Peguei Noite
na Taverna (1855) para ler com grande entusiasmo, com aquele sentimento de
“finalmente!” e muita boa vontade. Não esperava do livrinho uma grande
obra-prima, uma leitura arrebatadora ou grandiosa; não o superestimava.
Esperava, sim, uma leitura agradável, inteligente e curiosa. Curioso é esse
livrinho ser tão cultuado no panorama de nossas letras! Sinceramente, eu o
achei fraquíssimo; e não pensem que foi por ter criado grandes expectativas; o
caso é que não gostei mesmo.
Álvares de Azevedo pode ter sido um grande poeta,
não o nego. Seu mérito maior foi mesmo o de ter deixado considerável obra,
morrendo aos vinte e um anos incompletos. Pode parecer injusto exigir
excelência de um prosador que mal saiu da crisálida. Não é bem isso o que estou
fazendo! O que não entendo é todo esse apuro atribuído à novelinha (se é que
pode ser classificada assim) do poeta da Lira
dos Vinte Anos.
O único interesse que vi no livro, sinceramente,
foi esse artifício de unificar uma coletânea de contos mórbidos, estabelecendo
um fio condutor que perpassa toda a obra, fazendo ainda com que, ao final, este
mesmo artifício concentre uma narrativa própria. Tal recurso foi imitado
diversas vezes ainda no século XIX, compreendendo influência que resiste até
hoje. Em 1862, Franklin Távora publicava A Trindade Maldita, obedecendo à risca o modelo de Álvares de Azevedo. Em
nosso tempo, Pedro Bandeira, com Descanse
em Paz, meu Amor... (1996?) aproveitava o mesmo modelo, apenas adequando-o
ao gosto do seu público infantojuvenil. É incrível como tenha gostado dessas
duas obras citadas bem mais que da fonte que as inspirou!
Li recentemente também Noites Lúgubres, de José Cadalso, obra que, na hipótese de Brito
Broca, teria inspirado Noite na Taverna.
A meu ver, não descarto a possibilidade que Álvares de Azevedo tenha lido a
narrativa espanhola e, portanto, sofrido alguma influência; mas afora a
morbidez das cenas, não reconheço o reflexo de uma sobre a outra. Fica muito
mais evidente a influência de Byron e sobretudo Hoffmann, ambos referidos no
próprio texto.
Li por essa edição (Garnier, 1994), ilustrada por Di Cavalcanti, com introdução de Edgard Cavalheiro. |
Os contos de Noite
na Taverna (referindo-me apenas às histórias contadas pelos cinco amigos
bêbados) beiram o ridículo. O subtítulo da obra, “contos fantásticos”, foi
justamente descartado das edições atuais, uma vez que à exceção do conto de
Solfieri (onde o fantástico aparece vagamente), os demais nada apresentam de
fantasioso. Todos os contos rodeiam a mesma temática: o amor malogrado pela
tragédia. As histórias são contadas numa linguagem que oscila entre a prosa e a
poesia, tendo mais efeito quando pendidas para esta última. O prosador Álvares
de Azevedo é um simples condutor de marionetes. Suas personagens são
excessivamente artificiais e mal construídas. O enredo só chama atenção pelo
exagero e o tratamento (malcuidado) de temas delicados como antropofagia e
incesto. A escrita, enfim, não cativa, não entretém e não agrada (a mim!). A
culminância do ridículo está no conto de Bertram, que certamente é o mais fraco
do livro, chegando a ser mais rocambolesco que Ponson du Terrail rs.
Não deixo, contudo, de reconhecer a importância
de Noite na Taverna enquanto peça de
construção da nossa prosa ultrarromântica. Talvez o autor nem a pretendesse
publicar, consciente da imaturidade ficcional da mesma. Álvares de Azevedo não
teve tempo para trabalhar o prosador imberbe que era. Em outras circunstâncias,
poderia ter avultado mais firmemente na história de nossa ficção.
Avaliação: ★★
Daniel Coutinho
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