Cultuado pelo público adolescente, John Green
vem colecionando alguns êxitos em sua já consolidada carreira. Eu mesmo cheguei
a ver as adaptações de A Culpa É das
Estrelas e Cidades de Papel, e
ambos me agradaram, fazendo-me curioso por conhecer a escrita dos livros de
Green. O livro escolhido, Quem É Você,
Alasca? (2005), sua obra de estreia, foi mesmo uma excelente escolha.
Há na escrita de John Green um senso de humor
que me lembrava bastante o estilo de cronistas brasileiros como Antonio Prata,
especialmente por um livro seu, Estive
Pensando, coletânea que reúne textos que saíram originalmente nas páginas
da revista Capricho. A vida adolescente em suas diversas nuances é retratada
com franqueza e segurança, sem tabus ou reservas.
Embora não muito dado a essa literatura
adolescente, preciso reconhecer que John Green executa um trabalho primoroso
que, apesar de um ou outro exagero, mantém-se num ritmo agradável e inteligente.
Por mais que não me sentisse motivado/entusiasmado pelos dramas de Miles e
Alasca, não podia desconsiderar os méritos evidentes do livro enquanto obra
literária.
É um pouco complicado falar de Quem É Você, Alasca? sem dar spoiler,
mas farei o que puder. O livro possui duas partes: “Antes” e “Depois”, que
dizem respeito ao episódio mais crucial do romance (que não vou revelar aqui,
obviamente). Os capítulos, todos eles nomeados pelo número de dias que
antecederam/sucederam o tal episódio, incitam a curiosidade do leitor,
principalmente os da primeira parte, quando ainda ignoramos o acontecimento
máximo do livro.
Miles é um adolescente que, na tentativa de
escapar de sua vida medíocre na Flórida, decide entrar para Culver Creek,
respeitado colégio interno do Alabama. Fissurado por últimas palavras de
pessoas famosas, Miles anseia descobrir o “Grande Talvez” de que falou o grande
Rabelais em seus momentos finais.
Em Culver Creek, Miles passará por diversas
experiências que moldarão paulatinamente sua personalidade. As amizades de Chip
Martin (o Coronel) e Takumi, como também os amores de Lara ou a influência de
grandes professores como o Sr. Hyde, serão fatores definitivos em sua formação
pessoal. Mas, entre todos eles, nenhum seria mais crucial que a intrigante
figura de Alasca Young.
Mary Young, ou simplesmente Alasca, como passara
a ser chamada desde os sete anos, fascina nosso Miles de todas as formas possíveis:
seja por sua estonteante beleza, por sua inteligência natural, pelo modo seguro
como fala, por suas ideias feministas ou mesmo por suas constantes mudanças de
humor. Essa garota inspiradora, contudo, parece amar o namorado, Jake, sempre
referido como um cara igualmente excepcional.
Um acontecimento inesperado, porém, acaba
mudando o curso e até mesmo o ritmo do livro. O caso é que Alasca Young,
impressionada com determinada passagem de um livro de Gabriel García Marquez,
tentará a todo custo descobrir uma saída para o labirinto mencionado pelo
personagem de O General em seu Labirinto.
Essa saída será fundamental na decisão de Miles pela busca do seu “Grande Talvez”.
O romance de John Green, desconsiderando-se
certos exageros que assentam melhor ao cinema, explora o universo adolescente
com propriedade, mostrando os vícios e inseguranças dos jovens, além de trazer à
tona problemáticas de sempre, como aceitação, iniciação sexual e relações
interpessoais.
Apesar da atmosfera fúnebre que paira por toda a
segunda parte do livro, a mensagem que prevalece é de otimismo e esperança. O
romance ainda abre lacunas para diversas reflexões interessantes sobre sentido
da vida, religião, amor e morte. Tivesse-o lido em minha adolescência,
certamente não teria me identificado com Miles e seus amigos, mas penso que, de
modo geral, é uma leitura válida e recomendável para os jovens de hoje.
Avaliação: ★★★★
Daniel Coutinho
***
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