 de abril de 2016

O Pequeno Príncipe (Le Petit Prince), de Antoine de Saint-Exupéry - RESENHA #10

Atenção! Este post contém spoiler! (Mas será que alguém no mundo ainda não leu O Pequeno Príncipe?).

No Mais Livros! de março, mostrei a edição pop-up d’O Pequeno Príncipe, que é mesmo uma edição lindíssima, e que me motivou a reler a obra-prima do Exupéry no feriado da Sexta-feira Santa. A tradução é a clássica de Dom Marcos Barbosa. O que me incomodou, contudo, foi o tamanho da letra da edição. Ainda que as imagens animadas ocupem bom espaço, penso que seria possível o uso de uma letra maior. Sério, minha gente: odeio letra pequena! Escolho as edições pelo tamanho da letra rsrsrs. Na verdade, nem sempre, mas acho essencial.

Li O Pequeno Príncipe pela primeira vez ano passado, e ele entrou facilmente para as melhores leituras de 2015. Confesso que sempre subestimei esse livro, não por ser “infantil”, mas porque achava que era mais uma dessas histórias “chiclete” que fazem sensação. Quando o li finalmente, tive uma grande surpresa. Estava fascinado pela obra do Exupéry. Que livro! Que mensagem! Que humanidade! Vivemos em um mundo tão cheio de maldade, que livros como esse deveriam ser mais lidos, não pelas crianças, mas pelos adultos. Portanto, papais, deem às crianças as estorinhas dos irmãos Grimm, e vão ler O Pequeno Príncipe! Já!

A delicadeza desse livro, as mensagens transmitidas, a ingenuidade e pureza do principezinho, a obra toda exala uma harmonia de ideias que fazem a gente pensar na vida com uma preocupação voltada às coisas que realmente importam. Dizem que é possível interpretar a história do principezinho de diversas maneiras. Portanto, deixo claro que as impressões deixadas aqui são particularmente minhas, e faço questão de esclarecer que são apenas uma amostra, porque embora O Pequeno Príncipe seja uma breve novela, é obra densa, daquelas que suscitam inúmeros pensamentos, hipóteses, suposições, etc.

Exupéry publicou Le Petit Prince já no fim da vida, baseado em uma experiência real, pois era piloto civil e realmente caiu no deserto do Saara, o que nos leva a pensar que o narrador de sua novela é ele mesmo. Será? Suponhamos que sim, para deixar a situação mais interessante.

O livro começa com Exupéry contando que quando criança foi desencorajado à carreira de pintor, graças a um desenho que fez de uma jiboia digerindo um elefante, no qual todos reconheciam um chapéu. Só vendo as ilustrações (que são do autor) pra entender! Assim, ele segue a carreira de aviador, mas num belo dia, é obrigado a fazer um pouso de emergência em pleno deserto do Saara. Vale lembrar que os fatos narrados se passaram há seis anos. Enquanto tenta consertar a nave, é surpreendido por uma voz que lhe pede o desenho de um carneiro. Ele vê então aquele homenzinho de cabelos dourados, a quem passa a chamar de pequeno príncipe ou principezinho, certamente influenciado pelo fato de se tratar de um ser extraterrestre, único habitante do asteroide B 612. Mas vamos entender por que o principezinho precisa do desenho de um carneiro.

No tal asteroide onde vive, que é pequeníssimo, germinam diferentes tipos de sementes, inclusive de baobás, que são árvores gigantescas e que, por isso mesmo, não cabem no seu planeta. A ideia é que o carneiro coma os brotinhos de baobás, antes que eles cresçam; agora como o desenho de um carneiro poderá exercer tal função é que é difícil de entender; mas se você encarar O Pequeno Príncipe por um entendimento literal/racional, não aproveitará o melhor da experiência. Todas as lacunas deixadas por Exupéry não devem ser preenchidas pela lógica, mas pela fantasia que permeia sua obra.

Os dias que passam na companhia um do outro servem para que o autor tome conhecimento de como chegara a Terra o principezinho, que conta tudo espontaneamente, pois se esquiva das perguntas que lhe fazem, embora tenha o costume de nunca desistir de uma pergunta. Assim, ele conta que certa vez, uma semente (vinda de não se sabe onde) fez nascer uma flor em seu planeta, mas não era uma flor qualquer, era a flor mais bela que já vira. A vaidosa flor, a crédito de sua beleza, começa a fazer uma série de exigências, que são logo obedecidas pelo principezinho que se sente fascinado pelos seus encantos. Um comentário da flor sobre o incômodo que sente pelo frio, faz com que ela comece a falar sobre o lugar maravilhoso de onde veio. O pequeno príncipe percebe sua mentira, pois sabe que ela chegara ao seu planeta em forma de semente, não tendo pois como saber como eram os demais. Essa mentira fere seus sentimentos e para curar sua dor, o principezinho decide partir. A flor despede-se dele, arrependida pelo seu erro, mas esconde suas lágrimas, pois era muito orgulhosa.

Aproveitando-se de uma migração de pássaros selvagens, o pequeno príncipe passeia pelo espaço e visita os asteroides: 325, 326, 327, 328, 329 e 330. Cada um deles é habitado por um único ser; seres bem estranhos por sinal, o que faz com que o nosso príncipe crie uma imagem negativa dos adultos. Não vou aqui especificar cada um deles, mas penso que o autor quis explorar nessa passagem o egoísmo dos homens que se encerram em seus mundinhos particulares, e vivem por si mesmos, desvalorizando todo o resto do mundo. O pequeno príncipe reconhece na futilidade dos adultos a sua própria nobreza em zelar pelo seu planeta ao invés de seus interesses particulares.

Quando finalmente ele chega a Terra, encontra outros seres que lhe proporcionarão grandes ensinamentos, sendo o primeiro deles a serpente, que tratará da solidão humana, e se prontificará a ajudá-lo a regressar a seu planeta. O principezinho, contudo, pretende conhecer os outros seres da Terra, inclusive os homens. Dentre todos, meu preferido é a raposa, que torna-se amiga dele, fazendo aqueles célebres discursos que popularizaram a obra de Exupéry: “O essencial é invisível aos olhos” e “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. A mensagem de amor e amizade transmitida pela raposa é um dos pontos mais altos do livro que, a meu ver, só perde para o final da história.

Enquanto o pequeno príncipe relata todos esses acontecimentos, Exupéry faz os desenhos que ilustram o livro; até que acaba a água que trazia consigo. Os dois caminham em busca de um poço, até que encontram um. Depois de finalmente conseguir consertar sua nave, o piloto encontra o pequeno príncipe conversando com uma serpente. É a mesma de sua chegada na Terra. O que ocorre é que, movido pelos ensinamentos da raposa, o principezinho quer voltar para seu planeta para cuidar de sua desprotegida flor, principalmente agora que já tem um carneiro para comer os baobás e uma mordaça para impedir que o carneiro coma a flor. O caso é que para que o pequeno príncipe volte para seu planeta, ele precisa morrer; eis o porquê da conversa com a serpente. Essa passagem do livro desperta várias controvérsias e explicações, mas sou daqueles que pensam que a morte aqui é mais uma metáfora para simbolizar a necessidade de se fazer certos sacrifícios na vida quando se ama verdadeiramente.

As considerações finais de Exupéry sobre seu esquecimento de juntar uma correia à mordaça, sua preocupação sobre a possibilidade do carneiro comer a flor, suas reminiscências e desejos de ter notícias do pequeno príncipe... É tudo tão poético. O final dessa obra é um dos mais lindos que já li, e o mais interessante é que são dois finais. Num deles, o corpo do principezinho está desfalecido; no outro, seu corpo não está mais lá. E acho melhor terminar isso aqui logo, porque vou começar a chorar rsrsrsrs

Esse foi um dos livros mais tocantes que li na vida, e dos que mais me influíram também. A singeleza de sua história, a pureza do principezinho, as inúmeras frases de efeito ao longo da obra, os ensinamentos e reflexões provocados; tudo isso e muito mais fazem desse livro um dos melhores que já li em toda minha existência. E repito: O mundo precisa ler mais esse livro!

Avaliação: ★★★★★

Daniel Coutinho

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