sexta-feira, 19 de junho de 2020

Razão e Sensibilidade (Sense and Sensibility), de Jane Austen - RESENHA #134 (contém alguns spoilers)

Jane Austen era daquelas autoras sobre as quais eu dizia algo do tipo: “Nunca li, sempre te amei”. Sempre que ouvia comentários a respeito do estilo de suas obras, imaginava fortemente que seria impossível que eu não gostasse, mas, agora que finalmente li Razão e Sensibilidade (1811), já não estou tão seguro assim de meu amor às cegas pela romancista inglesa.

O estilo Jane Austen de ser não fugiu muito à ideia que eu fazia de suas obras. Quem tiver lido dois ou três romances ingleses do século XIX já estará familiarizado com aquela galeria de lordes e ladies tão comum aos escritores daquela época. O que me desagradou, porém, nesta primeira experiência com a autora foi a caracterização, como também a condução, dos personagens centrais.

Avaliando separadamente as três partes em que se divide a história, considero a primeira muito boa, a segunda mediana e a terceira bastante questionável. Tive mesmo a impressão de que o livro despencava em interesse à medida que eu avançava na leitura.

O enredo é focado principalmente nas irmãs Dashwood: Elinor e Marianne. Há uma terceira irmã, Margaret, a caçula, cuja participação não reflete desdobramentos relevantes para a trama. Após o falecimento do pai, elas vão viver com a mãe num chalé de um primo da família, pois a parte mais significativa da herança acaba sendo destinada a John Dashwood, o irmão mais velho, filho único do primeiro casamento de seu pai.

Elinor e Marianne diferem muito uma da outra. A primeira, na condição de irmã mais velha, é muito ponderada e uma autêntica pensadora analítica. Marianne, por sua vez, é mais ardente em seus sentimentos, expressando-se e agindo conforme suas sensações imediatas, o que reflete diretamente em sua impulsividade.

Conforme ia conhecendo melhor as duas irmãs, sentia-me mais inclinado pela vivacidade de Marianne, embora não deixasse de apreciar a moderação nas atitudes de Elinor. Mas esta é tão exigente consigo mesma, que sua mania de perfeição acaba soando um tanto irritante. Por outro lado, Marianne acaba sofrendo mais por ser mais sensível aos impasses do coração.

Quando Edward Ferrars demonstra interesse por Elinor, esta vislumbra uma possibilidade de casamento, mas seus planos são frustrados quando Lucy Steele, “por casualidade”, revela-se noiva de Edward há quatro anos. Aqui começa minha birra com Jane Austen, pois a razão de Elinor, mesmo que justificada pelo sexismo da época, causou-me alguma irritação.

Ao invés de censurar a atitude de Edward que, mesmo comprometido, dedicou-lhe sugestivas atenções, Elinor condena Lucy, levando em conta sua disparidade de instrução e posição social em relação ao noivo. Elinor chega a lamentar a posição de Edward, acreditando que ele certamente desejaria livrar-se daquele compromisso com uma mulher tão inferior em qualidades. A Dashwood mais moderada acaba decepcionando por seu preconceito e presunção.

Marianne, de sua parte, é cortejada por Willoughby, um jovem de vida extravagante que acaba optando por um casamento mais vantajoso para livrar-se de suas dívidas. Diferente de Elinor, a Dashwood do meio franqueia seu sofrimento e todos testemunham sua dor. Por mais triste que pareça sua situação, a postura que assume a partir daí ao menos é livre de julgamentos e dissimulações.

Além das desilusões das irmãs Dashwood, a romancista diverte o leitor com sua galeria de tipos: a mexeriqueira senhora Jennings, o ensimesmado coronel Brandon, o expansivo John Middleton e sua esposa apática, o curioso casal Palmer, dentre outras figuras que acabam ressignificando a leitura de Razão e Sensibilidade.

Foi válido, sem dúvida, conhecer o universo Jane Austen de que tanto ouvia falar. A crítica social da autora, amparada por um estilo irônico e bem-humorado, comprova que sua obra está longe de ser um romance de banca que termina em casamento. Mas muitas escolhas (sobretudo para o desfecho) deste primeiro trabalho publicado impediram-me de integrar o fã-clube da autora. Mas apelaremos para Orgulho e Preconceito numa próxima oportunidade rs.

Avaliação: ★★★

Daniel Coutinho

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2 comentários:

  1. Caindo aqui de paraquedas, mas gostei de suas considerações sobre este e outros livros, e ler suas impressões a respeito de Orgulho e preconceito muito me interessaria. Ótimo trabalho. Abraços

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    1. Oi! Fico feliz que esteja gostando do conteúdo do blog. Devo ler "Orgulho e Preconceito" próximo ano. Espero gostar mais.
      Um abraço ;)

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