quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

As Alegrias da Maternidade (The Joys of Motherhood), de Buchi Emecheta - RESENHA #122

Tencionando sair da minha zona de conforto, decidi encarar pela primeira vez uma obra da literatura nigeriana. O livro escolhido, As Alegrias da Maternidade (1979), de Buchi Emecheta, não me empolgou da forma como gostaria, mas trouxe-me uma experiência inegavelmente curiosa por me apresentar costumes e hábitos tão diferentes dos nossos.

Nosso imaginário automaticamente associa o continente africano à extrema pobreza. O livro de Buchi Emecheta reitera esta má impressão, apresentando-nos uma história de miséria e sofrimento. Talvez fosse melhor ter procurado uma obra menos infeliz quanto aos acontecimentos narrados. Estou aceitando sugestões, pois não quero crer que todos os africanos são uns pobres sofredores.

Nnu Ego é a filha principal do chefe Nwokocha Agbadi, pois nascera de sua amante mais querida, a bela e voluntariosa Ona. Após casar-se com Amatokwu, sente-se infeliz por não conseguir gerar filhos, o que leva seu marido a procurar outra esposa. Menosprezada e maltratada em seu próprio lar, Nnu Ego volta para a cabana de seu pai, onde todos acreditam que sua infertilidade deve-se à escrava que fora sacrificada para ser enterrada junto à esposa mais velha de Agbadi.

Algum tempo depois, Agbadi contrata um novo casamento para sua filha, entregando-a a Nnaife, filho mais moço da família Owulum, que residia em Lagos (então capital da Nigéria), onde trabalhava como lavadeiro para uma família inglesa. Mesmo não aprovando o escolhido de seu pai, Nnu Ego alimenta um sentimento de gratidão por Nnaife torná-la mãe. Cada nova gravidez de Nnu Ego constitui novos desafios para o casal, que deverá lidar com uma série de dificuldades e imprevistos ao longo dos anos para assegurar o sustento e educação dos filhos.

As Alegrias da Maternidade foi uma leitura bastante incômoda, pois o choque de cultura perturbou-me em vários momentos. A cena do sacrifício da escrava logo nos capítulos iniciais causou-me profunda indignação. O tratamento dado às mulheres, rebaixando-as à qualidade de “máquinas para procriar”, é outro fator difícil de absorver. O despotismo dos colonizadores ingleses, finalmente, completa o quadro de injustiças denunciadas no livro.

Comparar Buchi Emecheta com Lima Barreto, a meu ver, seria depreciá-la enquanto romancista, mas não posso negar que algumas passagens de seu livro evocavam-me o autor de Clara dos Anjos, especialmente quando percebia a intenção militante preponderando sobre a intenção artística. É bem verdade que seu texto, de linguagem simples e desataviada, não revela qualidades notáveis, limitando-se a entregar um enredo limpo, seco e sobretudo áspero.

Como já antecipei ao princípio desta resenha, livros desta classe não costumam me empolgar, mas, uma vez que a ideia era sair da tal zona de conforto, penso que o objetivo não se perdeu.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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