Tencionando sair da minha zona de conforto, decidi
encarar pela primeira vez uma obra da literatura nigeriana. O livro escolhido, As Alegrias da Maternidade (1979), de
Buchi Emecheta, não me empolgou da forma como gostaria, mas trouxe-me uma
experiência inegavelmente curiosa por me apresentar costumes e hábitos tão
diferentes dos nossos.
Nosso imaginário automaticamente associa o
continente africano à extrema pobreza. O livro de Buchi Emecheta reitera esta
má impressão, apresentando-nos uma história de miséria e sofrimento. Talvez
fosse melhor ter procurado uma obra menos infeliz quanto aos acontecimentos
narrados. Estou aceitando sugestões, pois não quero crer que todos os africanos
são uns pobres sofredores.
Nnu Ego é a filha principal do chefe Nwokocha Agbadi,
pois nascera de sua amante mais querida, a bela e voluntariosa Ona. Após
casar-se com Amatokwu, sente-se infeliz por não conseguir gerar filhos, o que
leva seu marido a procurar outra esposa. Menosprezada e maltratada em seu
próprio lar, Nnu Ego volta para a cabana de seu pai, onde todos acreditam que
sua infertilidade deve-se à escrava que fora sacrificada para ser enterrada
junto à esposa mais velha de Agbadi.
Algum tempo depois, Agbadi contrata um novo
casamento para sua filha, entregando-a a Nnaife, filho mais moço da família Owulum,
que residia em Lagos (então capital da Nigéria), onde trabalhava como lavadeiro
para uma família inglesa. Mesmo não aprovando o escolhido de seu pai, Nnu Ego alimenta
um sentimento de gratidão por Nnaife torná-la mãe. Cada nova gravidez de Nnu Ego
constitui novos desafios para o casal, que deverá lidar com uma série de
dificuldades e imprevistos ao longo dos anos para assegurar o sustento e
educação dos filhos.
As
Alegrias da Maternidade foi uma leitura bastante incômoda, pois o
choque de cultura perturbou-me em vários momentos. A cena do sacrifício da
escrava logo nos capítulos iniciais causou-me profunda indignação. O tratamento
dado às mulheres, rebaixando-as à qualidade de “máquinas para procriar”, é
outro fator difícil de absorver. O despotismo dos colonizadores ingleses,
finalmente, completa o quadro de injustiças denunciadas no livro.
Comparar Buchi Emecheta com Lima Barreto, a meu
ver, seria depreciá-la enquanto romancista, mas não posso negar que algumas
passagens de seu livro evocavam-me o autor de Clara dos Anjos, especialmente quando percebia a intenção militante
preponderando sobre a intenção artística. É bem verdade que seu texto, de
linguagem simples e desataviada, não revela qualidades notáveis, limitando-se a
entregar um enredo limpo, seco e sobretudo áspero.
Como já antecipei ao princípio desta resenha,
livros desta classe não costumam me empolgar, mas, uma vez que a ideia era sair
da tal zona de conforto, penso que o objetivo não se perdeu.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
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