quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Carlota Ângela, de Camilo Castelo Branco - RESENHA #190

Tenho muita admiração pela obra de Camilo Castelo Branco, mas numa bibliografia tão vasta como a do autor do Amor de Perdição é natural que nos deparemos com trabalhos menos inspirados, especialmente aqueles produzidos nos primeiros anos de sua trajetória ficcional.

Carlota Ângela (1858) é o romance menos interessante de Camilo dos que li até então. Lembrou-me bastante As Tardes de um Pintor, de Teixeira e Sousa, com aquela aura de século XVIII, sendo o romance brasileiro superior em minha humilde opinião.

Típico exemplo de literatura romântica em língua portuguesa, Carlota Ângela conta a história da protagonista que dá título ao livro, valendo-se do clássico modelo do casal separado pelas diferenças sociais. Carlota e Francisco desejam casar-se, mas a baixa posição do rapaz, que é tenente da Marinha, é motivo suficiente para que Norberto, o pai da moça, seja contra a união dos jovens.

Prevendo a negativa paterna, Carlota planeja recorrer à Justiça para unir-se ao amado, mas Norberto se adianta à filha, apoiando-se em Sampaio, seu cunhado, que obtém a remoção de Francisco para o Brasil, ação esta que lhe garante uns bons trocados saídos da bolsa do pouco astuto pai de Carlota.

Longe de seu amado, Carlota decide encerrar-se num convento, o mesmo de sua tia Rufina, que será sua aliada a partir daí. A ideia da moça é resguardar-se até o retorno de Francisco; mas Norberto, que deseja casar a filha com algum negociante rico, recorre mais uma vez à astúcia de seu cunhado, para juntos urdirem calúnias capazes de separar os apaixonados em definitivo.

O romance de Camilo segue nesse modelo já tão desgastado mesmo para sua época. Contudo, devemos considerar que foram esses primeiros trabalhos ficcionais do decênio de cinquenta que deram a Camilo a perícia necessária para compor grandes obras que viriam a partir da década seguinte.

Em Carlota Ângela o que mais fez falta foi aquele narrador buliçoso e intrometido que aqui ainda está engatinhando. De fato, as narrativas de Camilo valem mais pelos artifícios e recursos estilísticos que pelas tramas fabulosas que nunca foram o seu forte. No mais, Carlota Ângela não é um livro para se conhecer ou gostar da novelística camiliana; antes, é obra útil para quem deseja se aventurar no estudo e análise da ficção do grande escritor português.

Avaliação: ★★

Daniel Coutinho

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