domingo, 3 de abril de 2022

Retrato de Luciano, de Alberto Leal - RESENHA #178

Alberto Leal (1908-1948) foi um escritor paulista que, além da literatura, dedicou-se ao jornalismo, à medicina e à lavoura. Foi casado com a também escritora Isa Silveira Leal, que acabou ganhando mais notoriedade, sendo mais lembrada atualmente.

Retrato de Luciano (1949) é um romance póstumo. Trata-se de meu primeiro contato com o autor. Ainda que não seja classificado como infantojuvenil, a narrativa lembra bastante aquele estilo dos primeiros autores publicados na lendária “coleção Vaga-Lume”. É sem dúvida um livro despretensioso e simples que, embora não revele qualidades extraordinárias, não deixa de ser um passatempo agradável.

Os personagens, de modo geral, se não são aprofundados, ao menos têm uma participação eficiente no enredo, não chegando a ser meros figurantes como ocorre em alguns livros. O leitor consegue ter uma noção satisfatória sobre cada personalidade presente na história.

O enredo é sobre o jovem Luciano, um garoto órfão de pai e excessivamente mimado pela mãe, que encontra dificuldades em consolidar-se profissionalmente em sua vida adulta. Maria Angélica, a irmã mais velha, é a cabeça da família, que, a seu modo, tenta melhorar a educação inadequada recebida por Luciano.

Dona Afonsina é uma mãe superprotetora que não mede esforços para auxiliar o filho caçula em seus negócios duvidosos que sempre dão prejuízos à família. A interferência de Maria Angélica ou mesmo a influência do tio Lupércio não impedem que Luciano seja ludibriado por pessoas mal-intencionadas e que se aproveitam de sua inexperiência.

Quando, porém, Luciano é mandado para o sítio do tio Triburtino, em Mato Grosso, o leitor, pelos olhos do protagonista, testemunha os problemas de educação sofridos pelo próprio Luciano sendo reproduzidos em seu primo Escotino. É quando compreendemos, junto com o personagem, o caminho seguido por ele e que resultou nas suas falhas de caráter.

Retrato de Luciano segue esse modelo simples em que o herói passa por uma série de dificuldades até finalmente deparar-se com a experiência salvadora que lhe mostrará o caminho certo para sua redenção. Seria um livro bobinho, não fossem as qualidades literárias de Alberto Leal, que as sabe aplicar convenientemente: no uso do bom humor; na apresentação de personagens secundários que enriquecem o livro, como Mimi, Roberto e Tinoco; e na condução do enredo que segue em ritmo fluido e favorável.

Quanto aos problemas do livro, um leitor menos paciente poderá achá-lo “parado” e carente de episódios interessantes. A leveza do estilo e o desenho de alguns personagens beiram a infantilidade em diversos momentos. A esposa de Luciano (Mariana), por exemplo, desempenha um papel muito teatral, desses muito comuns em telenovelas.

Se considerarmos, porém, o romance de Alberto Leal como um livro para jovens (de sua época), teremos uma obra bastante satisfatória, à qual não faltam boas qualidades, além de um entretenimento saudável e proveitoso.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

***

Instagram: @autordanielcoutinho

SKOOB: http://www.skoob.com.br/usuario/1348798
Escreva para o blog: autordanielcoutinho@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário