domingo, 13 de setembro de 2020

Casamento e Mortalha no Céu se Talha, de Júlio César Leal - RESENHA #145

Júlio César Leal (1837-1897) foi um prolífico escritor baiano, mais conhecido por ter sido um dos primeiros divulgadores do Espiritismo no Brasil. Enquanto literato, dedicou-se principalmente ao teatro, mas cultivou outros gêneros como a poesia e o romance. Casamento e Mortalha no Céu se Talha (1876) pertence a esse último.

É um livrinho bobinho, sem dúvida, escrito num estilo piegas e sentimental, superado há muito pelos nossos melhores prosadores românticos, como José de Alencar. No entanto, trata-se de uma novelinha de ritmo formidável, dessas que se leem rapidamente e com relativo interesse.

Se desconsiderarmos exageros do tipo: amores à primeira vista, mocinhas sequestradas e vilões facinorosos, teremos uma história quase ótima. Mas como esses clichês românticos eram garantia de público, compreende-se melhor o estilo adotado por um ficcionista que buscava tornar-se conhecido.

Paulo de Oliveira é o “mendigo do Lavradio”. Após sofrer um desmaio, o pobre homem é logo socorrido pelo generoso Carlos Augusto, que, além de conduzi-lo de volta para casa, presta assistência ao enfermo durante toda a noite. Nesse intervalo de tempo, Carlos enamora-se de Celina, a filha do mendigo.

A jovem Celina, por sua vez, encanta-se pelo salvador de seu pai, e vibra de felicidade ao ouvir Carlos pedir sua mão. Mas o experiente Paulo, sabendo ser aquele moço filho de um visconde, desacredita que este possa dar seu consentimento à união dos jovens. Com efeito, o pai de Carlos nega-se terminantemente à aprovação de um casamento tão desigual e convence o filho a partir para a Europa.

Entretanto, novas circunstâncias conduzirão a família do mendigo do Lavradio a Portugal, onde o encontro com Carlos será inevitável. Mas a bela Celina acaba acendendo paixões em outros dois personagens: o velho José Basílio, um solteirão milionário; e Leonidas, o inescrupuloso conde de Manzanares.

É por essa teia de lances amorosos que o ficcionista conduz sua trama, regada a envenenamentos, roubos, entrevistas noturnas, aparições sobrenaturais, assassinatos, dentre outros ingredientes folhetinescos.

A influência da doutrina espírita é bastante evidente no texto de Júlio César Leal. Em determinado momento, quando da explicação de uma cena sobrenatural, temos uma série de “relatos verídicos” sobre experiências que “confirmam” a vida após a morte. Mas não temos aqui, felizmente, nenhum tipo de pregação religiosa. O livro, enquanto obra visivelmente despretensiosa, limita-se a mostrar uma sequência de situações segundo um ponto de vista que não se impõe como verdade absoluta.

Casamento e Mortalha no Céu se Talha funciona mesmo como divertido passatempo para quem, como eu, aprecia a literatura brasileira dos oitocentos. É um entretenimento deveras interessante e que não exige muito tempo ou esforço. A prosa de Júlio César Leal, se não revela grandes qualidades estilísticas, ao menos entrega um texto bem cuidado e de ritmo regular, o que pra mim já é alguma coisa.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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