sábado, 5 de março de 2022

Os Brilhantes do Brasileiro, de Camilo Castelo Branco - RESENHA #176

Ler Camilo Castelo Branco não é tarefa das mais fáceis. Conhecido por seu estilo hermético e linguagem peculiar, o escritor português também é lembrado pela vasta produção literária que nos deixou. Camilo publicou mais de uma centena de livros, praticando os mais variados gêneros.

Os Brilhantes do Brasileiro (1869), a meu ver, é uma excelente porta de entrada para o universo camiliano. Menos complexo que outros livros do autor, a narrativa pareceu-me bastante acessível e de fácil compreensão. Segundo o crítico Carlos d’Alge, o livro seria uma compensação feliz para o trágico A Brasileira de Prazins, tal como Camilo fizera anteriormente com Amor de Perdição e Amor de Salvação.

O enredo tem início com a descoberta do roubo de vários brilhantes que o brasileiro Hermenegildo Fialho havia dado à sua esposa Ângela. A princípio, acredita-se que Vitorina, criada pessoal daquela senhora, tenha sido a responsável pela substituição das joias por outras falsas. Mas quando a própria esposa do brasileiro assume a responsabilidade do caso, Hermenegildo a acusa de traição.

O narrador nos leva então ao passado de Ângela para, dessa forma, provar a inocência de sua heroína. O poderoso general Noronha, não podendo ter certeza da paternidade da filha de sua concubina, entrega Ângela aos cuidados de sua irmã Beatriz. Sob os cuidados daquela tia, a garota torna-se mulher e apaixona-se por Francisco, um humilde estudante.

Camilo, um romântico incurável, dá-nos o idílio dos dois jovens, com direito a troca de cartas, intrigas familiares, fugas e muitas lágrimas. Impedida de realizar seu amor, Ângela é mandada pela enérgica tia para um convento, onde travará conhecimento com Rita, a irmã de Hermenegildo.

De sua parte, a insensível Beatriz age contra a família de Francisco, levando o cunhado do moço (que era quem pagava seus estudos) à ruína e, finalmente, à morte. Desamparados, Francisco e sua irmã Joana enfrentam uma difícil situação. Mas o acaso providencia um inesperado auxílio proveniente de Ângela, agora esposa de Hermenegildo Fialho. A condição, no entanto, para tal ajuda é que Joana esconda de seu irmão a verdadeira fonte daquele benefício, fruto da venda dos tais brilhantes referidos no começo do livro.

Não há nada de surpreendente ou extraordinário nesse novelão camiliano. O estilo passional do autor está em seu natural, desprezando o uso de muitos artifícios literários como aqueles empregados em A Queda dum Anjo ou Coração, Cabeça e Estômago, note-se, obras de outra natureza. O livro está longe de ser medíocre (jamais o seria vindo de Camilo), mas não ultrapassa muito o limite do entretenimento que, para quem como eu já leu uma infinidade de histórias românticas, não provoca maiores impressões.

Não pensem, contudo, que considero Os Brilhantes do Brasileiro um livro dispensável para este ou aquele público. Eu mesmo pude aproveitar bastante da experiência, ainda que não tenha sido das mais tocantes. Sei que Camilo publicou vários outros títulos nessa mesma linha melodramática. Devo ler mais alguns ainda este ano. Se serei surpreendido, é o que estamos por descobrir.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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