quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Um Estranho no Espelho (A Stranger in the Mirror), de Sidney Sheldon - RESENHA #107

A experiência que tive ano passado com A Ira dos Anjos, de Sidney Sheldon, deixou-me um tanto indisposto em relação ao autor, mas restava-me ainda aqui comigo Um Estranho no Espelho (1976), que parecia ser mais promissor.

O livro, felizmente, mostrou-se mais interessante, apesar de seus altos e baixos. O drama envolvendo Toby Temple e Jill Castle foi mesmo surpreendente em alguns momentos, além de terrivelmente pungente. Se por um lado, como de costume, buscava entreter-me com as tramas folhetinescas de Sheldon, por outro não podia deixar de impressionar-me com os dilemas vivenciados pelos protagonistas.

Eis um livro que, não fosse escrito tão ligeiramente, poderia figurar entre os melhores de Sheldon; mas que, mesmo carregado de imperfeições, alcança algum destaque dentre outros best-sellers do norte-americano.

Toby Temple, já na infância, revelava talento para o humor. A mãe do garoto acreditava piamente que o filho estivesse predestinado a ser um grande comediante. Após engravidar uma garota, Toby decide fugir para Hollywood, na intenção de, além de livrar-se do compromisso, tentar a carreira artística. Mas uma série de dificuldades embaraçam seus planos.

Enquanto Toby batalha pelo sucesso, acompanhamos, desde o nascimento, a difícil trajetória de outra personagem: Josephine Czinski. Esta, que escapara à morte por um milagre, órfã de pai, vive sozinha com sua mãe que, após o falecimento do marido, tornara-se uma fanática religiosa. A mãe de Josephine trabalha como costureira para muitas famílias ricas, o que permite o contato da filha com pessoas da alta sociedade. Dentre essas relações, Josephine acaba se apaixonando por David Kenyon, mas este é compelido pela família a casar-se com uma garota de sua classe. Desiludida, Josephine assume a identidade de Jill Castle e também parte para Hollywood, aspirando por realizar o antigo sonho de chegar ao estrelato.

A essa altura, Toby Temple já é uma estrela consagrada. É a vez, portanto, de Jill Castle, tal como Toby, submeter-se ao sacrifício da própria dignidade para chegar ao sucesso. Os dois seguem pois infelizes: ela, por sentir-se desvalorizada e diminuída pelos grandes produtores; ele, porque, embora festejado e bajulado por meio mundo de adoradores, experimenta um inevitável sentimento de solidão. Até que seus destinos finalmente se cruzam.

Incomodou-me estar diante de um contexto que certamente merecia uma atenção mais acurada por parte do autor. O drama de Toby Temple e Jill Castle renderia ao livro páginas menos supérfluas do que as que nos são entregues. Por vezes o romancista nos brinda com passagens mais atenciosas, permitindo-nos refletir os conflitos da trama, mas certas escolhas deliberadas e um desfecho apressado prejudicaram o conjunto da obra.

Um Estranho no Espelho possui assim um ritmo bastante desigual. A atmosfera de suspense para a qual o autor apela nos capítulos finais confirma sua incerteza perante os planos que pretendia dar ao livro que, não poucas vezes, parece ir se construindo de improvisos, passando por episódios isolados e deixando lacunas aqui e ali. É como um grande rascunho ao qual faltou um melhor trabalho de edição.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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2 comentários:

  1. Honestamente gostei desse livro. Posso concordar com sua nota, embora ache esse bem mais divertido do que A Irá dos Anjos.

    O último que li, O reverso da medalha, também se mostrou interessante.
    Um abraço.

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    Respostas
    1. Sim, bem melhor que "A Ira dos Anjos", mas ainda prefiro "A Outra Face" e "O Reverso da Medalha", que é possivelmente o melhor livro dele. Acho que vou parando com Sheldon por aqui, mas tenho uma curiosidadezinha por "O Outro Lado da Meia-Noite" rs. Quem sabe?
      Grande abraço!

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