Jane Austen
era daquelas autoras sobre as quais eu dizia algo do tipo: “Nunca li, sempre te
amei”. Sempre que ouvia comentários a respeito do estilo de suas obras,
imaginava fortemente que seria impossível que eu não gostasse, mas, agora que
finalmente li Razão e Sensibilidade
(1811), já não estou tão seguro assim de meu amor às cegas pela romancista
inglesa.
O estilo
Jane Austen de ser não fugiu muito à ideia que eu fazia de suas obras. Quem
tiver lido dois ou três romances ingleses do século XIX já estará familiarizado
com aquela galeria de lordes e ladies tão comum aos escritores daquela época. O
que me desagradou, porém, nesta primeira experiência com a autora foi a
caracterização, como também a condução, dos personagens centrais.
Avaliando
separadamente as três partes em que se divide a história, considero a primeira
muito boa, a segunda mediana e a terceira bastante questionável. Tive mesmo a
impressão de que o livro despencava em interesse à medida que eu avançava na
leitura.
O enredo é
focado principalmente nas irmãs Dashwood: Elinor e Marianne. Há uma terceira
irmã, Margaret, a caçula, cuja participação não reflete desdobramentos
relevantes para a trama. Após o falecimento do pai, elas vão viver com a mãe
num chalé de um primo da família, pois a parte mais significativa da herança
acaba sendo destinada a John Dashwood, o irmão mais velho, filho único do
primeiro casamento de seu pai.
Elinor e
Marianne diferem muito uma da outra. A primeira, na condição de irmã mais
velha, é muito ponderada e uma autêntica pensadora analítica. Marianne, por sua
vez, é mais ardente em seus sentimentos, expressando-se e agindo conforme suas
sensações imediatas, o que reflete diretamente em sua impulsividade.
Conforme ia
conhecendo melhor as duas irmãs, sentia-me mais inclinado pela vivacidade de
Marianne, embora não deixasse de apreciar a moderação nas atitudes de Elinor.
Mas esta é tão exigente consigo mesma, que sua mania de perfeição acaba soando
um tanto irritante. Por outro lado, Marianne acaba sofrendo mais por ser mais
sensível aos impasses do coração.
Quando
Edward Ferrars demonstra interesse por Elinor, esta vislumbra uma possibilidade
de casamento, mas seus planos são frustrados quando Lucy Steele, “por
casualidade”, revela-se noiva de Edward há quatro anos. Aqui começa minha birra
com Jane Austen, pois a razão de Elinor, mesmo que justificada pelo sexismo da
época, causou-me alguma irritação.
Ao invés de
censurar a atitude de Edward que, mesmo comprometido, dedicou-lhe sugestivas
atenções, Elinor condena Lucy, levando em conta sua disparidade de instrução e
posição social em relação ao noivo. Elinor chega a lamentar a posição de
Edward, acreditando que ele certamente desejaria livrar-se daquele compromisso
com uma mulher tão inferior em qualidades. A Dashwood mais moderada acaba
decepcionando por seu preconceito e presunção.
Marianne, de
sua parte, é cortejada por Willoughby, um jovem de vida extravagante que acaba
optando por um casamento mais vantajoso para livrar-se de suas dívidas.
Diferente de Elinor, a Dashwood do meio franqueia seu sofrimento e todos
testemunham sua dor. Por mais triste que pareça sua situação, a postura que
assume a partir daí ao menos é livre de julgamentos e dissimulações.
Além das
desilusões das irmãs Dashwood, a romancista diverte o leitor com sua galeria de
tipos: a mexeriqueira senhora Jennings, o ensimesmado coronel Brandon, o expansivo
John Middleton e sua esposa apática, o curioso casal Palmer, dentre outras
figuras que acabam ressignificando a leitura de Razão e Sensibilidade.
Foi válido,
sem dúvida, conhecer o universo Jane Austen de que tanto ouvia falar. A crítica
social da autora, amparada por um estilo irônico e bem-humorado, comprova que
sua obra está longe de ser um romance de banca que termina em casamento. Mas
muitas escolhas (sobretudo para o desfecho) deste primeiro trabalho publicado
impediram-me de integrar o fã-clube da autora. Mas apelaremos para Orgulho e Preconceito numa próxima
oportunidade rs.
Avaliação: ★★★
Daniel Coutinho
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Caindo aqui de paraquedas, mas gostei de suas considerações sobre este e outros livros, e ler suas impressões a respeito de Orgulho e preconceito muito me interessaria. Ótimo trabalho. Abraços
ResponderExcluirOi! Fico feliz que esteja gostando do conteúdo do blog. Devo ler "Orgulho e Preconceito" próximo ano. Espero gostar mais.
ExcluirUm abraço ;)