Assim que li a premissa de Leve-me com Você (2014), da premiada escritora norte-americana
Catherine Ryan Hyde, fiquei tentado a ler o livro. O capricho editorial que a
DarkSide deu à edição brasileira (como de costume) terminou de me convencer. O
romance, porém, esteve muito longe de ser o que eu supunha que fosse.
Fiquei animado com a ideia de ler uma história
contemporânea sobre um homem que, de luto pela morte do filho, pretendia
espalhar as cinzas do garoto numa viagem intimista e poética por parques
ecológicos. Imaginava apreciar esse simpático tema do contato do homem com a
natureza, entrevendo descrições exuberantes como as de Stacpoole em A Lagoa Azul. Pobre criança ingênua rs!
É bem verdade que não se deve esperar muito de
um young adult, mas a gente que tem uns
aninhos a mais sempre exige um bocado rs. Li as primeiras cem páginas do romance
de Catherine com relativo entusiasmo, deixando-me
levar pelo simpático August em seu motor home. Mas, depois de um tempo, a
condução da autora me pareceu um tanto problemática, arrastada e prolixa. A
história ia ficando meio dispersa, sem direção, como um carro desgovernado que
segue observando tudo o que vê pela frente, maçando os passageiros.
Catherine Ryan Hyde é hoje mais ou menos o que
fora Maria José Dupré aqui no Brasil em meados do século passado: aquela tia
que se propõe a contar uma história minuciosamente, sem a mínima pressa,
espreitando as conversas alheias. Sua linguagem desataviada e pueril peca
principalmente pelos excessos e repetições. Eram tantos diálogos transcritos
que, às vezes, esquecia-me de que havia um narrador por ali, à espreita, com
sua timidez disfarçada.
Sobre as repetições, tenho ainda fresco na
memória o despertar de August no começo de quase todos os capítulos da terceira
parte. “August acordou devagar, como se viajasse por um véu de água translúcida.”
(pág. 239); “August abriu os olhos e se surpreendeu ao ver o forro vermelho do
teto do trailer.” (pág. 246); “August abriu os olhos. Olhou pela janela do
trailer.” (pág. 259); “August acordou assustado no banco do passageiro do
trailer.” (pág. 286); “August acordou de repente depois de uns quarenta e cinco
minutos de sono.” (pág. 297); “August acordou de um cochilo no sofá e percebeu
que o trailer estava parado.” (pág. 310); “August abriu os olhos, depois as
persianas sobre a cama.” (pág. 321). Lembrou-me as redações de alguns ex-alunos
que sempre começavam com “É de conhecimento de todos...”.
Sobre o manejo da narrativa – aquela história do
carro desgovernado –, primeiro abracei a temática do pai de luto pela morte do
filho de dezenove anos; depois, fui tolerante com a mudança de foco para o
alcoolismo, já que a mãe do garoto havia bebido no dia do acidente; fui
perdendo a paciência com a crise de August ao tentar curar seus problemas
através dos filhos de Wes; temos então a distrofia muscular distal (embora faça
sentido, pela reviravolta que ocorre na história); finalmente, a temática do
montanhismo quase me impede de terminar o livro.
Devo ter passado a impressão de que odiei a
leitura de Leve-me com Você, mas não
é bem por aí. Mesmo não indo além de um passatempo para ser esquecido nas próximas
semanas, o livro é praticamente salvo pela sensibilidade de August, o pai que
todo mundo queria ter. Fico pensando se existiria no mundo um homem tão
maravilhoso quanto ele. Provavelmente não rs. Só assim fica explicada a
reaproximação tão automática entre ele, Seth e Henry depois de oito anos... Se
estou sendo irônico? Talvez.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
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