Como deu muito certo ler algo mais de Stacpoole,
utilizei a mesma estratégia, desta vez retornando a uma autora descoberta em
2017: a italiana Francesca Lenardon Pilosio ou simplesmente Franca Lenardon.
Quando li Uma Mulher ano passado,
tive certeza que não poderia parar por ali com tão subestimada autora. A obra
escolhida foi outra publicação da Saraiva, mas pertencente à “Coleção Rosa”,
voltada especialmente para o público feminino. Trata-se de Casamento de Amor (1944) que, não obstante ser obra mais simples,
possui as mesmas qualidades que me seduziram na obra anterior.
A escrita da senhora Lenardon é de uma fluidez
tão correntia que, sem perceber, você já tem lido mais páginas do que
planejava. Foi assim com Uma Mulher
(lido em 2 dias) e com Casamento de Amor
(lido em 3 dias). Esse ritmo não se deve exclusivamente à simplicidade do
texto. Já li romances de escrita mesmo primária muito lentamente, porque não
instigavam meu interesse. Talvez o segredo de Lenardon esteja na forma como ela
dispõe as cenas, na beleza de suas descrições domésticas, na vivacidade dos
diálogos e na construção de tipos que ganham a simpatia do leitor. Essa
combinação proporciona uma experiência de leitura agradabilíssima!
O que pode causar aversão ao leitor
contemporâneo, sobretudo no apreciador da literatura atual, é certa ingenuidade
no estilo da autora, o que talvez tenha contribuído para seu ostracismo.
Lenardon pinta situações e criaturas que parecem habitar num mundo cor de rosa.
Mais que otimista, ela é idealista. No seu romance, por exemplo, não há vilões;
a figura mais próxima de um antagonista é o próprio herói. A narrativa é
cercada de um sentimentalismo que pode parecer piegas, mas que se fundamenta em
valores que deveriam ser mais cultivados por nós: a bondade, a caridade, a
honestidade, a integridade, etc. Mesmo sabendo que o mundo não é o que se pinta
em Casamento de Amor, não posso
evitar apaixonar-me por ele e compartilhar do sonho de Lenardon.
No romance, temos a história de Alfredo Altieri,
filho da condessa Eleonora, que deseja casá-lo, para não deixá-lo sozinho no
caso de sua morte, uma vez que Alfredo é órfão de pai. O rapaz, contudo, é um
desiludido que julga mal todas as mulheres, desinteressado pois pelo casamento.
Seu tio Carlos, temendo a extinção do sobrenome da família, já que não tivera
filhos, ameaça deixar sua herança para estranhos, no caso do sobrinho não
casar-se naquele mesmo ano. Alfredo, para quem o palácio do tio Carlos tinha um
valor sentimental, consente no casamento, não demonstrando contudo um mínimo
interesse pela possível noiva.
À condessa Eleonora é atribuída a missão da
escolha da felizarda, pois Alfredo, cujo maior interesse é conhecer os
exotismos do mundo, está de viagem marcada para a China. Pretendendo demorar-se
na viagem como de costume (até porque o itinerário de nosso viajante contempla
vários outros países orientais), Alfredo deixa uma procuração com Barni, o
advogado da família, que logo sugere à condessa a candidata ideal para seu
filho. Trata-se de Bárbara, uma bela jovem que, ficando órfã muito cedo, fora
criada num colégio de freiras.
Bárbara é uma jovem que, mesmo tendo passado a
maior parte de sua vida reclusa, possui considerável instrução, além de uma poderosa
capacidade intuitiva das situações. Mesmo julgando a proposta da condessa um
tanto questionável, aceita-a por confiança em Barni, seu tutor, a quem trata
por padrinho, além de sentir-se atraída pela ideia do casamento com o jovem da
foto que lhe é apresentada. Assim, efetua-se aquele incomum casamento, sem a
presença do noivo.
Bárbara, embora fascinada com sua nova casa e
aquela nova mãe, lamenta a demora do esposo, que não manifesta um interesse
legítimo por ela nem mesmo por correspondência. Casualmente, acaba ouvindo uma
conversa entre a sogra e Barni, pela qual descobre a verdadeira razão de seu
casamento. Por esse tempo, a condessa adoece gravemente e acaba falecendo. A
baronesa Maria, irmã de Eleonora, que estava presente desde o casamento de
Bárbara, decide fazer companhia à jovem até o regresso de Alfredo. A jovem
esposa, porém, está decidida a deixar a casa de seu marido e não mais esperar
por ele.
Maria e Barni ficam impressionados com a decisão
de Bárbara, mas a verdade é que ela tem um plano. Bárbara não acredita que
Alfredo possa amá-la por imposição. Ele precisaria conhecê-la espontaneamente,
sem sentir-se obrigado pelo casamento, para então interessar-se por ela
legitimamente. Para tanto, ela precisa de uma nova identidade, para ser a mulher
que Alfredo encontrará depois de sentir-se desprezado pela esposa. O plano a
todos parece muito arriscado, mas, para Bárbara, é a única possibilidade de ter
um casamento de amor.
Casamento
de Amor é impregnado dessa encantadora atmosfera de conto de fadas.
É um livro que, embora tenha me agradado bastante, preferiria ter lido aos
quatorze anos, idade na qual estamos mais propensos a sonhar com um mundo
ideal, em que todas as pessoas são boas e dignas de uma felicidade para a qual
não existem limites.
Avaliação: ★★★★
Daniel Coutinho
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